Para alegria geral dos aliados, o senador Jaques Wagner (PT) finalmente começou a se movimentar, assumindo a coordenação da própria campanha ao governo. Os novos passos ele deu ainda no final do ano passado, mas já foram o suficiente para funcionar como uma injeção de ânimo no conjunto de partidos que integram a base governista e contam com a eleição do líder petista como forma de se manter no poder e até ampliá-lo na gestão estadual. Então, a crítica que se dirigia a Wagner era a de que parecia desmotivado, o que, aos olhos da maioria, não contribuía para tonificar o clima geral da campanha.

Sobretudo, porque, enquanto isso, seu grande adversário, ACM Neto (DEM), permanecia ‘correndo trecho’ no interior, cumprindo uma agenda de autêntico candidato oposicionista, a qual só foi interrompida pela tragédia das chuvas do último dezembro. Fazendo o estilo low profile, o senador acabava passando a ideia, pelo menos para os correligionários, de que avaliava a campanha como um jogo de menor esforço, para a qual seu principal trunfo seria o apoio do ex-presidente Lula, que, de fato, nos últimos pleitos, teve papel predominante na eleição dos candidatos petistas na Bahia.

Ocorre que o quadro mudou e que, embora as pesquisas indiquem que o petista, como em passado recente, seja o candidato a presidente preferido dos baianos, ninguém sabe ainda qual será o seu tamanho na campanha nem é possível mensurar se ele conseguirá repetir o feito das últimas eleições, de garantir a vitória de aliados pelo simples fato de vinculá-los a ele. Pelo contrário, pelo rumo da prosa que se trava hoje entre governistas, Lula pode até emergir de novo como grande força agregadora de votos na Bahia em favor dos petistas, como aconteceu até agora.

Desta vez, entretanto, o cenário tem dado sinais de que pode trazer mudanças capazes de alterar as previsões mais simplistas. Primeiro, porque, apesar do favoritismo do ex-presidente, é praticamente impossível que presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Moro (Podemos) não cresçam eleitoralmente no Estado, inclusive sobre votos dele. Em segundo lugar, porque, exatamente em decorrência desse movimento, ao invés de crescer no curso da campanha, Lula pode, ao contrário, enfrentar resistências para decolar no Estado, o que repercutirá na sua reconhecida capacidade de ‘puxador’.

Em tal quadro, entregar o destino da campanha em suas mãos é mais do que temerário. Mesmo porque, as pesquisas em que ACM Neto aparece liderando as intenções de voto ao governo mostram que muito da preferência de que virou sujeito provém do fato de nunca ter governado o Estado, ou seja, de ser uma autêntica novidade, a quem se deveria dar a oportunidade de exercer o poder sem risco de dar errado, especialmente por ter forjado seu preparo no curso de dois mandatos na Prefeitura de Salvador, da qual se despediu avaliado como o melhor prefeito do país. Uma explicação para o fato de muitos dos que votarão em Lula pretenderem votar também nele. Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna