Os primeiros dias dessa semana foram marcados por inúmeras correntes que sugeriam que policiais militares iniciariam uma greve em assembleia programada para esta quarta-feira (11). Há um clima de insatisfação da categoria, frente ao congelamento de salários dos servidores públicos e outras demandas não atendidas pelo governo baiano. Contribui ainda o crescimento da onda conservadora, que reverbera com facilidade em meios militares. Porém, para além da guerra informacional, que quase gerou pânico na população, há uma constante de desinformação sobre o tema. E a culpa não é, necessariamente, da imprensa.

Sob o risco de uma paralisação da tropa, o governo remeteu um projeto de lei que não é unanimidade entre os policiais. A batalha de narrativas se intensificou ali, calcada numa oposição que, em alguns momentos, se comporta de maneira irresponsável ao insuflar um movimento paredista de policiais. Ainda assim, percebia-se certa boa vontade da maioria dos PMs em não paralisar as atividades. Afinal, ninguém tem interesse no caos gerado por uma greve como essa, e os policiais tendem a perder apoio da opinião pública. A Polícia Militar é essencial não apenas no uso ostensivo da força, mas para coibir a ação criminosa, algo, infelizmente, corriqueiro demais no dia a dia.

Nos bastidores, não era descartada a hipótese de uma greve da categoria. Tanto que foram iniciados planos de contingenciamento caso a tropa optasse por paralisar as atividades. Movimentos paredistas de policiais, considerados essenciais na manutenção do Estado, são irregulares judicialmente e qualquer governante, independente de posicionamento ideológico, atacaria esse ponto delicado da legislação. Entretanto, isso nunca foi razão para a ausência de greves no passado, inclusive em um passado bem recente para os baianos.

É nesse ponto que precisamos fazer uma discussão sobre a forma como a imprensa lida com o tema. Ainda em agosto, quando começou o burburinho sobre a possibilidade de uma greve, os veículos de comunicação mais sérios evitaram falar claramente sobre o assunto. A abordagem foi tangencial, não por questões meramente editoriais, mas também pela responsabilidade social de evitar o pânico na população. Já os grupos de WhatsApp da vida fomentaram toda e qualquer tentativa de provocar caos.

Caberia então explicar como funcionaria em caso de eventual paralisação e até um posicionamento de que havia um esforço para negociação. Aconteceu? Não. E os repórteres que tentaram apurar a matéria para desmentir os boatos foram chamados de loucos, ainda que o adjetivo não tenha sido utilizado. Em um tempo em que fake news se espalham com velocidade maior do que se poderia esperar, o esforço para tentar diminuir o alcance dela deveria ser recompensado. Se não existia perspectiva de greve, não custava esclarecer isso para a população. Fernando Duarte/Bahia Notícias