O dia do professor é comemorado nesta quinta-feira (15). Este ano, as escolas públicas e particulares da Bahia estão sem aulas presenciais por causa da pandemia do novo coronavírus. Assim, além das dificuldades que já existiam para quem trabalha com ensino, novas surgiram, como adaptação aos modelos de ensino à distância.

Desde o mês de março, quando foi publicado o primeiro decreto suspendendo aulas em todo estado, as escolas não têm recebido estudantes para aulas presenciais. Por causa disso, alternativas de ensino remoto têm sido a principal alternativa para os educadores e alunos. A Secretaria da Educação do Estado (SEC) disponibilizou roteiros de estudos para auxiliar estudantes da rede estadual.

Cerca de 980 atividades estão disponíveis no site. Porém, a internet não é uma realidade para todos os alunos. De acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 30% das casas dos baianos não têm internet, isso dá mais ou menos 1,5 milhão de casas onde as pessoas, e principalmente os estudantes, não têm acesso à rede.

Em Ruy Barbosa, cidade que fica na Chapada Diamantina, estudantes de escolas públicas têm tido aula pelo rádio. Em Salvador, aulas estão sendo transmitidas pela televisão desde o mês de junho.

Educação infantil

Com a internet sendo a principal alternativa para o ensino em meio à pandemia, a professora Letícia Gomes Montenegro conta que a rotina de trabalho mudou completamente. Sobretudo com relação ao tempo trabalhando com educação infantil. “Antes eu podia dar aula para um grupo de crianças ao mesmo tempo. Agora eu preciso atender cada uma separadamente”, conta.

“Como eu sou uma professora que não se enquadra no ensino regular, uma grande dificuldade pra mim foi que o atendimento online me obrigou a trabalhar com ensino de forma mais tradicional”, explica.

Segundo a educadora, para estudantes com necessidades especiais de ensino, geralmente portadores de transtornos que dificultam o aprendizado, ou quando as crianças apresentam algum problema emocional, o modelo tradicional não é a melhor alternativa para atendê-los. Por isso, a adaptação ao ensino à distância em meio à pandemia se torna duplamente difícil.

“Quando crianças têm déficits no processo cognitivo, ou algum problema de ordem emocional, que interfere no cognitivo, a educação à distância se torna muito limitada. O ensino não se trata apenas de jogar conteúdo para as crianças e fazer eles responderem provas”, ressalta.

Letícia é formada em Letras e mestre em Literatura. Trabalha dando aulas de reforço escolar, onde busca aplicar metodologias alternativas de ensino. Por causa da pandemia, também viu a quantidade de alunos diminuir consideravelmente. “Tudo começou no início do ano letivo, quando pais de alunos começam a procurar matrícula. Com a suspensão das aulas, muitos não se matricularam”.

Ensino fundamental

O professor na Escola Municipal Antônio Carlos Peixoto Magalhães, no município de Caetanos, sudoeste do estado, Vando Eloy Andrade, trabalha com estudantes de 11 até 15 anos de idade. A faixa etária é atendida pelo ‘Ensino Fundamental Anos Finais’.

Para Vando, os impactos causados pela pandemia se refletem em um problema anterior, que é a falta de apoio familiar na rotina dos estudantes. O educador trabalha com as turmas de sétimo ano, oitavo, e nono ano, além de turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Um total de 410 alunos.

“O estudante que já não tinha acompanhamento da família, de repente, com a suspensão das aulas por causa da pandemia, fica sem apoio de ninguém. Nem dos pais, nem dos professores, nem dos colegas”.

Com as aulas remotas, para o educador, o estudante que já era distante fica ainda mais deslocado. “Mesmo nas aulas remotas ou apostilas para auxiliar nos estudos, eu percebo que muitos estudantes não participam ou se interessam”, conta.

Além disso, “problemas de infraestrutura, tanto física quanto virtual, pouco investimento para Educação, salários baixos para os professores, acarretando numa baixa auto estima dos profissionais da rede pública de ensino”, são desafios que persistem e se intensificam com a pandemia, segundo Vando.

Técnico e Superior

O coordenador do curso de Eletromecânica no Instituto Federal da Bahia (IFBA), campus Simões Filho, e professor de disciplinas de Eletrônica no ensino técnico e superior, Luciano Almeida da Silva, também viu a rotina dele e a de colegas mudar completamente por causa da pandemia da Covid-19.

“O principal impacto da pandemia foi afetar o final do ano letivo no IFBA. Tivemos que elaborar avaliações de forma não presencial. Também foi necessário nos adaptar às plataformas digitais. Na área técnica, os laboratórios foram fechados e as disciplinas práticas suspensas”.

Luciano conta ainda que muitas dificuldades de democratização de acesso à Educação foram intensificadas com a pandemia. Atualmente, o curso de Eletromecânica tem 130 alunos matriculados na modalidade de ensino Integrada (Ensino Médio juntamente com curso técnico) e 109 alunos da modalidade subsequente (estudantes que já concluíram o ensino médio). Luciano ainda atende 30 no estudantes em disciplinas que leciona, no ensino superior.

“Nossa principal dificuldade com a pandemia é possibilitar o acesso à internet para todos os alunos, inclusive das zonas rurais. A instituição tem buscado alternativas, como emprestar tablets para estudantes que não possuem computadores em casa”, explica. Com relação à área de atuação, a falta de acesso aos laboratórios para aulas práticas também afeta o aprendizado. Mas, sobretudo, segundo Luciano, o que pesa é a falta de aulas presenciais.

“Essa falta de contato ao vivo faz muita falta, tanto para professores quanto para estudantes. Sobretudo quando o aluno não tem uma boa base educacional, geralmente oriundos de escola pública, onde, infelizmente, o ensino ainda sofre muitas deficiências “, conclui. No último dia 10 de outubro, o governador Rui Costa prorrogou a suspensão das aulas públicas e privadas em todo o estado até o dia 25 de outubro. Não há previsão de retorno às aulas presenciais. G1