Foto: Pablo Valadares/ Câmara

A reforma da Previdência é prioridade para o Palácio do Planalto e para a Câmara dos Deputados. Pelo menos é esse o discurso repetido desde que o texto foi encaminhado para o parlamento. Porém nada é prioridade no Congresso Nacional quando se há um feriado em plena quarta-feira.

Sim, o Dia do Trabalho é um momento para celebrar a falta dele para muitos integrantes do Legislativo. Tanto que a próxima reunião da comissão especial para discutir a reforma acontece apenas no dia 7 de maio.

O caso da comissão especial chega a ser emblemático por uma razão muito específica. Por se tratar de um colegiado com prazo de validade que começa a contar a partir da primeira sessão, se era prioridade para o governo e para a Câmara, era recomendável o início mais rápido possível.

Não foi o que aconteceu. Sem qualquer constrangimento, os deputados adiaram em uma semana o início dos trabalhos para evitar que atrapalhasse uma semana a menos de trabalho para os ilustres parlamentares.

Talvez posturas assim expliquem a aversão que parte da população tem à política. Fico a imaginar o que aconteceria se, em meio a um feriado no meio da semana, procurasse os diretores do Bahia Notícias e dissesse que vamos “enforcar” as atividades da redação.

Precisaria ter um “é verdade esse bilete” ao final da mensagem, caso não quisesse ser demitido. Já no Congresso Nacional, a semana “morta” é tão padrão que sequer há questionamento sobre a possibilidade de manter uma agenda regular de atividades.

Até os 20 e poucos anos, integrava esse grupo que olhava a política pelo canto do olho. Foi numa conversa de bar que mudei minha postura. Um amigo trouxe uma frase clássica de Platão que me trouxe à reflexão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”

Hoje, esse amigo é vereador no interior do Mato Grosso do Sul e eu me tornei colunista político, cada vez mais atento ao que fazem vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes. Até por isso não consigo defender o sem número de privilégios de parlamentares.

Em 2019, apenas a Câmara dos Deputados custou R$ 1,52 bilhão aos cofres públicos. Apenas os quatro baianos titulares da comissão especial e os dois suplentes custaram em quatro meses quase R$ 2,2 milhões, somados cota parlamentar, verba de gabinete e vencimentos. Com salário de R$ 33.763 mensal.

Ainda assim, vão ganhar uma semana de “folga” por ter um feriado em plena quarta-feira. Se na vida tudo é uma questão de prioridades, para os parlamentares, infelizmente, as prioridades não são o interesse público todo o tempo.

Até mesmo quando eles simulam que vão priorizar um tema específico. Mudar a previdência é urgente. Só não é para quem tem o dever de fazê-lo. Este texto integra o comentário desta segunda-feira (29) para a RBN Digital. Por Fernando Duarte