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Durante mais de uma semana o noticiário brasileiro ficou tomado por declarações de um suposto príncipe, que evoca para si o título de nobreza que deixou de existir oficialmente no Brasil em 1889. O problema não chega a ser Luiz Philippe de Orléans e Bragança. A ele é reservado o direito de cometer desvarios pessoais e ser acompanhado por um sem número de malucos que acredita que a monarquia seria o regime de governo ideal para essa república dos trópicos.

Há até quem se eleja para o Congresso e que pensa assim, tal qual esse nobre brasileiro, herdeiro de sua alteza o imperador D. Pedro II. A questão preocupante é saber, na verdade, que há membros do governo federal que defendem a volta em 130 anos no passado. Quem primeiro falou em público sobre o tema foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

A declaração, todavia, foi engolida pelas sucessivas trapalhadas do novista mais velho que temos no governo. Só em alguém abrir a boca para falar sobre isso estando na Esplanada já era absurdo, imagina ter sido endossado? Foi essa a cereja do bolo que coube ao ministro da Educação, Abraham Weintraub. No dia que se comemorava a proclamação da República, esse inominável reclamou da “infâmia” que se comete a cada 15 de novembro com a memória do falecido imperador.

As loas a D. Pedro II sempre são recorrentes. Um homem culto e viajado, que percorreu o Brasil e o mundo e governou o país “quando aqui era tudo mato”, para usar uma expressão bem típica da atual juventude. Porém esse mesmo “patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da história”, nas palavras do ministro, deixou o país agrário e atrasado algumas décadas no processo de industrialização que já se expandia pela Europa, para ficar apenas em um exemplo.

Mas sobram outros pontos negativos. A educação, inclusive, da qual Weintraub é o titular da pasta, era restrita a uma elite, que não tinha qualquer interesse em perder seu status quo. Aquele Brasil “infame” tinha extinguido a escravidão pouco mais de um ano antes e não teve qualquer preocupação com aquele enorme contingente populacional, relegado à própria sorte e nascedouro de uma das mais injustas formas de desigualdade social, que sobrevive até hoje.

Basta lembrar que, em 1822, quando o Brasil se tornou independente de Portugal, os EUA, grande inspiração para muitos integrantes do governo federal, já tinham assinado sua “alforria” em 1776. Ou seja, criamos em terras brasileiras um império que sequer deveria ter existido. Mas ainda assim tem quem questione a nossa existência enquanto nação republicana pelo simples prazer de “tombar”.

Nesse sentido, é sempre bom aplaudir Weintraub por não ter qualquer constrangimento em passar vergonha em público. A República das Bananas, algo que embaraça quem quer que receba esse apelido, parece caber em muitas situações no Brasil recente, para nossa infelicidade.

Desde o dossiê da suruba gay com o pseudo príncipe, que por pouco não se torna vice-presidente, até os ministros exaltando a monarquia, falta muito pouco para carimbar nas nossas testas um carimbo de bestas. Se bem que, a cada nova polêmica ou achaque à democracia, temos a certeza de que não existem amadores nesse país. Apenas um monte de esperto, achando que somos todos otários. Fernando Duarte/Bahia Notícias