Agência Brasil

O endividamento e o índice de inadimplência entre as famílias brasileiras atingiram em agosto o maior patamar em mais de 10 anos, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (3), pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O percentual de famílias com dívidas no país subiu para 67,5% em agosto – novo recorde histórico da série iniciada em janeiro de 2010, superando a máxima anterior registrada em julho (67,4%).

No comparativo anual, o índice registrou aumento de 2,7 pontos percentuais. O indicador considera dívidas os compromissos assumidos com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.

O total de famílias com dívidas ou contas em atraso e, portanto, inadimplentes, aumentou para 26,7% em agosto, contra 26,3%, em julho, atingindo a maior proporção desde março de 2010 (27,3%). Em comparação com o mesmo mês do ano passado, a proporção cresceu 2,4 pontos percentuais.

Já a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes, passou de 12%, em julho, para 12,1% agosto. No mesmo período de 2019, o indicador estava em 9,5%.

Percentual de muito endividados recua

Entre os destaques positivos, a proporção das famílias que se declararam muito endividadas caiu de 15,5% em julho para 14,6%, a primeira queda desde janeiro. Na comparação anual, porém, ainda houve alta de 0,8 ponto percentual. Entre as famílias endividadas, 21,4% afirmaram ter mais da metade da renda mensal comprometida com o pagamento destas dívidas. Foi a terceira queda mensal consecutiva do indicador, que chegou a alcançar 22,4%, em abril.

Ou seja, embora mais endividadas, a parcela média da renda comprometida com dívidas diminuiu entre as famílias, favorecendo a capacidade de pagamento. A pesquisa mostra que o endividamento atinge mais as famílias de menor renda. Para as que recebem até 10 salários mínimos, o percentual subiu em agosto para 69,5%, contra 69%, em julho. Em contrapartida, entre as famílias com renda acima de 10 salários, a proporção caiu para 57,8% em agosto, ante 59,1%, em julho.

Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, as famílias com maior renda têm aumentado a poupança em detrimento do consumo, principalmente de serviços, enquanto a necessidade de crédito segue maior para as famílias com renda mais baixa.

Principais dívidas

Com relação aos tipos de dívida, o cartão de crédito, historicamente o mais apontado pelas famílias como a principal modalidade de endividamento, foi o único que apresentou crescimento em agosto, subindo para 77,8%, ante 76,2% em julho. Na sequência, aparecem os carnês (17,3%) e o financiamento de veículos (10,6%).

Tempo de dívida

O tempo médio de comprometimento com dívidas entre as famílias, que vinha aumentando desde abril e chegou a 7,4 meses em julho, caiu para 7,3 meses em agosto. Do total de família endividadas, 21,6% responderam estarem comprometidas com dívidas até três meses, enquanto 34,2%, por mais de um ano. Já o tempo médio de atraso na quitação das dívidas entre os inadimplentes subiu para 61,6 dias em agosto, ante 61 dias apurados em julho.

“Indicadores recentes têm mostrado que a recuperação gradual da economia se iniciou a partir de maio e junho, mas ainda permanecem incertezas sobre a sustentabilidade da retomada no médio prazo, especialmente associadas ao cumprimento das metas fiscais. Deve-se considerar ainda que a proporção de consumidores endividados no país é elevada. Nesse sentido, é importante seguir ampliando o acesso ao crédito com custos mais baixos, como principalmente possibilitar o alongamento de prazos de pagamento das dívidas, para mitigar o risco do crédito no sistema financeiro”, destacou a CNC. G1