No último domingo (8), a artista Preta Gil revelou, em entrevista ao “Fantástico”, que precisou remover o reto devido a um câncer de intestino diagnosticado em 2023. A cirurgia foi realizada há um ano, mas a cantora recentemente descobriu que a doença se espalhou, com quatro novos tumores.
“Eu amputei o reto e eu não posso ter vergonha porque é a minha realidade”, afirmou Preta ao Fantástico. A artista disse que realizou a amputação, mas preservou o esfíncter, músculo responsável por regular a abertura do orifício anal. O procedimento realizado pela cantora impede a colostomia definitiva, um dos medos da empresária. “Necessitar de uma colostomia definitiva é um medo muito grande dos pacientes que têm diagnóstico de câncer… Foi infelizmente criado um grande estigma e preconceito pela nossa sociedade que tem sido, felizmente, desfeito ao longo dos anos”, conta Jéssica Fraga, cirurgiã geral e coloproctologista da Santa Casa da Bahia.
O coloproctologista Leo Dantas explica que o procedimento é irreversível, necessário quando o câncer atinge a parte inferior do reto e não pode ser removido de outra forma. “Amputar o reto significa que a gente vai tirar o reto, que é a parte final do intestino grosso, juntamente com o ânus. Há casos em que a gente retira todo o esfíncter anal e fecha com um ponto mesmo, como uma ferida operatória. Fica uma cicatriz, mas sem ânus”, informa. Jéssica complementa afirmando que a operação também é solicitada em casos de doenças intestinais inflamatórias graves como doença de Crohn ou colite ulcerativa.
Leo acrescenta que casos de reincidência de câncer, como o de Preta Gil, agravam a cirurgia. “Toda vez que a gente vai reoperar um câncer é sempre mais delicado. Por conta da cicatrização interna do tratamento anterior fica tudo mais inflamado, principalmente no caso dela [Preta Gil] que fez radioterapia. Então a cirurgia fica com uma dificuldade técnica muito maior”, diz.
No caso de Preta, em que o esfíncter é preservado, Jéssica afirma que os pacientes podem apresentar aumento da frequência evacuatória, consistência mais amolecida das fezes e incontinência fecal em graus variáveis. Nas ocorrências em que o músculo regulador não é mantido, ou seja, é necessária a colostomia definitiva, geralmente realizada no abdômen, ela conta que os acometidos podem ter complicações como hérnias e dermatites locais.
Nos casos definitivos, outra possibilidade além da colostomia no abdômen é a perineal, em que a bolsa é colocada numa região mais próxima da condição fisiológica anterior a cirurgia. No entanto, Leo Dantas afirma que, em via de regra, o procedimento não é recomendado. “Você não chega a reconstruir o canal. É como se você tivesse uma bolsinha de colostomia só que na região perineal. Só que na região perineal é muito ruim de acoplar uma bolsa de plástico, então acaba que o paciente vive de fralda, né? Essa possibilidade ela existe, mas a gente raramente recomenda”, relata.
Rotina
A retirada do ânus também afeta a rotina dos pacientes. De acordo com Dantas, atividades como sexo anal são impossibilitadas. Além disso, em caso de retirada do esfíncter, as fezes são evacuadas por bolsas de colostomia em aproximadamente 4 horas. Ele complementa reiterando que os pacientes estão aptos para a ingestão de qualquer alimento e não tem o trânsito da comida afetado, mas é preciso cuidados com a bolsa.
“Geralmente, os pacientes acabam aprendendo e trocam em casa mesmo. Eles compram a bolsa e trocam eles mesmos. É uma bolsa de plástico que adere à pele e gruda o intestino na pele. O intestino fica para fora e você gruda uma bolsa de plástico com uma boa aderência ali para não vazar. Se não, acaba inflamando a pele por conta do pH, da alteração das enzimas digestivas e de todo o conteúdo fecal que acaba irritando a pele”, explica. Correio da Bahia