(Shutterstock/reprodução/correio da bahia)

Imagine a possibilidade de transformar água em combustível, usando apenas a eletricidade para isso. Essa tecnologia existe e os equipamentos para a implantação da primeira fábrica de hidrogênio verde do Brasil serão instalados na Bahia. O equipamento para colocar a planta de hidrogênio verde em funcionamento chegou ao terminal de granéis sólidos, o TGSII, do Porto de Aratu-Candeias, na última terça-feira (13).

A embarcação BBC DAKOTA, vinda do Porto de Roterdã, na Holanda, transportou parte da fábrica até o Porto de Aratu, escolhido como destino de desembarque por causa das dimensões das peças, que não iriam passar por túneis e viadutos. A viagem de transporte durou 30 dias. O projeto será instaurado no Polo Petroquímico de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Responsável pela planta, a fábrica Unigel planeja uma produção de 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde até 2030.

“O hidrogênio verde é considerado o combustível do futuro porque usa, como matéria-prima, água e eletricidade. A água, submetida à corrente elétrica, separa o hidrogênio do oxigênio, dois produtos nobres. O hidrogênio, quando utilizado como combustível, gera água novamente, ele não vai gerar gás carbônico”, explicou Roberto Noronha Santos, CEO da Unigel.

O hidrogênio produzido pela Unigel será ofertado aos clientes que trabalham com o fator de descarbonização. Além do potencial de utilização como combustível e matéria-prima na siderurgia e no refino de petróleo, o insumo pode ser transformado em amônia, que também pode ser usado como combustível, apresentando maior facilidade para transporte.

 Processo 

Antes de começar a fabricar hidrogênio verde, a fábrica passará por três fases, sendo que a primeira deve ser finalizada até junho de 2024, com um investimento US$ 120 milhões — aproximadamente R$ 582 milhões — e o resultado de 10 mil toneladas anuais do insumo. O orçamento total do projeto é de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões, na cotação atual).

A proposta de implantar uma fábrica de hidrogênio verde surgiu da necessidade de reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera, que influencia o aumento da temperatura do planeta e, consequentemente, as ocorrências de desastres ambientais. De acordo com um novo estudo da Organização Mundial Meteorológica (OMM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), há 66% de chance de a média anual de aquecimento ultrapassar 1,5 °C, limite considerado seguro, entre 2023 e 2027.

De acordo com Noronha, ainda é complicado estabelecer o parâmetro de mercado, após a produção do hidrogênio verde em escala industrial. “Com certeza, inicialmente, vamos fazer a exportação também, porque a transição de veículos, principalmente da gasolina, para carros elétricos ou que utilizem hidrogênio não será rápida. Não temos uma avaliação concreta, por isso, o projeto é realizado em fases. À medida que o mercado for crescendo, aumentaremos a produção”, explica.

 Competitividade

Para o superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) Mauro Guimarães Pereira, a implantação da planta de hidrogênio verde é uma chave para duas questões: sustentabilidade e competitividade econômica. “Os europeus buscam essa energia limpa, a Alemanha, principalmente. É o futuro [hidrogênio verde]. A gente tem, hoje, o agronegócio como o grande sustentáculo da economia brasileira e, olhando a médio/longo prazo, teremos o hidrogênio verde, nossa grande oportunidade para trazer desenvolvimento para o nosso país. É questão de tempo. Todos nós estaremos pressionados a abandonar a energia que polui para uma outra limpa”, pontuou.

Questionado sobre a geração de empregos que o projeto pode oferecer, Mauro afirmou que, inicialmente, a planta não vai ofertar muitas vagas, o que pode ser esperado quando o processo estiver mais avançado.  “É um projeto pequeno, não é um projeto gerador de empregos. A importância dele não está na geração de emprego, está na quebra de paradigma”, afirma Pereira.

O representante do Cofic reflete que o Brasil, hoje, é um país que tem condição de produção e isso o retiraria da situação de dependência mundial, colocando o na dianteira econômica. “É uma das primeiras vezes que o Brasil está na frente, para produzir uma energia que todo mundo quer. O mundo quer essa energia verde e nós estamos saindo na frente”, comemorou.

A primeira etapa do investimento foi realizada no final de 2021, quando a Unigel e o Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, assinaram um protocolo de intenções. Em 2022, o projeto foi instituído por meio do Decreto do Plano Estadual para a Economia de Hidrogênio Verde (PLH²V). A planta será a primeira em escala industrial do país. Correio da Bahia