Foto : Marcos Santos / USP Imagens

Um levantamento com base nas declarações de bens nestas eleições revela que 11 candidatos declaram ter mais de R$ 1 bilhão em bens. Destes, porém, apenas um tem, de fato, uma quantia impressionante e pode ser chamado de bilionário. Para os 10 restantes, há uma explicação: erro de preenchimento.

Bilionários por erro

O candidato a vereador por Manaus (AM) Dr. Sergio Machado (DC) diz que houve um erro de digitação. O apartamento registrado, na verdade, vale R$ 1,4 milhão, e não R$ 1,4 bilhão. Ele diz que deve corrigir o erro nesta semana.

A candidata à Câmara Municipal de Santarém (PA) Neuza Confecções (PTC) também atribui a “fortuna” a um erro de digitação. Ela diz que a casa, na Rodovia Fernando Guilhon, não vale R$ 1 bilhão. O partido diz que o departamento jurídico já fez uma solicitação à Justiça Eleitoral para que seja feita a correção.

A candidata Adriana da Rondônia (Avante), que busca uma cadeira como vereadora em Ariquemes (RO), tem a mesma resposta: erro de digitação. Ou seja, ela não é uma das candidatas mais ricas do país e não possui R$ 1,5 bilhão. O único bem declarado é uma participação societária. “Já estão vendo de arrumar.”

Eugenio da Rapadura (Avante), candidato a vereador em Paracatu (MG), explica: “Foi erro da advogada lá, tadinha! Ela chegou a chorar quando soube. Eu fiquei com dó.” Ele diz que já foi pedida a correção. Sua Fazenda Indaiá, pois, não vale R$ 1,5 bilhão.

Raquel Martins, candidata a vereadora em Iguatemi (MS), também nega ser bilionária. Na sua declaração consta que metade do Sítio Floripa, de sua propriedade no município, vale R$ 1,2 bilhão. “Não, não. Sabe o que aconteceu… quem dera fosse verdade. Eu não escrevi aquilo! Só que na hora de a pessoa digitalizar, ela não viu que o sistema tinha três zeros e colocou todos os zeros, e virou o que virou… Não foi erro nem meu. Foi erro do pessoal da campanha, que passou as informações para o TSE. Se eu fosse bilionária, com certeza eu não iria ser candidata a nada. Ou a presidente do país. Foi erro de digitação que colocou zero a mais, de alguém. Não sei de quem, mas eu não escrevi aquilo. A culpa não foi minha.”

O candidato a prefeito de Abaetetuba (PA) Adamor Dias Bitencourt (PTB) também atribui a confusão a um erro de digitação, assim como Mario Deschamps (PV), candidato a prefeito em Angra dos Reis (RJ). No caso de Deschamps, que foi candidato a vice-prefeito em 2016, um bem avaliado em R$ 4 milhões na última eleição (um prédio na Praia do Botafogo) se transformou em R$ 4 bilhões. Basta uma consulta às declarações, porém, para constatar o equívoco no caso dos três.

Na declaração de Antonio Marcos do Banco, um sobrado na pequena cidade de Formosa aparece como valendo R$ 1,2 bilhão. No caso de Dr. Antonio Patricio, que concorreu em 2018, também houve um erro, e um apartamento “supervalorizou” em dois anos. O mesmo com Valdivino, que disputou o pleito de 2016 e declarou R$ 283 mil na ocasião. Desta vez, 800 bois apareceram erroneamente valendo R$ 1 bilhão.

Como a declaração de bens pode ser corrigida até o julgamento do registro, os candidatos podem pedir a retificação aos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais.

Bilionário de verdade

O único candidato muito mas muito rico mesmo tem um nome de urna comum e modesto: João. Ele é do PSC e concorre à Prefeitura de Pontal do Paraná (PR).

Ele tem R$ 1,5 bilhão em bens. Entre eles estão ações de diversos segmentos (Carrefour, Vale do Rio Doce, Multiplan, Lojas Americanas, Sabesp, Gerdau, Cemig, Petrobras), contas em vários bancos e diversos fundos de investimento. Ele declara ainda ter R$ 4,2 milhões em obras de arte e um Land Rover de R$ 399 mil. Há outros veículos (entre eles um BMW ano 1969), uma embarcação, imóveis e empresas (inclusive no exterior) e terrenos também. São, ao todo, 48 itens listados.

A assessoria do candidato confirma que sua declaração está perfeita e que os bens, assim como os respectivos valores, estão listados de forma correta. João é uma exceção neste pleito. Mesmo os milionários são minoria: correspondem a apenas 2% do total de candidatos. Já os com patrimônio zerado são 39%: mais de 212 mil. G1