A renovação de 38% na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) reduziu o nível de escolaridade entre os deputados estaduais eleitos para o próximo quadriênio e triplicou a bancada negra na Casa. Em 2014, dos 63 parlamentares vitoriosos nas urnas, 43 tinham concluído algum curso de nível superior, equivalente a 68% do total. Este ano, o número reduziu para 38, o que corresponde a 60% das cadeiras do Legislativo baiano.

 

Por outro lado, o número de deputados baianos que se autodeclaram pretos subiu de dois eleitos em 2014 para sete em outubro passado. A queda do nível de escolaridade foi impulsionada pelos parlamentares novatos na Assembleia. Dos 24 eleitos para o primeiro mandato do parlamento baiano, 13 têm ensino superior completo – correspondente a 54% do total.

 

O levantamento foi feito pelo jornal Correio da Bahia, que traça um perfil da 19ª legislatura do parlamento baiano. Já entre os 39 veteranos que conseguiram a reeleição em outubro, 25 têm o superior completo (64,1% do total). Por outro lado, os novatos na Assembleia foram os responsáveis por triplicar a bancada preta no Legislativo. Dos sete que se autodeclaram pretos, cinco vão para o primeiro um mandato na Assembleia Legislativa da Bahia.

 

Jacó (PT), Jurailton Santos (PRB), Olívia Santana, Pastor Tom (Patriota) e Hilton Coelho (PSOL). Zé Raimundo (PT) e Samuel Júnior (PDT) permanecem na Casa. Também cresceu a bancada feminina na Casa, que saltou de sete para dez integrantes. Foram reeleitas seis delas: Fabiola Mansur (PSB), Fátima Nunes (PT), Ivana Bastos (PSD), Maria Del Carmen (PT), Mirela Macedo (PSD) e Neusa Cadore (PT).

 

Outras quatro chegam para o primeiro mandato: Jusmari Oliveira (PSD), Katia Oliveira (MDB), Talita Oliveira (PSL), além de Olívia. A bancada evangélica, por sua vez, perdeu cadeiras. Enquanto na legislatura passada eram sete representantes ligados a instituições religiosas, na que se inicia este ano são cinco integrantes.

 

Da passada, dois permanecem: José de Arimateia (PRB), ligado à Igreja Universal, e Samuel Júnior (PDT), representante da Assembleia de Deus. Já Sidelvan Nóbrega (PSC) e Carlos Ubaldino (PSD) não conseguiram a reeleição, enquanto Pastor Sargento Isidório (Avante) foi eleito deputado federal. Heber Santana (PSC) e Manassés (PSD) tentaram chegar à Câmara dos deputados, mas não foram eleitos.

 

A partir deste ano, chegam à Assembleia Jurailton Santos (PRB), também ligado à Universal, João Isidório (Avante), que substitui o pai Isidório, e Pastor Tom (Patriota), ligado à Igreja Quadrangular. Vale ressaltar que, embora a composição de bancadas do Legislativo do estado não seja setorizada como na Câmara dos Deputados, parte dos parlamentares baianos representam determinados segmentos da sociedade, desde movimentos sociais, categorias específicas ou instituições religiosas, por exemplo.

 

Juventude
A dança das cadeiras no Parlamento baiano também provocou a redução da média de idade da Casa. A legislatura iniciada em 2015 e finalizada agora tem média de 50,9 anos (levando em conta a idade dos parlamentares quando foram eleitos), enquanto a nova composição da Assembleia terá 48,5 anos.

 

Um dos principais responsáveis pela queda é Rogério Andrade Filho (PSD), eleito aos 21 anos de idade. Ele é filho do prefeito de Santo Antônio de Jesus, Rogério Andrade (PSD), que era deputado estadual até 2016, quando foi eleito para comandar o município do Recôncavo baiano. Um dos deputados eleitos mais jovens do Brasil, Rogério Filho foi o sexto mais votado na Bahia, desbancando nomes tradicionais, inclusive no próprio partido.

 

Os outros dois mais jovens depois de Rogerinho também foram eleitos com as bênçãos dos pais: Laerte (PSC), vereador de Monte Santo e filho do prefeito da cidade, Vando (PSC), e João Isidório (Avante), filho do deputado federal eleito Pastor Sargento Isidório (Avante) e mais votado na corrida pela Alba. Ambos têm 26 anos.

 

Depois deles aparece Marcelinho Veiga (PSB), 30 anos, genro do deputado federal eleito e ex-presidente da Alba Marcelo Nilo (PSB). No grupo dos mais novos, Talita Oliveira (PSL), 33, foi eleita sem padrinhos políticos no estado, mas alavancada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

 

Também colaborou para a queda da média de idade a não reeleição de Reinaldo Braga (PR), que tem 78 anos e nove mandatos de deputado estadual consecutivos. Por outro lado, Jurandy Oliveira (PRP), 81 anos, o mais velho entre os eleitos, conseguiu renovar o mandato pela nova vez.

 

Bandeiras
Educação, saúde, segurança pública e políticas para agricultura e são os principais temas que devem marcar os debates na Alba a partir de 2019. Dentre estas temáticas, a educação se sobressai, sendo prioridade de 24 dos 63 parlamentares baianos, o que equivale a 38% do total.

 

Em seguida, estão saúde e agricultura, que são consideradas bandeiras principais de 17 e 16 deputados, respectivamente, enquanto a segurança é citada como prioritária por 11 deles. O levantamento foi feito pelo CORREIO junto aos próprios deputados e suas assessorias ou com base nas propostas defendidas por eles durante a campanha deste ano.

 

Para isso, cada um citou três pautas que consideram como as mais importantes de seus mandatos futuros. Ao todo, foram 46 bandeiras diferentes consideradas no levantamento, sendo que algumas delas são defendidas apenas por um ou dois integrantes do legislativo baiano.

 

Também aparecem entre as principais bandeiras a defesa de políticas para juventude e mulheres, com nove parlamentares cada, e, com sete, a defesa da família, uma das principais pautas do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Outros deputados dizem que, para além de bandeiras específicas, defende interesses de determinadas regiões. É o caso de Zé Cocá (PP), ex-prefeito de Lafaiete Coutinho. Ele diz que sua bandeira são os interesses das regiões do Vale do Jiquiriçá e Médio Rio de Contas.

 

Queda da escolaridade não é negativa, defende especialista
O cientista político Joviniano Neto acredita que a queda no perfil da escolaridade do Parlamento estadual não é necessariamente negativa. “A característica principal do política é ser capaz de representar, de de sentir os anseios, as demandas, e ser o instrumento das pessoas que representam. Isso não depende de instrução”, defende.

 

Nesse sentido, ele diz que a Assembleia se tornou até mais representativa da população baiana, cuja maioria não tem graduação de ensino superior. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 6,7% dos baianos têm diploma de terceiro grau.

 

“Este dado mostra que a Assembleia trouxe pessoas com nível de educação menor, que teoricamente seriam mais pobres. No fundo, o Legislativo fica mais representativo. Mostra que existem outros canais de ascensão à classe política, com a ligação com igrejas evangélicas, a atuação a nível local, nas cidades e regiões, ou até ligadas a movimentos sociais”, explica.

 

Para ele, é uma visão elitista pensar a representação política diretamente relacionada ao maior nível de escolaridade. “Por isso criticamos aquelas visões elitistas, que criticam a própria democracia. Cada pessoa vale um voto, cada pessoa é capaz de decidir seu interesse. Mais uma vez, isso não depende de instrução”, pondera.

 

Mesmo com o crescimento das bancadas negra e feminina, ainda há um abismo na representação política na Assembleia, predominantemente branca e masculina. Por outro lado, a população baiana é composta por negros e mulheres. Joviniano é enfático e ressalta o caráter histórico do predomínio do poder na política entre homens. “A representação política é uma representação do poder na sociedade. Não existe vácuo em política. As pessoas não cedem espaço de graça”, afirma.

 

Renovação levou surpresas ao Legislativo baiano
Entre os 24 novos deputados estaduais, pelo menos oito foram considerados surpresas na lista de eleitos para a nova legislatura. Um deles é Niltinho (PP), empresário e ex-secretário de Governo de Madre de Deus, mais votado do partido dele em Salvador e região metropolitana, desbancando nomes tradicionais do partido, como Luiz Augusto, que não renovou o mandato.

 

Ainda integra a lista o também empresário Dal (PCdoB), que atua no Recôncavo baiano e já disputou a prefeitura de Amargosa. Novato no PCdoB, foi o mais votado entre os cinco comunistas eleitos. Vem do PP outro eleito de maneira surpreendente: Zé Cocá, ex-prefeito de Lafaiete Coutinho.

 

No partido, ele ficou à frente de dois deputados já com mandato (Robinho e Aderbal Caldas) e, de quebra, desbancou na região de Jequié o ex-prefeito da cidade Roberto Britto (PP), que deixou a Câmara dos Deputados e tentava uma cadeira na Alba. Do Oeste baiano, Tum (PSC) é irmão do prefeito de Casa Nova, Wilker Torres (PSB).

 

Desconhecido antes da eleição, era assessor do deputado federal Bebeto Galvão (PSB), eleito suplente do senador Jaques Wagner (PT). No PSL, a expectativa era que o impulsionamento provocado pelo presidente Jair Bolsonaro levasse um deputado à Assembleia. O favorito era Capitão Alden, que acabou eleito.

 

Contudo, a coligação levou mais dois: Talita Oliveira (PSL) e Junior Muniz (PHS), que entrou na lista de eleitos no final da apuração. Outra surpresa foi Pastor Tom (Patriota). Vereador em Feira de Santana, ele foi o terceiro menos votado e conseguiu a eleição com os votos da Igreja Quadrangular.