Foto: Camila Souza/GOVBA

O segundo semestre de 2021 ficará marcado na educação baiana não só pela volta às aulas presenciais após a pandemia de Covid-19, mas também por inúmeras polêmicas geradas nas salas de aula do estado.

Casos de intolerância religiosa, mensagens preconceituosas contra uma aluna, denúncias de casos de racismo, LGBTfobia e machismo e até mesmo até mesmo um ataque armado foram registrados nas escolas da Bahia. Relembre os casos de polêmicas e crimes na educação baiana registradas nos últimos quatro meses.

Intolerância religiosa

No dia 21 de julho, a ialorixá Ya Ivone Maria denunciou que a filha de santo dela, Júlia Almeida Lima, de 13 anos, foi impedida de entrar na Escola Municipal Arx Tourinho, que fica na Ceasa, em Salvador, por estar vestida com roupas ligadas à sua religião, o candomblé.

“Ela foi barrada no colégio, ela está em regime religioso ainda, então ela estava com as vestes, as cordas no pescoço, quelê [adorno que os filhos de santo colocam em volta do pescoço como sinal de sujeição a um orixá], e ela foi barrada na porta do colégio”, contou. A ialorixá de Júlia Almeida contou que a mãe da vítima tentou justificar, mas os funcionários não deixaram que ela entrasse na escola e assistisse a aula.

“A mãe da aluna pediu para falar com a diretora da escola e ela de lá de dentro gritou: ‘Não, manda ela ir para casa, que eu não vou botar falta não’. Fez pouco caso com a criança e Júlia só tem 13 anos”, lamentou.

Após o caso, a ialorixá registrou queixa por racismo religioso na delegacia virtual. A Polícia Civil investiga o caso. Na ocasião, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou que já havia tomado providências, e que “nenhum estudante deve ser impedido de adentrar as unidades escolares por conta da sua crença”.

Ataque armado com facão

No dia 31 de julho, uma mulher invadiu uma creche e uma escola municipal no bairro Vila Parracho, em Porto Seguro, no sul da Bahia, armada com um facão. A mulher bateu com o facão na janela, destruiu uma porta e parte do canteiro do jardim, além de danificar várias cadeiras com a arma branca.

Alguns funcionários tentaram conversar com a mulher, que teria afirmado que estava insatisfeita com a transferência de um sobrinho que estudava na creche – o garoto precisou ser transferido para outra escola por causa da idade.

Após sair da creche, a mulher seguiu para a Escola Municipal Terezinha da Conceição, ao lado da unidade, e também ofendeu professores e funcionários. Uma das coordenadoras tentou acalmar a situação e foi atacada. A funcionária foi ferida na mão.

A Polícia Militar foi acionada e conseguiu conter a mulher. Funcionários do Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) aplicaram uma injeção tranquilizante e acalmaram a situação. Professoras das duas escolas foram encaminhadas à delegacia e registraram a ocorrência. No entanto, decidiram não representar crime contra a mulher, que teve um surto psíquico.

MP investiga denúncia de racismo entre alunos de colégio particular

No começo do mês de novembro, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) abriu um inquérito para investigar uma denúncia de crime de racismo envolvendo alunos do Colégio Sartre COC, no bairro do Itaigara, em Salvador. A decisão ocorreu após a divulgação de diálogos entre estudantes em um aplicativo de mensagens se tornar público.

Na conversa, alguns estudantes fazem comentários racistas e dizem que “piadas com negro foram banidas, mas negros são a própria piada”. Em outra mensagem, uma pessoa questiona se macacos podem fazer parte do grupo.

Mensagens em tom de ameaça e deboche também foram publicadas nas conversas. Uma pessoa fala para que pretos morram, enquanto outra envia uma imagem com um boneco com uma faca em mãos e os dizeres “se há preto por perto, fique esperto”.

O Sarte COC classificou o diálogo como “reprovável”. Segundo a instituição, a conversa envolveu alunos de diversas escolas para organizar uma festa particular e independente e confirmou envolvimento de alunos da instituição. O colégio disse que “repudia veementemente qualquer ação ou comportamento que desrespeite a dignidade das pessoas, incluindo atitudes discriminatórias e preconceituosas”.

Após o caso se tornar público, alunos e ex-alunos do colégio criaram um perfil em rede social para denunciar casos de racismo, LGBTfobia e machismo. A conta foi criada logo após o Ministério Público da Bahia (MP-BA) abrir inquérito para investigar uma denúncia de racismo envolvendo estudantes da unidade.

Aluna de colégio particular é alvo de mensagens preconceituosas

Também em novembro, uma aluna do Colégio particular Cândido Portinari, em Salvador, foi vítima de mensagens preconceituosas em um grupo estudantes no Whatsapp. A adolescente, que cursa o 8º ano EF e é filha de um funcionário da escola, foi associada a atividades criminosas por morar em uma região periférica de Salvador.

As mensagens de cunho preconceituoso e racista foram enviadas no último final de semana, mas só vieram à tona nesta quinta-feira (18), quando uma das mães dos colegas da vítima, que não quis se identificar, tomou conhecimento da situação. Impressionada com as agressões verbais, ela divulgou as informações à imprensa.

Na semana seguinte ao caso, o Colégio Cândido Portinari, em Salvador, decidiu não renovar a matrícula de estudantes da escola envolvidos no episódio do envio de mensagens preconceituosas contra uma aluna. No entanto, o Conselho Tutelar de Salvador informou que se posiciona de maneira contrária à decisão.

Professora de Filosofia é intimada por ‘doutrinação feminista’

Uma professora de filosofia foi intimada a prestar depoimento na delegacia sob acusação de “doutrinação feminista e conteúdo de cunho esquerdista”. Giltânia Aquino lecionava sobre Iluminismo no Colégio Thales de Azevedo, e passou mal quando recebeu a intimação. Ela deu entrada no Hospital da Bahia, na capital baiana, na quarta-feira (17), foi medicada e já recebeu alta médica.

O caso foi registrado na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), na terça-feira (16). No boletim de ocorrência, a mãe da estudante relatou que a filha teria sofrido constrangimento na escola.

Segundo a polícia, de acordo com o relato, em decorrência de sua opinião política, a adolescente teria sido hostilizada por colegas e impedida de participar de atividades em grupo, sob consentimento da professora.

Em posicionamento oficial, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) negou a versão da mãe da estudante. Segundo o APLB, trata-se de “tentativa de intimidação, coação e pressão psicológica por grupos de extrema direita”, para reprimir a liberdade de expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores e professoras.

A SEC ainda disse que acompanha o caso e manifestou solidariedade à professora e ao corpo docente, bem como reafirmou o compromisso com a livre docência, a pluralidade de ideias, o livre debate e a democracia.

Na última quarta-feira (24), um grupo protestou em defesa da liberdade acadêmica em frente à Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), em Salvador.

Professor é afastado após pedir para alunos se beijarem em sala de aula

Um professor do Colégio Estadual Heitor Villa Lobos, no bairro do Cabula, em Salvador, foi afastado das funções após estimular estudantes a se beijarem em troca de pontos na média curricular.

Em nota, a Secretaria de Educação (SEC) afirma que ao tomar conhecimento da denúncia pela direção do colégio, afastou imediatamente o professor e instaurou um processo administrativo para apurar o caso.

O fato teria ocorrido no dia 11 de novembro, quando o professor de Artes estimulou que os adolescentes do 6º ano A/Fundamental II se beijassem [que têm entre 11 e 13 anos]. Duas mães de alunos prestaram queixa contra o professor na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca). G1