Victor Pinto e João Brandão

O secretário estadual do Trabalho, Emprego e Renda, Davidson Magalhães, foi reconduzido há uma semana à presidência estadual do PCdoB na Bahia e aponta que um dos desafios da sigla no ano de seu centenário é manter-se militante e orgânica no contexto de uma sociedade organizada em rede. O dirigente comunista é enfático também ao afirmar que, na composição da chapa majoritária de 2022 na Bahia, o PCdoB vai disputar seu espaço e que a discussão das vagas não pode estar restrita a nomes do PT, do PSD e do PP. “Não estamos de acordo com isso. No momento apropriado, vamos sentar na mesa e discutir os espaços políticos”, diz, nessa entrevista concedida ao Política Livre.

Por outro lado, Davidson crê que a polarização e a nacionalização das eleições devem ter peso significativo no pleito baiano. Mas ele entende ainda que não será uma eleição fácil como a que reconduziu, em 2018, Rui Costa ao segundo mandato. Por esse motivo, entende que o diálogo entre as siglas que compõem a base do governo estadual deve ser realizado. Embora diga que as eleições não serão fáceis na Bahia, Davidson não enxerga em ACM Neto e em seu novo megapartido, o União Brasil, o maior desafio para a manutenção do atual grupo no comando do governo estadual. Segundo o comunista, a união de PSL e DEM não traz novidades ao cenário baiano. Nacionalmente, diz que a badalada fusão é somente para aumentar o caixa.

Confira a entrevista completa abaixo:

O senhor foi reconduzido presidente estadual do PCdoB. Quais os desafios para esse novo período à frente do partido aqui na Bahia?

Davidson Magalhães – Olha, nós estamos com desafios para a comemoração do nosso centenário. Nós temos um primeiro desafio de manter o PCdoB com o protagonismo político que tem marcado esse centenário de existência, quando o PCdoB tem presença em todos os grandes acontecimentos nacionais do século passado, e manter a relação política ampla que o PCdoB tem constituído ao longo desse tempo. E o segundo desafio é, nesse novo contexto de luta social, manter o partido militante e orgânico, pois cada vez mais a ligação com o povo numa sociedade em rede tem mecanismos novos de comunicação, de organização, de comportamento, e modernizar o partido no sentido de se apropriar desses instrumentos pra melhorar as suas relações com o povo e a sua militância política. Um desafio nós superamos agora, que era romper os limites da legislação eleitoral para permitir uma presença institucional no Parlamento e no executivo do PCdoB, com a aprovação das federações partidárias que ampliam o leque de possibilidades de articulação entre partidos para a superação da cláusula de barreira e para a apresentação de programas comuns ao eleitorado.

Houve a aprovação das federações, mas também o fim das coligações. Em que isso muda a estratégia do partido para a formação das chapas para deputado estadual e deputado federal?

Argumentavam que as coligações criavam situações esdrúxulas, mas tinha que não permitir coligação pra senador, né? Porque se elege a senador, mas chega lá e vota contrário à posição a que ele foi eleito. Então você tem coligação para senador, para governador, para presidente e não tem para deputado. Infelizmente acabaram as coligações, mas nós conseguimos um instrumento importante que foram as federações. Isso muda [a estratégia] porque, nas coligações, era necessária uma concentração de um voto em função de as coligações abarcarem vários partidos. Nas federações, elas alteram substancialmente porque as federações criam uma instituição nova que funcionará como um partido durante quatro anos, portanto ela não acaba às dezessete horas e trinta depois da eleição. Ela se mantém durante quatro anos, inclusive na próxima eleição municipal, e ela reúne pessoas e partidos que têm em comum ideias, programas e visões da sociedade. A fusão não estava posta porque nós temos um partido que tem cem anos. Fundir, deixar de existir por causa de interesse eleitoral é para partidos que ficam mudando de siglas permanentemente, ou seja, para organizações políticas que ficam se escondendo do povo. Então uma vez é Arena, depois é PSD, depois PFL, aí depois vira Democrata, aí depois agora, como vai perdendo espaço, funde. Nós não temos condições de fazer isso. Nós não vamos fundir para desaparecer porque nós temos um projeto para o país. Nós temos um projeto para uma eleição que se apresenta também nas lutas sociais, em outros campos.

Aqui na Bahia o PCdoB é aliado de primeiríssima hora das administrações do PT, eleitas a partir de 2006. O partido vai pleitear espaço na majoritária? Quando se discute isso quase que se restringe essa questão ao próprio PT, ao PSD e ao PP.

Nós estamos com o cenário muito instável do ponto de vista do político. Há uma fotografia de enfraquecimento e do isolamento do (presidente Jair) Bolsonaro e de fortalecimento do ex-presidente Lula; temos como terceiro nome o Ciro Gomes. A crise no Brasil é muito grande: os indicadores de agosto apresentam a maior queda do consumo das famílias no Brasil desde agosto de 2000. A economia está estagnada, inflação crescendo, preço de combustível, ou seja, essa crise ela vai ter consequências muito graves no país e isso nos aponta para um quadro eleitoral em construção e, nesse sentido, o PCdoB aqui na Bahia luta pra manter esse grupo em torno do projeto liderado pelo governador Rui Costa unido. Essa é a nossa luta. E nós não temos candidatos definidos; temos uma grande simpatia pelo ex-governador Jaques Wagner. Então nós temos a identidade, mas ainda não discutimos essa composição da chapa majoritária. A gente vê a discussão sobre a força do PSD, do PP e do PT. Tudo bem, mas essa eleição não vai ser esse passeio que foi a última. Então todas as forças são necessárias e todas elas precisam discutir o conjunto do espaço político. Então não vejo como um dado definido que a chapa majoritária tem que ter só PSD, PT e PP. Por que isso? Não. Não estamos de acordo com isso. No momento apropriado, vamos sentar na mesa e discutir os espaços políticos.

O senhor falou agora que não será uma eleição tão fácil como a de 2018, quando o governador Rui Costa foi eleito já no primeiro turno. O senhor atribui isso à candidatura do ACM Neto agora com esse megapartido, o União Brasil, fruto da fusão do DEM com o PSL, ou atribui a outra circunstância?

A soma do PSL ao DEM é uma soma zero na Bahia. Eles, na verdade, estão somando dois que estavam debilitados, que estavam perdendo força. Aí é só a soma de caixa. Todos sabem que vão perder um conjunto grande de deputados e, aqui da Bahia, não altera. O PSL aqui já estava com eles, o PSL aqui já tinha identidade política com ACM Neto e isso não cria fato político nenhum. O DEM perdeu São Paulo, perdeu Rio de Janeiro. Era um partido nacional e com essas saídas voltou a ser um partido mais regional. E o PSL foi um partido inflado com a presença de Bolsonaro. E com a saída de Bolsonaro não vai levar os deputados todos; é só observar o período da janela. O único atrativo que eles vão ter é fundo partidário e fundo eleitoral. Portanto é uma soma só de caixa, mas na Bahia tem pouco efeito no ponto de vista político: é soma de caixa e de tempo de televisão que eles já levariam porque estariam juntos.

Essa liderança do ACM Neto é, como o senhor mencionou a respeito do cenário político, um retrato do momento que pode ser ainda modificado? Há uma memória recente de outras eleições, quando Paulo Souto estava liderando e houve viradas.

A eleição da Bahia vai ter muito impacto da eleição nacional, não será uma eleição isolada. A Bahia está entre os quatro maiores colégios eleitorais do Brasil, tem a força do próprio Lula. Por mais que o ex-prefeito não queira nacionalizar – aliás o que contraria a história dele, porque, na eleição em que Paulo Souto perdeu, o primeiro a fazer um ataque a Lula foi ele e, na época, o avô dele. A questão de não querer nacionalizar agora é para não pegar a pecha do bolsonarismo, que muito mal fez à Bahia e ao povo baiano. Mas eles não vão ter como se desvencilhar disso. Quando você lança um competidor, como foi na última, a eleição é mais fácil, mas essa eleição, está se dando em um quadro completamente diferente. A nossa força é muito grande, dessa aliança que aqui já ganhou quatro eleições seguidas, o efeito da gestão, a mudança na vida das pessoas. Dou um exemplo aqui na área da saúde, uma transformação na área de infraestrutura. Isso é fundamental e vai ser um elemento importante para a continuação do projeto. Claro que depende do momento, mas as condições estão dadas pra mais uma vitória.

A gente tem visto uma polarização Lula e Bolsonaro, mas com Lula liderando todas as pesquisas. De acordo com as pesquisas, Bolsonaro perde pra quem for com ele para o segundo turno. Só que as manifestações bolsonaristas tem atraído, pelo menos nas fotografias, um público maior. A que o senhor tem atribuído essa diferença entre o que apontam as pesquisas e o que apontam as fotos dessas manifestações?

Eu acho que as fotos das manifestações estão de acordo com as pesquisas. É só mobilizar o que eu tenho na pesquisa, boto máquina do estado, boto máquina das empresas para fazer mobilização, dá aquilo, mas reflete aquele percentual que é pequeno em relação à população brasileira. Eles pensaram em levar um milhão de pessoas, levaram cem mil, levaram cinquenta mil. Quem já viu manifestação de um milhão pelas Diretas Já, quem já acompanhou as campanhas do Fora Collor, então ele hoje abarca aí dezoito, dezessete, vinte por cento. Vamos esperar pra ver: eu acho que ele vai ser desidratado porque a crise, a incompetência e a irresponsabilidade vai desidratar ainda mais o Bolsonaro e quem esteja ao seu lado.

Em junho, quando o senhor assumiu a presidência do Conselho Estadual de Trabalho e Renda, o senhor falou o seguinte: “estamos vivendo uma situação muito difícil. A Bahia enfrenta um desemprego enorme e um processo de desindustrialização galopante”. O senhor atribuiu isso à questão da política macroeconômica e a falta de investimentos públicos federais. Isso alterou de junho pra cá ou a situação se agravou?

A situação se agravou. Nós temos feito investimento, o Governo do Estado tem feito investimento. Nós temos desenvolvido um conjunto de políticas aqui, agora foram R$ 17 milhões só de qualificação profissional, lançamos um programa de qualificação à distância que atendeu a seis mil pessoas, programas com bolsa de R$ 250. Fizemos um conjunto de investimentos aqui e de mobilização, qualificação profissional, feiras de artesanato; R$ 100 milhões de recurso para microcrédito, mas tudo isso não consegue fazer um contraponto a medidas macroeconômicas do governo federal, que é falta de investimento, aumento da taxa de juros, fim do reajuste real do salário mínimo; tudo isso tem triplicações muito graves porque ele impacta no mercado de trabalho. Política Livre