Mais duas pessoas morreram nesta última segunda-feira (27) em decorrência da chuva intensa que castiga a Bahia. Dessa vez, os óbitos ocorreram em Itabuna, no Sul do estado. A cidade enfrenta uma situação crítica após a cheia do rio Cachoeira. Os corpos foram encontrados no bairro Urbis IV – um homem de 21 anos, levado pela correnteza – e na rua Bananeira, às margens do rio Cachoeira – uma mulher de 33 anos, vítima de desabamento.

Os temporais de dezembro já causaram 20 mortes em 11 cidades baianas: Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (1), Aurelino Leal (1) e as duas vítimas de Itabuna, que foram identificadas como Felipe Duarte Garcia e Maria das Neves Souza dos Santos, segundo informações do site G1.

O coordenador da Defesa Civil de Itabuna, Yuri Bandeira, diz que ainda há uma criança desaparecida na cidade. “Estamos pedindo reconhecimento federal de situação, para podermos fazer as ações. É muita miséria, muita gente passando fome. Está um caos por aqui. Das 47 áreas de risco da cidade, 40 foram afetadas pelas chuvas nas últimas horas”, disse Bandeira.

Jequié está em situação de emergência pelas chuvas

Além da situação de emergência, Itabuna decretou também situação de calamidade pública, em decreto do último domingo (26). A chuva começou na cidade na véspera do Natal e, no acumulado do mês, já são 301,84 mm. Mais de um terço disso, 107 mm, em apenas 24 horas. Da última vez que o coordenador contou, eram 1.247 pessoas desalojadas.

“Estamos ainda fazendo o levantamento para ver a quem daremos aluguel social. Por enquanto, estamos dando todo o suporte, com alimentação, remédio, porque tem muita gente gripada, e estamos fazendo o acolhimento nas 12 escolas municipais. Todas estão cheias”, acrescenta Yuri Bandeira. Segundo ele, 137 casas desabaram e há um condomínio de luxo, o Cidadelle, que está ilhado há dois dias. As pessoas estão sendo resgatadas pelo corpo de bombeiros.

Pelo último decreto, a prefeitura relata ainda a destruição de pavimentos, calçamentos, entupimento de canais, bueiros, saídas de água, alagamento de ruas, queda de encostas, quedas de água, destruição de cultivos em pequenas propriedades de famílias da zona rural, destruição parcial de estradas vicinais, oferecendo perigo aos veículos de transporte escolar, além da interrupção de fornecimento de água em alguns bairros.

100 cidades em situação de emergência 

Quase um quarto da Bahia, ou seja, 100 municípios dos 417 que formam o estado, estão com situação de emergência decretada, segundo o último balanço da Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Pelo menos 10 trechos de estradas federais estão interditados e com os rios que cortam a Bahia com as margens muito acima do volume normal, há ameaças de mais enchentes, como nas cidades de São Félix do Coribe e Santa Maria da Vitória. Três casas desabaram em Teixeira de Freitas, uma, inclusive, no centro da cidade.

São, ao todo, 31.405 mil pessoas desabrigadas, 31.391 mil desalojadas e 358 feridos, ainda de acordo com o balanço da Sudec. O total de municípios afetados chega a 116, que somam mais de 470 mil pessoas – superior à população de países como Bahamas, Guiana Francesa ou Islândia.

Casa à beira de ribanceira 

Em Itamaraju, no Extremo-Sul, a casa de Najara Rocha de Souza, 38, onde ela mora há 15 anos, está por um triz e a qualquer momento pode cair ribanceira abaixo. A vizinha dela, Vera, já abandonou o apartamento e está em aluguel social. Najara, no entanto, desempregada, não tem para onde ir. Este ano, ela perdeu o marido e a sogra pela covid-19. Já a mãe morreu há dois anos, por afogamento. Hoje, ela mora com o filho, de 3 anos, e o cunhado.

Casa de Najara, em Itamaraju, está prestes a desabar

 “Não tenho condições de pagar aluguel e não tenho como sair daqui. Procuramos a defesa civil, mandaram a gente desocupar a casa, mas eu vou para onde? Como que vai para abrigo, morar com um monte de gente?”, pergunta. “Com o tempo, o barranco vai cedendo, com as chuvas, que são recorrentes e muito fortes. Agora é só chorar e pedir a Deus para ajudar, porque não tem o que fazer. Pode ter desabamento a qualquer momento e várias rachaduras começaram a aparecer”, conta Najara.

Segundo o coordenador da Defesa Civil da cidade e presidente do Conselho de Turismo, Vinícius Borges, os estragos em Itamaraju ainda são sentidos pelas últimas chuvas, na segunda semana de dezembro. O nível do rio ainda está além do normal e cada centímetro a menos é levado em consideração. “Ontem pela manhã estava em 5,11m, e, hoje, 4,97m”, informa Borges.

Desabrigados 

Em Ilhéus, também no Sul da Bahia, são 589 pessoas desabrigadas, segundo a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza. Elas estão acolhidas em abrigos institucionais, escolas e espaços públicos. Além da atuação da força-tarefa montada pelo município, a população realiza trabalho voluntário, no apoio ao transporte e retirada das pessoas de áreas de risco. Segundo a prefeitura, o governo federal enviará 90 médicos para reforçar o atendimento às vítimas, além da atuação de órgãos e forças de segurança e salvamento, que dão apoio à logística.

Prefeitura de Ilhéus resgata moradores de jet-ski

Já em Jequié, no Centro-Sul, 100 pessoas estão fora de suas casas, acolhidas em escolas.  As comunidades rurais foram as mais prejudicadas, principalmente, nos distritos de Oriente Novo, Itajuru e Baixão. O aumento do volume das águas dos rios causou desabamento de casas, destruição de estradas vicinais e rompimento de açudes e de barragens rurais. Ainda não há contagem total de residências desabadas, pois a demanda da equipe de engenharia da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) tem sido muito elevada, de acordo com a prefeitura.

Pelo último boletim da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Meio Ambiente, Jequié registrou 164 milímetros de chuva entre sexta-feira (24) e domingo (26). Por causa da força das águas do Rio Jequiezinho, a Compdec chegou a interditar, de forma preventiva, o acesso às pontes da Avenida Franz Gedeon, da Avenida Landulfo Caribé e a ponte que liga o Pompilio Sampaio ao bairro São José. Somente esta última segue interditada.

Moradores de Jequié saem de suas casas por conta das chuvas

Em Macarani, no Centro-Sul, são 400 desalojados e 200 desabrigados. Uma pessoa morreu e outros dois estão feridos, por conta das fortes chuvas. O rio Pardo subiu o nível da água, invadindo casas e um bar que é muito frequentado na cidade, ao lado da ponte que caiu na estrada de Vila das Graças, um dos distritos da cidade. Segundo a prefeitura, Selma Souto, essa ponte liga ao centro quase 6 mil pessoas. “A ponte destruída liga ao distrito de Vila das Graças pequenos, médios e grandes produtores rurais que estão sem fazer escoamento das produções de leite e também produtos agrícolas”, conta.

Rio Pardo, em Macarani, sobe de nível e atinge casas ao redor

Ilhados 
Na zona rural de Vitória da Conquista, no distrito de Padroso, onde moram cerca de quatro mil pessoas, o tecnólogo de segurança do trabalho, Adailton Cordeiro, 45, relata que a comunidade inteira está debaixo d’água. “Existem muitas lagoas e com as chuvas intensas, nos últimos 15 dias, alagou o povoado todinho. Algumas casas foram invadidas e as que não foram invadidas o solo tá muito encharcado, estourando bombas d’água dentro das casas. Carro não passa, só se for a pé o de bicicleta”, conta Cordeiro.

Comunidade de Padroso, em Conquista, registra vários pontos de alagamento

Já em Canavieiras, no Sul da Bahia, a estimativa da prefeitura é que cerca de cinco mil pessoas foram atingidas pelas inundações. Pela dificuldade de acesso aos locais afetados, mais de 100 famílias estão sem poder sair de casa, também ilhadas. A prefeitura disponibiliza transporte para as pessoas e seus pertences, escolas para abrigo, com medicamentos, colchões, roupas, cestas básicas e assistência médica e social.

Os resgates da Guarda Civil Municipal estão sendo feitos por cinco embarcações e não mais carros. Os locais em situação mais crítica são: Assentamento Liana Belém, Cubículo, Dragas, Curva do Leão, Região da Fabiana, Largos e a região ribeirinha que vive às margens dos rios Pardo e Cipó. Na sede do município, os bairros Ilha Náutica, Jardim Burundanga, Cidade Nova e Antônio Osório registraram alagamentos e a prefeitura atua com retroescavadeira, abrindo valas para escoamento da água acumulada.

50 presos de Santa Maria da Vitoria são transferidos 

Em Santa Maria da Vitória, no Extremo-Oeste da Bahia, 50 presos provisórios tiveram que ser transferidos da delegacia da cidade para Barreiras, por conta do aumento do volume do rio, que está na iminência de atingir a cidade. Nas últimas 24 horas, choveu mais de 130 mm. “Vamos ter que fazer a transferência porque há previsão do rio subir e pode inundar, rapidamente, a custódia. Essa transferência já foi comunicada a todos os órgãos responsáveis”, comunica o coordenador da 26ª Coorpin/Santa Maria da Vitória, o delegado Alexandre Hass Pinheiro Cunha.

Ao todo, 16 casas desabram, 53 pessoas estão desabrigadas e outras 15 estão em aluguel social. De acordo com o prefeito de Santa Maria da Vitória, Tonho de Zé de Agdonio, o trabalho que tem sido feito é de prevenção. “Infelizmente, o volume de água do rio Corrente tem aumentado bastante e há a possibilidade de haver uma enchente. Desde ontem, estamos monitorando para dar assistência aos moradores e a quem tem comercio à margem do rio Corrente e todas as escolas estão disponíveis para agasalhar as pessoas que precisam sair para local seguro”, explica Agdonio.

Santa Maria da Vitória corre risco de enchente por aumento do nível do rio (Foto: Marco Aurélio/Projecta Comunicação)

O prefeito acrescenta que não haverá recesso na prefeitura, para dar segurança aos moradores nas operações. Até o final da tarde desta segunda, 35 mudanças haviam sido feitas. A próxima deve ser de uma comerciante Rose Santos. “Pelo decorrer da água e o que a gente tem visto desde a madrugada, vamos ter que nos mudar. Já levantamos bastante coisa aqui em casa e estamos na casa de minha mãe. Não é a primeira vez que isso acontece, mas a gente já se prepara para o pior”, conta.

Cratera abre na BR 349 
Entre São Felix de Coribe e Bom Jesus da Lapa, um trecho da BR 349 abriu uma cratera, no km 12, e impediu os carros de circularem. Segundo o prefeito, já são quatro dias chovendo sem pararna cidade, o que fez com que o volume de água do rio subisse acima do normal. Equipes das Secretaria de Obras já estão no local, mas segundo ele, não é uma obra fácil.

Buraco abre na BR-349

Outras interdições ocorreram em rodovias federais no Sul e Extremo Sul da Bahia. Na BR 101, no km 660, em Itapebi, houve o desmoronamento de um barranco. Outros cinco trechos dessa rodovia também ficaram interditados, em Aurelino Leal, Tancredo Neves, Wenceslau Guimarães e Teolândia. Já na BR 415, km 50, a estrada ficou toda alagada, sem condições de os veículos passarem, assim como no km30, em Ilhéus. Na BR 330, km 792, em Jequié, houve deslizamento, queda de árvores e alagamento. No km 863 da mesma via, houve afundamento de pista.

Como doar:

Prefeitura de Jequié 
Em Jequié, as doações podem ser entregues na Casa da Cultura Pacífico Ribeiro, na Rua Jerônimo Sodré, Centro; e no Ginásio de Esportes Aníbal Brito, no bairro Jequiezinho, onde equipes de voluntários vêm fazendo a triagem de todos os itens, como roupa de cama, colchões, água mineral, mantimentos, entre outros. Após a triagem, todas as doações estão sendo utilizadas para a montagem dos kits que estão entregues para as pessoas desabrigadas.

Prefeitura de Ilhéus 
Em Ilhéus, a prefeitura orienta que as pessoas podem doar roupas, colchões, cobertores, alimentos, produtos de higiene e limpeza, água mineral, entre outros itens. O ponto de coleta está localizado na antiga sede da Secretaria de Promoção Social, na Rua Mário Alfredo s/n, Conquista. As doações também podem ser feitas por depósito em nome do Município de Ilhéus, conforme os dados abaixo:

Chave Pix: [email protected]
Banco do Brasil
Agência: 19-1
Conta Corrente: 81998-0
CNPJ: 13.672.597/0001-62