As eleições legislativas nos Estados Unidos resultaram em um número recorde de mulheres eleitas para o Congresso. Mas a nova turma tem uma grande discrepância entre progressistas e conservadoras. Das mais de 120 congressistas, a estimativa é de que apenas 19 sejam republicanas. O número ainda não está fechado porque há uma disputa com candidata republicana no páreo que não foi definida.

 

É a eleição para o Senado em Mississippi, que será realizada na próxima terça-feira (27). O estado, que carrega fortes marcas de polarização racial, não elege um democrata para a casa legislativa desde 1982.  Seja qual for o resultado da próxima semana, o número de conservadoras no Capitólio a partir de 1º de janeiro será o menor desde a década de 1990.

 

Os dados são do Centro para Mulheres Americanas e Política, da Universidade Estadual de Nova Jersey. As conservadoras são minoria entre as mulheres eleitas para o Congresso desde o fim da década de 1980. As democratas, por outro lado, nunca tiveram tanto sucesso na história política americana: bateram em novembro o recorde anterior de 79 congressistas eleitas, que havia sido alcançado no último pleito legislativo, há dois anos.

 

Entre as mais de 30 deputadas neófitas, grupo que inclui a estrela do momento Alexandria Ocasio-Cortez, apenas uma é republicana: Carol Miller, que venceu a cadeira do terceiro distrito congressional da Virgínia Ocidental.  Também só haverá uma novata no Senado do lado conservador. Trata-se da deputada Marsha Blackburn, primeira mulher a representar o estado do Tennessee na casa legislativa.

 

No lado democrata, haverá duas.  Nas eleições, estavam em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara e 35 dos 100 assentos do Senado.  Alguns fatores ajudam a explicar a escassez de republicanas na vida política americana e a desigualdade de gênero dentro do partido (dos mais de 250 republicanos que farão parte do novo Congresso, ao menos 233 são homens). 

 

Um deles é o fato de o partido Republicano valorizar o conceito de indivíduo e não se empenhar para atrair mulheres para a política só por causa do seu gênero, afirma Catherine Rymph, professora de história da Universidade de Missouri e autora de um livro sobre mulheres republicanas. “O partido Democrata está disposto a celebrar o fato de o novo grupo de membros do Congresso ser tão diverso em termos de gênero, idade e sexualidade”, diz.

 

“Já os republicanos estão menos interessados em falar sobre políticas identitárias”.  Além disso, as democratas costumam ter uma estrutura de financiamento de campanha mais robusta.  Um estudo publicado em julho de 2018 na revista acadêmica The Journal of Politics mostrou que organizações que lutam por uma maior representatividade feminina na política ligadas ao partido Democrata recebem mais financiamento do que as associadas ao Republicano. 

 

O Emily's List, comitê de ação política (PAC, na sigla em inglês) fundado em 1985 que apoia candidatas pró-aborto, é um dos principais do lado progressista. A organização afirmou em setembro que planejava despejar mais de US$ 30 milhões nas campanhas durante as eleições. 

 

O PAC tem a função de arrecadar fundos e repassar para as campanhas, já que empresas e sindicatos não podem doar dinheiro diretamente para as candidatas.  Já o Winning for Women, criado em 2017 para fazer frente à Emily's List e reduzir o abismo entre republicanas e democratas na política, gastou só cerca de US$ 1 milhão para tentar eleger suas candidatas, segundo a Associated Press. 

 

As eleições deste ano tiveram ingredientes a mais que favoreceram as progressistas. O movimento #MeToo, a resistência a Donald Trump e a nomeação do juiz conservador Brett Kavanaugh para a Suprema Corte estimularam mais candidaturas femininas do lado democrata, diz Rymph.  Para a historiadora, o partido Republicano precisa elaborar uma estratégia para atrair mais mulheres para a política.

 

“As mulheres precisam ter voz em ambos os partidos, é uma vergonha não ver tantas republicanas concorrendo ou sendo eleitas”, diz.  Caso contrário, pode carregar a pecha de ser um partido de homens, o que poderia afastar eleitoras e prejudicar Donald Trump e os republicanos nas eleições de 2020. Segundo levantamento da Associated Press, 57% dos votos femininos foram para democratas. Entre homens, 51% foram para republicanos segundo o Folhapres.