Valter Campanato/Agência Brasil

O estudo foi publicado na quinta-feira 2. Diante da repercussão, o CEEEx retirou a publicação do ar, mas o texto foi disponibilizado novamente pelo jornalista Reinado Azevedo, no portal UOL. Em 22 páginas, o documento chamado “Crise covid-19: estratégias de transição para a normalidade” relembra as fases da proliferação da doença, desde a China, e cita o “crescimento exponencial dos casos, com milhares de mortes” na Europa e nos Estados Unidos.

Um dos principais pontos do estudo debate sobre as consequências econômicas do isolamento social, questão vista por Bolsonaro como justificativa para defender o fim da quarentena e a volta dos trabalhadores informais às atividades.

O texto reconhece que a estratégia do isolamento social gera consequências diretas para a economia, em função do congelamento de segmentos produtivos e de serviços. Além disso, admite que trabalhadores informais, 41% da força de trabalho brasileira, são os impactados de forma mais imediata, assim como os pequenos comerciantes.

Ao mesmo tempo, afirma que o modelo horizontal de isolamento “tem se apresentado mais eficiente para atender as demandas emergenciais de saúde pública” e conclui que “o Estado será o grande protagonista de auxílio e de recuperação econômica”, com soluções que agilizem a transferência de renda e demais ações que reduzam eventuais pressões sociais.

“O dilema entre salvar vidas ou manter a atividade econômica, que se apresenta nesse momento de crise, é apenas aparente, pois, para preservar vidas, são necessários meios em pessoal, material e instalações, disponíveis no local certo e no momento oportuno”, diz o estudo.

O estudo do Exército considera que o isolamento vertical, ou seja, voltado apenas para quem compõe o grupo de risco, deve ser adotado apenas após os objetivos do isolamento horizontal serem atingidos, com um comprovado achatamento da curva dos novos casos da doença.

Contudo, para que haja sucesso no isolamento vertical, é preciso combinar uma série de regras duras, como “rígido cumprimento das orientações das autoridades (aspecto cultural), necessidade de um rigoroso isolamento dos grupos de risco e grande disponibilidades de testes de checagem rápida”.

Na sexta-feira 3, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também contrapôs as orientações de Bolsonaro e pediu isolamento social. Segundo Mandetta, “a economia sofre muito mais” se o sistema de saúde entra em colapso, porque não haverá outra alternativa se não a quarentena horizontal, “que nós não experimentamos no Brasil”.

Uma das principais preocupações da pasta é a sobrecarga dos hospitais, que pode afetar os estoques de insumos hospitalares, como máscaras e luvas. O ministro da Saúde já alertou que tem enfrentado dificuldades para receber compras da China, país que mais produz estes materiais no mundo. Carta Capital