O ex-secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, admitiu que não foram cumpridos diversos procedimentos obrigatórios na condução dos contratos dos respiradores que não foram entregues ao Consórcio Nordeste. Além disso, ele nega que tenha recebido qualquer valor para intermediar as negociações. Dauster foi apontado pela dona da empresa Hempcare, Cristiana Prestes Taddeo, como a pessoa com quem ela fez as tratativas do contrato.

Ela disse que o secretário teria autorizado a compra dos respiradores nacionais, depois dos respiradores chineses terem apresentado problemas em outros estados. Em entrevista exclusiva à TV Bahia, nesta última quarta-feira (17), o ex-secretário explicou porque usou intermediários para fazer a compra dos respiradores.

“Nós tínhamos condições de prazos razoáveis e de acordo com a nossa necessidade, através de intermediários. Nós confiávamos e isso é, reconheço, questionável, que as pessoas estavam agindo de forma correta como nós estávamos e que em uma situação de pandemia, as propostas que seriam feitas seriam todas reais. Claro que, sempre que a gente percebesse qualquer problema contra a nossa ideia, era interrompido o processo de compra e resolver a questão imediatamente”, explicou Dauster. Bruno admitiu que diversos procedimentos que são obrigatórios para resguardar os contratos públicos não foram seguidos.

Ele atribuiu o descumprimento em razão da urgência da pandemia. “Você tinha empresas que não tinham uma tradição, mas que tinham equipamentos e que vendiam. Tanto que eles chegaram em alguns lugares ocasionalmente. Esse procedimento foi o único possível. Foi um procedimento que identificamos como viável naquele momento que era absolutamente fora do normal para que, no prazo necessário, a gente desse o volume de equipamentos necessários”, disse Bruno.

Um dos procedimentos não seguidos no processo de compra dos equipamentos foi a licitação, dispensada por causa da urgência. “Se você quisesse fazer um processo de licitação, no mínimo, você levaria 45 dias para receber. Quantas mortes significariam você ter uma solução do processo em 45 e receber em mais de 90 dias o equipamento?”, questionou o ex-secretário. Dauster disse ainda que não conhece o empresário Paulo de Tarso, dono da empresa Biogeoenergy, fornecedora dos respiradores no país.

O ex-secretário nega que tenha recebido qualquer valor para intermediar as negociações. “Nunca conheci, não tivemos nenhuma relação comercial com esse empresário durante todo o processo de compra. Em verdade, eu estou processando o Paulo de Tarso por calúnia, por ele ter afirmado, inclusive, através da TV Bahia, de que eu recebi dinheiro disso. Eu nunca recebi dinheiro nem de nenhuma das transações comerciais ou de projetos especiais que eu tenha participado”, relatou Dauster.

“Eu coordenei além desse momento da pandemia, todos os projetos importantes daqui da Bahia. E como eu sempre tive minha vida regida com princípios de honestidade e transparência, quando esse senhor faz essa afirmativa, sem ter nenhuma base para fazê-la, está apenas tentando me caluniar”, completou.

O ex-secretário pediu exoneração da secretaria da Casa Civil na mesma semana em que foi deflagrada a Operação Ragnarok. Ele explicou o motivo do pedido de demissão do cargo. “Primeiro que eu não precisava de ter foro privilegiado, porque eu não cometi nenhum ato ilícito nem nada que pudesse justificar que eu tivesse medo de alguma ação na Justiça. Se tivesse, eu não teria pedido nunca, para manter o foto privilegiado”, disse Bruno.

“Em segundo lugar, eu pedi porque não queria que fosse politizado essa questão, pedi antes que meu nome fosse citado por qualquer pessoa porque eu pedi na abertura do processo. O que eu queria era evitar a politização que, infelizmente, aconteceu e estamos em um momento que tudo está sendo politizado”, completou. Dauster disse ainda que não conhece Fernando Galante e Cleber Isaac, apontados como intermediários na negociação, que teriam recebidos juntos R$ 12 milhões como recompensa.

“Me surpreende porque eu nunca tinha ouvido o nome de Fernando Galante até o dia em que apareceu essa notícia de que ele teria intermediado algo que eu pelo menos posso garantir, acho que ele não participou para nada, pelo menos que fosse do meu conhecimento. O mesmo vale para Cleber, à quem não conheço, com quem nunca falei. Não os conheço e não sei que intermediação eles fizeram porque nunca me contactaram e quem estava fazendo essa negociação fui eu”, explica o ex-secretário.

Bruno admitiu que pode ter tido erros na condução das negociações e na execução do contrato de compra dos respiradores. “Para mim é um valor altíssimo, quero deixar claro em primeiro lugar, independentemente do valor de contratos que nós tenhamos trabalhados ao longo da vida. Segundo, eu imaginava que, contratualmente, havia sido previsto uma cláusula de garantia de seguro. Mas, efetivamente, não veio no contrato e não participei da assinatura dele. Não estou com isso tentando transferir responsabilidade ou culpa para ninguém”, contou Bruno.

“O que eu poderia dizer é que só pode dizer que não errou quem mente. Eu posso dizer que acredito que eu possa ter cometido erros e, seguramente, os cometi porque o dinheiro ainda não foi devolvido, agora o fato de ter cometido um erro em uma situação dada, não deveria ser motivo para ilações caluniosas. O contrário, nós deveríamos avaliar o conjunto para chegar em alguma conclusão”, completou.

O empresário Paulo de Tarso afirmou em uma entrevista na última quinta-feira (11) que não devolverá o valor investido porque gastou totalmente os R$ 24 milhões recebidos para poder começar a fabricar os respiradores. No entanto, Dauster disse que acredita que o dinheiro possa ser devolvido.

“Acredito que ele vai ser devolvido e poderia até dizer que, durante o processo de cobrança que nós fizemos, o tempo todo foi dito ‘nós vamos devolver’. Nós só entramos na Justiça e chamamos a polícia porque não vimos essa devolução acontecer, mas eu acredito que será devolvido”, relatou o ex-secretário. G1