Divulgação

Um estudo coordenado pela União Pró-Vacina da Universidade de São Paulo (USP) aponta que, de maio a julho, houve um crescimento de 383% no número de publicações de conteúdos falsos sobre a vacina da Covid-19. As postagens analisadas foram feitas em páginas do Facebook dos dois maiores grupos anti-vacina do Brasil.

Ainda segundo o estudo, 35% das publicações são de conteúdos importados, ou seja, textos em outro idioma ou com tradução quase literal.

Segundo o idealizador do projeto e analista de comunicação do Instituto Avançado da USP de Ribeirão Preto (SP), João Henrique Rafael Junior, a pesquisa é um alerta à população para buscar fontes confiáveis de informação em meio ao que ele chama de “infodemia”.

“Não compartilhe, procure as fontes oficiais, os órgãos de saúde, porque, de agora até o lançamento dessas vacinas, que pode demorar um tempo, muita desinformação será gerada e compartilhada sobre este tema. Cabe a nós ajudar a mitigar este cenário tão complicado.”

O resultado foi encaminhado ao Congresso Nacional como sugestão para nortear a discussão sobre o projeto de lei de combate às fake news.

Análise

Segundo Rafael Junior, juntas, as duas páginas na rede social têm 21 mil seguidores. O número é considerado pequeno, mas significativo por causa do compartilhamento dos conteúdos, que pode alcançar um número expressivo de pessoas.

No Brasil, o Instituto Butantan e a Fiocruz são parceiros de estudos na China e no Reino Unido para o desenvolvimento do imunizante contra o novo coronavírus. A expectativa é que os resultados dos testes sejam conhecidos até o fim de 2020.

Enquanto os trabalhos científicos são conduzidos com a observância de critérios exigidos internacionalmente, os grupos anti-vacina prestam um desserviço à sociedade, de acordo com Rafael Junior.

“A maioria se apoia em teorias da conspiração, que não têm nenhum fundamento científico ou qualquer base aceitável. Teorias que enxergam as vacinas como um plano para conseguir ganhos financeiros, ou questões mais técnicas, que acabam desvirtuando a ciência, como alegar que as vacinas vão alterar os DNAs das pessoas, que introduziriam chips dentro do ser humano e, com isso, as pessoas seriam controladas. São fatos absurdos.”

Mais acesso

O analista cita que um estudo divulgado em agosto pela Avaaz, uma organização civil que age em causas internacionais urgentes, também alerta para o aumento da divulgação de conteúdos falsos sobre saúde.

Segundo um levantamento realizado em 2019, as páginas no Facebook de dez dos maiores sites de produção de conteúdo desinformativo sobre o assunto foram acessadas quatro vezes mais do que as das 10 principais instituições que trabalham o tema, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o norte-americano Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC).

Educação

Com base na coleta de materiais compartilhados, a União Pró-Vacina desenvolveu um guia interativo para ajudar a esclarecer a população. O material está disponível na internet.

“Essas fake news a gente descobriu que, além de serem recorrentes, já eram rebatidas há muito tempo. Com artigos científicos, investigações científicas, explicamos porque essas afirmações estão erradas e envolvem conspirações, que não são só brasileiras. Tem muito tempo e vem se intensificando internacionalmente há poucos anos”, diz o estudante de farmácia da USP Wasim Aluísio Prates Syed.

O estudo, segundo Syed, mostrou que se o Facebook usasse alertas para fake news nas postagens, a disseminação desse tipo de conteúdo seria reduzida em 84%.

“A gente espera que, com esse relatório, as redes sociais tomem uma responsabilidade muito séria sobre a disseminação de fake news, para que essas informações não cresçam nas redes sociais a ponto de a gente ter uma crise de confiança nas vacinas, não só contra Covid-19, mas todas as vacinas anteriores.” G1