Estava tudo encaminhado, praticamente definido, mas faltava aquele empurrãozinho. Foi o que petistas dizem que ocorreu quando Rui Costa (PT) falou, em entrevista nacional na semana passada, pela primeira vez, ressalve-se, que o senador e antecessor Jaques Wagner (PT) é candidato a governador da Bahia. A fala é um marco porque ela confirma, na outra ponta, uma posição importante do governador que não havia sido ainda retirada dos cálculos petistas apesar de nunca ter sido abordada publicamente por ele – a possibilidade de, levando em conta seus excelentes índices de avaliação, Rui decidir concorrer ao Senado.

Caso optasse pela candidatura, o governador estaria inviabilizando a colocação de Wagner na disputa, porque, pelo estado local e nacional em que se encontra na atualidade, o PT não teria condições de lançar uma chapa majoritária com dois quadros partidários. O próprio senador já havia dito, em várias rodas de conversas com petistas e aliados, que, caso Rui em algum momento decidisse concorrer, trilhando um caminho muito comum a mandatários que deixam suas administrações bem avaliados, sua postulação estaria descartada, exatamente por causa do desarranjo que causaria na base, em especial sobre o aliado PSD.

O grau de especulação em relação à decisão de Rui sobre a senatória chegou ao elevado ponto de alimentar rumores de que ele buscara tratar do assunto em São Paulo, diretamente com o ex-presidente Lula, cujo interesse em ver o PT eleger bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado é conhecido. Assim como turbinar uma versão de que, no encontro exclusivo com o líder petista, o governador não teria ouvido palavras que o estimulassem, além de uma outra segundo a qual seu eventual interesse no Senado poderia estar na origem de um alegado estresse na relação entre ele e o senador que virou assunto na legenda.

Atento ao movimento e às oportunidades que poderiam lhe ser abertas no caminho, um partido importante da coalização governista, o PP, chegou a passar a contar com a possibilidade e, em alguma medida, até mesmo a incentivar Rui a fazer o percurso da campanha, também, segundo se comenta, para irritação expressa de Wagner. Então, o objetivo era abrir espaço para que o vice-governador João Leão realizasse o sonho de assumir o governo porque, para poder concorrer, Rui teria que renunciar ao mandato, o que, bem negociado com a legenda governista, poderia ocorrer nove e não seis meses antes, como determina a lei.

Seria um presentaço para Leão e as duas bancadas, federal e estadual, do partido, que, como a realidade mostra, fica mais longe de se concretizar depois que Rui foi a público firmar, finalmente, a posição de que o PT tem candidato à majoritária e o titular da vaga é Wagner. As declarações foram acolhidas com festa entre os petistas dado o grau de insegurança que acertos pendentes para o confronto eleitoral ainda estavam gerando. Agora, o partido, Wagner e sua articulação política estão mais tranquilos para tocar as conversas com o próprio PP, bem como tentar atrair novos aliados, fila em que vem colocando o MDB, o PV e o Solidariedade. Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna