(Inácio Teixeira/Secom)

Desta vez não teve polêmica. Esqueça o amarelo de 2019. No Carnaval em que o Filhos de Gandhy completa 71 anos de existência e resistência, foram os tradicionais e azul e branco que predominaram na fantasia. Neste ano, a roupa faz referência aos orixás Omolu-Obaluyê, deuses da doença e da cura. A escolha parte do entendimento do afoxé sobre as enfermidades que estão atingindo o mundo. 

O traje traz losangos azul na frente e é quase todo branco no fundo. Também estão presentes referências ao elefante (significando a força), camelo (a resistência) e a cobra (Oxumarê). Na parte da frente a roupa tem maior presença dos tons de azul, com vários losangos e desenhos de Omolu na região da barriga e nos pés. Também tem algumas imagens de Gandhy e a pomba da paz. No fundo, o tom predominante é o branco, com o nome do bloco e o ano de fundação escritos em azul. O turbante também tem uma imagem de omolu e alguns losangos.

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(Foto: Ronaldo Jacobina) 

Depois de realizar seu tradicional ritual no Largo do Pelourinho, o Gandhy iniciou seu desfile no contrafluxo. O afoxé deixou a praça Municipal em direção ao Campo Grande por volta das 16h40 – quarenta minutos após o previsto. Mas nada que atrapalhasse a alegria do afoxé.PUBLICIDADE

Saindo no Gandhy pelo sétimo ano seguido, Herbert Viana afirmou que o Gandhy tem a energia diferente e faz qualquer um se mexer. Por conta disso, mantém firme a sua fidelidade ao bloco. A ideia foi aprovada por Evangelista, sócio do afoxé há 37 anos e que curtia a festa encostado na corda para poder dançar com mais liberdade e encantar àqueles que deram a sorte de cruzar seu caminho.

“O Gandhy é um sinônimo de liberdade, de empoderamento do povo negro. Essa mensagem de paz é muito importante em tempos tão complicados”, disse o folião. Edson Carvalho, Demerson Washington e Bigode. Juntos há mais 30 anos saindo com os filhos de Gandhy. Os três afirmam que não largam o bloco por nada e são encantados pela mensagem de paz que o bloco se propõe a levar

Evangelista tem 40 anos de Gandhy e curte colado na corda para dançar e se manifestar com liberdade. O motivo para dedicar tantos anos ao bloco é simples: para ele, o Gandhy é uma ferramenta de empoderamento negro. 

Problemas no trio

Tudo corria bem no desfile do Gandhy, mas o afoxé enfrentou problemas técnicos logo após sua tradicional parada na Castro Alves.  Primeiro, o som dos instrumentos e vozes foi interrompido após um estrondo daqueles tipico de caixas de som pifando. Foram 20 minutos até o som retornar.

Mas logo depois o som voltou a parar. No primeiro retorno, o volume já estava baixo e logo depois cessou de vez. A partir daí, os seguidores do Gandhy seguiram caminhos diversos. Teve quem ficou aproveitando o pagodao que estava rolando  um mirante improvisado na Carlos Gomes e teve quem seguiu com o trio no mais estranho silêncio. 

Sócio do Gandhy há 25 anos, Cleidson Araújo afirmou que esse problema é coisa recorrente no trio e que se frustra sempre que acontece. “É desleixo histórico. Eles têm um ano para se preparar é sempre tem isso. Mas bola pra frente. Sempre resolve”, afirmou. Mas teve gente que não contemporizou a falha técnica. Um grupo chegou a vaiar e fazer coro de “ei, fora” quando o trio passava no Edifício Sulacap. Para sorte de todo o mundo, o som voltou ainda durante o protesto e o trio seguiu em frente. Correio da Bahia