Agência Brasil

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) afirmou, em depoimento prestado ao Ministério Público no último dia 20 de julho, que, se “não tivesse acontecido nada de anormal”, o seu ex-assessor Fabrício Queiroz provavelmente estaria trabalhando com o parlamentar no Senado. O jornal “O Globo” publicou novos trechos do depoimento de Flávio em sua edição online. A TV Globo também teve acesso a esses trechos.

Queiroz é alvo da Operação Furna da Onça, que investiga a prática de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O MP apura se houve vazamento da operação e se a demissão de Fabrício Queiroz do gabinete de Flávio Bolsonaro tem relação com o suposto vazamento. O senador nega que tenha recebido informação vazada e que isso tenha relação com a demissão do ex-assessor.

“Quando ele [Queiroz] pediu para sair ele falou pra mim duas coisas: ‘chefe, eu vou, eu tenho que fazer meu processo de passagem para a reserva da polícia militar’. Ele parece que tinha […], quando estava à disposição na assembleia, ele tinha que retornar à corporação . Aí ele aproveitava pra cuidar da saúde dele”, disse Flavio Bolsonaro durante depoimento.

O procurador, então, questionou Flávio Bolsonaro sobre uma informação dada por Fabrício Queiroz em um depoimento da investigação. Queiroz afirmou ao Ministério Público que tinha expectativa de trabalhar em Brasília, no gabinete do senador. Flávio Bolsonaro confirmou e disse que Fabrício Queiroz “sempre” foi uma pessoa da “confiança” dele.

“Expectativa era que ele viesse comigo mesmo. Sempre foi uma pessoa da minha confiança. Então, se não tivesse acontecido nada de anormal como aconteceu, ele provavelmente estaria aqui comigo hoje. Então foi assim as coisas foram acontecendo nesse cronograma, e, quando explodiu essa situação dele em dezembro, no dia 6 de dezembro, obviamente que não tinha mais clima ele vir trabalhar comigo”, disse Flávio Bolsonaro. Nesse mesmo depoimento, o senador confirmou que esteve em uma reunião no dia 6 de dezembro de 2018, na casa do empresário Paulo Marinho.

Foi depois da divulgação do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que identificou movimentações atípicas de Fabrício Queiroz, quando este era assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Alerj. O senador disse que, na ocasião, procurava um advogado para ele e não para Queiroz e que a sugestão de recorrer a Paulo Marinho foi do pai, o então presidente eleito Jair Bolsonaro.

“Foi, mas pra mim, não era nada de advogado pro Queiroz. Era uma situação que tava acontecendo, né, todo mundo, a imprensa tava atirando pedra em mim, eu tinha que me defender. Eu tinha que buscar um advogado. Foi nessa intenção que… porque o Paulo Marinho, eu sempre, eu tinha a percepção que era uma pessoa bem relacionada no mundo jurídico. Então, fui consultá-lo, se ele tinha uma pessoa pra me indicar, foi isso”, declarou Flávio.

O empresário Paulo Marinho é o suplente de Flávio Bolsonaro no Senado. Foi Marinho que denunciou suposto vazamento da operação que investiga as “rachadinhas” na Alerj. A assessoria do senador declarou que as afirmações de Paulo Marinho têm “o objetivo de manipular a justiça em interesse próprio”; que o parlamentar já prestou todos os esclarecimentos a respeito; e que nega, categoricamente, o que foi dito pelo empresário.

Depoimento de ex-assessora

A reportagem teve acesso a outro depoimento desse mesmo inquérito, de uma ex-assessora de Flávio Bolsonaro, também na Alerj. Valdenice Meliga foi ouvida no dia 28 de maio. Segundo Paulo Marinho, Valdenice foi uma das pessoas que souberam que a operação Furna da Onça iria acontecer.

Marinho disse que as informações teriam sido passadas por um delegado da Polícia Federal. Além de Valdenice, teriam participado do encontro o coronel Miguel Ângelo Braga, atual chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro no Senado, e Victor Alves, advogado de confiança do senador.

Valdenice negou que tenha tido conhecimento da operação com antecedência. “Não tive encontro nenhum. É de uma irresponsabilidade do Paulo marinho ter me colocado e os outros. Eu não tive encontro nenhum”, afirmou. Em nota, Paulo Marinho disse que quem mencionou a presença da ex-assessora no suposto encontro com um delegado da PF foi Victor Alves. G1