As três esferas do Poder Executivo acompanhadas mais de perto pelo jornalismo do Bahia Notícias estão prestes a finalizar os arranjos políticos para acomodar aliados no período pós-eleições. ACM Neto foi o primeiro a concluir em Salvador, Rui Costa está em fase de conclusão na Bahia e Jair Bolsonaro ainda deve demorar um pouco para completar os cargos de escalões inferiores com a negação da política de “toma lá, dá cá” a que se propõe.

No entanto, uma coisa é certa: todos tiveram aliados que ficaram insatisfeitos com os espaços reservados. Ou, para ser mais explícito, não houve nenhum aliado plenamente satisfeito com esses espaços. Por quê? Por uma razão muito simples: na política sempre se quer mais e mais.

Em um depoimento anexado à sentença que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do Sítio de Atibaia, Marcelo Odebrecht resume bem a lógica dos partidos: “da boca de jacaré para a boca de crocodilo” – ou seja, quanto mais recebem, maiores ficam e maiores ainda querem ficar. O herdeiro de Norberto falava do PT, porém a ideia pode ser aplicada às mais diversas legendas.

Enquanto houver cargos disponíveis, haverá tentativa de angariá-los. E mesmo quando esses cargos não estão disponíveis, acontece o embate. É assim que se constrói a cena democrática brasileira e negar esse jogo é subjugar as disputas de micropoderes.

Em Salvador, o presidente do Solidariedade, Luciano Araújo, chegou a ensaiar uma rebelião pública após a sigla perder a Secretaria Municipal de Trabalho, Esportes e Lazer para o PSL. O Solidariedade ficou com a presidência da Câmara de Vereadores, com Geraldo Jr., mas ainda assim queria mais. Ficou a ver navios, porém não é descartado o aproveitamento de Luciano Araújo em alguma assessoria na prefeitura da capital baiana.

No âmbito estadual, a declaração pública nesse sentido que teve maior repercussão veio da presidente do PSB na Bahia, a deputada federal Lídice da Mata. Contemplada com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a parlamentar admitiu que esperava uma outra pasta sob a tutela do PSB. No entanto, o lugar que coube ao partido não foi desmerecido e os socialistas indicaram João Carlos Oliveira da Silva.

Faz parte do processo de construção dos governos a coalizão entre os aliados. Não que seja necessário a política adotada pelo ex-presidente Lula e que terminou, anos depois, condenada como Mensalão. O desafio daqueles que chegam ao poder é exatamente coordenar um acordo de cavalheiros (e damas) para que haja governabilidade suficiente para que projetos encaminhados pelo Executivo passem pelo parlamento.

No plano federal, o governo de Jair Bolsonaro até então tem mantido o discurso de que não vai se submeter ao loteamento de cargos como outros seus antecessores. Todavia, dificilmente esse tom será mantido quando chegarem projetos relevantes, a exemplo da reforma da Previdência ou o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro.

Por uma argumentação muito simples: o balcão de negócios envolvendo os escalões mais baixos do governo passa despercebido até mesmo para a imprensa, que dirá para a opinião pública. E, como citou Marcelo Odebrecht, a política cria jacarés para virarem crocodilos. Este texto integra o comentário desta quarta-feira (13) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM. (Fernando Duarte) Foto: Anup Shah