Foto: Jade Coelho/ BN

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Isso não é novo. Na política, há um conceito ligeiramente diferente: dois egos não podem ocupar o mesmo espaço. Talvez esse seja o resumo do conflito público mais recente entre o governador Rui Costa e o presidente Jair Bolsonaro, no embate sobre a inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista. Na quinta-feira (1º) houve, finalmente, um desfecho para a celeuma: Rui conseguiu tirar a “foto oficial” com a presença de aliados em frente ao equipamento.

Precisou passar pouco mais de uma semana para que o governador fosse em Conquista entregar a policlínica da região. O centro médico teve a inauguração antecipada após a “briga” pela paternidade do aeroporto. Se no último dia 23 Bolsonaro acabou reinando absoluto em meio a uma claque de aliados e com forte esquema de segurança – feito exclusivamente por forças federais -, o ato de ontem foi o momento para que Rui não tivesse adversários políticos. Até mesmo o prefeito do município, Herzem Gusmão, preferiu se ausentar, “pagando com a mesma moeda” a ação do chefe do Executivo estadual há pouco mais de uma semana.

O conflito entre forças políticas contrárias não é novidade para a Bahia. Em Salvador, por exemplo, a eterna disputa por protagonismo entre o prefeito ACM Neto e o governador provocou uma série de intervenções na cidade, que vão desde obras de mobilidade até a construção de encostas. No entanto, depois de uma série de eleições com a lógica de “time” falando muito alto – vide o resultado das urnas na Bahia entre 2006 e 2014 -, a população parece ter gostado de ver instâncias diferentes controladas por grupos distintos. O resultado é uma disputa relativamente saudável para ver quem produz mais, quem entrega mais ou quem melhor comunica que fez mais.

O aeroporto conquistense foi o episódio mais emblemático do passado recente. Porém não foi a primeira vez que houve uma discussão sobre quem executou uma obra. Quando Michel Temer estava no poder, as inaugurações de estações de metrô na capital baiana perderam a festividade típica do período em que o PT esteve no Palácio do Planalto. Ali, não houve uma discussão explícita. Porém era impossível não perceber que havia tensão sobre a paternidade da obra. A diferença é que Temer era “cachorro morto” e politicamente não valeria a pena comprar uma briga homérica. Melhor deixar passar. Já com Bolsonaro, a história é outra.

O presidente da República precisa do antagonismo de figuras como o governador baiano para se manter “na crista da onda” que o levou à eleição. Rui depende de embates públicos com Bolsonaro para ser catapultado à condição de presidenciável em 2022 – ainda que ele se esforce em negar a intenção. Por isso, mesmo que não tenha feito uma “segunda inauguração” do aeroporto de Conquista, posar para fotos em frente ao letreiro é fundamental para a construção da imagem dele.

Ao final, na disputa entre os egos de Bolsonaro e Rui, ganha a população, que recebeu o aeroporto e ainda, de quebra, levou uma policlínica ligeiramente antes do tempo. Esse foi apenas mais um momento. Até as próximas eleições, teremos muitos outros embates públicos. Recomendo pegarmos a pipoca. Por Fernando Duarte/Bahia Notícias