EC Bahia

A contratação do lateral direito Marcinho pelo Bahia ainda ecoa entre os tricolores. Nesta terça-feira (2), um dia após o anúncio oficial, o diretor de futebol Eduardo Freeland concedeu entrevista e falou sobre a chegada do atleta.

O dirigente falou sobre o atrito com parte da torcida, que protestou contra o acerto com o lateral. Assim como no vídeo de apresentação, Freeland justificou a oportunidade dada pelo Bahia como uma segunda chance e garantiu que a decisão pela contratação foi tomada após análise dos efeitos que poderia gerar. Na segunda feira, a campanha “Marcinho não” ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter.

“De certa forma a gente já esperava a repercussão negativa, mas a gente também vê uma repercussão positiva. A gente é muito sensível a esse olhar, esse tipo de discussão. É um tema relevante. A gente procura ser muito racional, analisar de uma forma bem crítica. O fato de ser um jogador que eu conheço o histórico pesa. As decisões não são tomadas por uma pessoa só, mas o presidente me deu a chave do futebol e me deram carta branca para tomar essa decisão”, iniciou.

“Essa discussão é importante. A única preocupação que a gente tem é de não gerar a cultura do ódio. Isso é importante. A divergência entre opiniões, se for num nível elevado, é importante. Estamos tratando de temas além do futebol. É um ser humano, que reconheceu o erro, que pediu perdão. Vamos acatar sempre o que a Justiça determinar, mas é um ser humano que precisa trabalhar. Claro que a gente entende que o jogador de futebol é uma figura notável, mas se fosse qualquer outra profissão ele não voltaria a trabalhar? A gente reconhece a discussão, mas após analisar durante dois meses a gente entende que faz sentido trazer o jogador”, completou.

Questionado se o Núcleo de Ações Afirmativas do Bahia (NAA) foi consultado em relação a chegada do lateral, Freeland voltou a falar em decisão compartilhada e afirmou que na dividida entre repercussão negativa com os torcedores, qualidade técnica e segunda chance, ficou entendido que valeria a pena bancar a chegada do atleta.

“Uma das grandes admirações que eu tenho do Bahia é das ações inclusivas que o Bahia passou a ter. Isso é muito importante. Perante a essa análise, temos a percepção de que pode gerar discussão, mas também uma percepção contrária do que algumas pessoas pensam. Por exemplo, estamos falando de incluir uma pessoa que pode voltar a trabalhar. Claro que gera discussão, mas a nossa percepção é que estamos fazendo bem a uma pessoa […] temos que tomar cuidado para não partir para a política do cancelamento. Estamos falando de outro ser humano e me sinto confortável em dizer que é um jogador sério, dedicado e comprometido. Todos nós cometemos erros e ele cometeu e está pagando. Não podemos cancelar ele e virar as costas”, analisou.

“Acho que o Bahia é um clube que tem um lado humano muito forte, claro que o lado humano se aflora de várias formas, mas basicamente toda a discussão girou em torno desse ponto. Qual o retorno que vamos ter ? O fato de analisar o lado humano do processo, em tudo que foi discutido, fez a gente entender que fez sentido”, explicou.

Marcinho estava treinando na Cidade Tricolor desde a última semana. Perguntado se a demora para o anúncio se deu por uma estratégia do Bahia para reduzir o impacto negativo da contratação, Freeland explicou que o clube precisou resolver trâmites burocráticos antes de fechar o acordo.

“Todo o imbróglio foi simplesmente documental. A  gente queria anunciar Marcinho semana passada, mas como ele está vindo por empréstimo de um clube de fora, gera um trâmite mais burocrático. Esse trâmite demorou em função das questões do clube, os acordos, e só ontem a gente conseguiu ficar tranquilo de que poderia anunciá-lo”, disse.

Em junho, Marcinho acertou com o Pafos, do Chipre. Ele foi anunciado pelo clube europeu, mas foi impedido pela Justiça de sair do Brasil enquanto for réu no processo criminal. O atleta então foi repassado ao Esquadrão.

ENTENDA O CASO 
Marcinho responde criminalmente por ter atropelado um casal de professores que atravessavam a rua no bairro do Recreio, no Rio de Janeiro, em 2020. Na época ele defendia o Botafogo.

Após o atropelamento, o jogador estacionou o carro e foi para casa de amigos. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que o atleta foge do local sem prestar socorro às vítimas. O professor Alexandre Silva de Lima morreu no local. A esposa dele, Maria Cristina, morreu dias depois.

Filha de Maria Cristina, Fernanda Soares Martins contou na época que na fuga, o jogador passou por cima do corpo de Alexandre. O carro que Marcinho dirigia ficou destruído.

No depoimento, o jogador disse que estava em uma confraternização e que saiu por um instante para ir a um supermercado. Marcinho foi indiciado por homicídio culposo. O inquérito ainda está aberto.

Em junho de 2021, Marcinho fez um acordo de indenização para os herdeiros das vítimas. O atleta pagará R$ 200 mil aos quatro netos menores de idade (R$ 50 mil para cada). O jogador tem um acordo extrajudicial com outros cinco parentes maiores de idade – os valores não foram divulgados.

Em junho deste ano, o lateral direito negociou a ida para o Pafos, do Chipre. O acordo com o clube europeu não se concretizou pois ele está impedido de deixar o país enquanto responde ao processo.

Nesta segunda-feira (1º), a campanha “Marcinho não” promovida por parte da torcida do Bahia, ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil. Eduardo Freeland tomou para si a contratação e disse que “conhece o caráter de Marcinho”. Os trabalharam juntos no Botafogo.

“Entendendo o histórico que eu tenho com Marcinho, um jogador que eu tive o prazer de trabalhar na base do Botafogo, um jogador que recebi lá quando tinha 15, 16 anos. Conheci a sua conduta, o seu caráter e todo o entorno do Marcinho. É um jogador que sempre foi profissional em suas condutas, sério e dedicado”, afirmou o dirigente. Correio da Bahia