O economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, defendeu uma “prensa” no Congresso para que o atual texto da reforma da Previdência seja aprovado até o fim do ano.  Caso o tempo de esgote e o projeto não seja votado, a nova equipe econômica apresentará uma nova proposta, o que poderá atrasar a tramitação em um ano. Guedes se encontrou com o ministro Eduardo Guardia (Fazenda), em Brasília.

 

“Na minha cabeça hoje tem previdência, previdência, previdência. Por favor classe política nos ajude a aprovar a reforma, nos ajudem a fazer isso rápido”, disse o economista Paulo Guedes. Ele afirmou que o texto atual da reforma é menos profundo do que o que estão preparando, mas “limpa o horizonte” para reformas estruturantes a partir do ano que vem.

 

“O ótimo é inimigo do bom, se eu puder aprovar o bom agora, aprova. É a reforma ideal? Claro que não”, disse. “O presidente tem os votos populares e o Congresso a capacidade de aprovar ou não. Prensa neles. Se perguntar para o futuro ministro, ele está dizendo 'prensa neles', pede a reforma, é bom para todo mundo”.  O texto proposto por Temer deverá gerar uma economia de pouco menos de R$ 500 bi, o que é considerado pouco por Guedes.

 

Sua equipe pretende apresentar uma nova reforma, que implantaria o regime de capitalização (em que a aposentadoria é resultado da poupança do trabalhador) para os trabalhadores que entrarem no mercado de trabalho, além de apartar a previdência de aposentadorias de assistência social. Os detalhes do projeto, no entanto, ainda não foram revelados. O economista minimizou a dúvida de Bolsonaro em apoiar a mudança de regimes.

 

Em entrevista nesta segunda-feira (5), o presidente eleito disse que tinha desconfiança do novo modelo de capitalização. “É natural e a desconfiança não é só dele, é geral da classe política, é muito natural que falem 'vamos fazer essa transição com calma'. É natural pessoas que não conheçam o assunto profundamente tenham dúvidas, ainda mais um presidente que tem a responsabilidade de ter sido eleito com 56 milhões de votos”, disse. 

 

Guedes afirmou que a estratégia acertada com o líder da articulação política de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, é sondar parlamentares para saber da viabilidade de se aprovar a reforma ainda na transição. Onyx ressaltou, segundo relato de Guedes, que Bolsonaro não poderia perder uma votação na Câmara dos Deputados antes mesmo de tomar posse. 

 

Para o economista, os parlamentares têm vantagens em aprovar o texto atual. Os reeleitos limpam a pauta para o novo mandato e os que deixam a Casa sairiam com a “sensação de missão cumprida”. “Do ponto de vista econômico é extraordinário, desentope o horizonte de nuvens do próximo governo, as notícias vão ser boas e Brasil já entra o ano crescendo”, disse.

 

“Caso não seja possível, Bolsonaro não tem nada a ver com o que aconteceu até hoje. O que aconteceria? Nós perderíamos quase um ano”. Neste caso, disse ele, o esforço do futuro governo será aprovar a nova reforma, que já estão elaborando. “Se é um governo novo, que vai ter que ter o ônus de trabalhar uma nova reforma, por que ter pressa em aprovar isso [o texto atual]? E por que dar esse bônus ao governo que está aí? Vamos mudar, será uma reforma diferente.” 

 

Diante da descrença de jornalistas e de boa parte da classe política quanto à a possibilidade de aprovação de uma reforma da Previdência ainda neste ano, o economista disse que recebeu sinais positivos de Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e de Michel Temer de que é possível tentar aprová-la. Ele minimizou o status de superministro, com a prometida fusão das pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior sob seu guarda-chuva. 

 

“Todo mundo achando que é ministro com superpoderes, é o contrário. Os ministérios estão juntos para evitar superposição. Por exemplo, de repente a Fazenda baixa os impostos e o Mdic não abriu a economia. Ou então tenta abrir sem que a Fazenda tenha reduzido impostos. Não posso soltar a competição estrangeira em cima da indústria brasileira antes de simplificar e reduzir impostos”.