EC Bahia

As derrotas para o Ceará na final da Copa do Nordeste fizeram a diretoria do Bahia adotar um tom reflexivo. Com críticas direcionadas ao Departamento de Futebol, o presidente Guilherme Bellintani utilizou uma entrevista com torcedores, transmitida pelo aplicativo do clube na última quarta-feira, para fazer um balanço sobre a temporada tricolor. Bellintani admitiu que o Bahia foi um time pouco vibrante na final da Copa do Nordeste. Porém, discordou das opiniões de que é preciso contratar para a disputa do Campeonato Brasileiro.

– Assim como concordo com o torcedor, pelo que tenho ouvido falar, da questão principal ser essa falta, às vezes, uma capacidade de se resignar mais com uma derrota, de se incomodar mais com o jogo frio… Eu concordo plenamente com isso. E eu sinto isso como torcedor e como presidente. Mas, ao mesmo tempo, eu discordo frontalmente, de maneira muito clara, de que o problema do Bahia é contratação. Não acho que seja. Acho que isso seria uma atitude de um presidente irresponsável e que quer simplesmente gastar dinheiro do clube para fazer média com a torcida no curto prazo. Primeiro, que o clube não tem mais dinheiro para contratar. A gente precisa honrar os compromissos que tem até aqui. E, segundo, que não é esse o problema do Bahia – disse Bellintani.

– Para mim, está muito claro. Nós temos qualidade de elenco que é razoavelmente superior ao que nós tínhamos no ano passado. E razoavelmente do que a gente vem tendo ano a ano. Eu acho que o elenco deste ano é melhor do que o de 2019, que foi melhor do que o de 2018 e que foi melhor do que o de 2017. Essa é a minha análise. A gente tem, não só um time titular robusto, como a gente tem peças de reposição também muito robustas e que conseguem entrar e dar uma dinâmica de forma a não cair a qualidade. Para mim, portanto, o problema não é falta de contratação. A gente tem jogadores jovens, que ainda estão sendo testados e estão respondendo muito bem. A gente tem um elenco grande, inclusive. Praticamente 40 atletas. No ano passado, a gente jogou boa parte do ano com 27, 28 atletas. Então a gente tem 12, 13 atletas a mais do que tínhamos no ano passado à disposição. E, além disso, entendo que a qualidade que nós temos também é melhor no geral do que a gente tinha no ano passado – complementou.

O presidente tricolor também avaliou que o problema não é a mentalidade do clube, já que parte das críticas de torcedores aponta que a evolução em campo não acompanhou as melhorias administrativas que foram promovidas.

– Não há nenhum problema de mentalidade vencedora. Eu tenho ouvido muitas críticas assim. “O problema é que o Bahia não conquistou uma mentalidade vencedora”. Para mim, não é só isso. Isso tem que tomar cuidado para não virar meio uma coisa, às vezes, só de autoajuda e achar que empolgação e vontade de vencer resolvem tudo. Não acredito nisso. Acho até que está faltando essa mentalidade vencedora, acredito sim. Mas não falta só isso. Está faltando também uma evolução do conjunto como um todo e de conceito mesmo do que a gente quer para o clube, de forma a conseguir entregar uma derrota, entre aspas, se for necessário perder eventualmente. Às vezes, a gente vai perder. Mas entregar com mais brilho, com mais vontade.

O comportamento do time nas partidas da final da Copa do Nordeste foi motivo de conversa entre Bellintani, elenco e comissão técnica. Na última terça-feira, logo após a derrota por 1 a 0 para o Ceará, o presidente teve uma reunião com o grupo. A expectativa é de que os tropeços sirvam de lição para o futuro.

– Falei de forma franca, como falo com todos, entendendo que são homens sérios e pessoas capazes e que precisam absorver críticas. A gente também absorve quando precisa absorver. Mas tivemos uma conversa muito franca. E acho que essa é a forma de reconstruir o momento do clube. Eu sempre tenho dito que, nos momentos bons, nem tudo está bem. E, nos momentos maus, também nem tudo está mal. A gente tinha uma expectativa enorme na Copa do Nordeste, que não foi alcançada. E esse talvez seja o grande elemento da frustração. A expectativa que a gente tinha. Mas, por outro lado, a gente tem que fazer essa ausência da conquista como um ponto de virada para os próximos momentos. E a gente está buscando fazer isso. Cada derrota, a gente vai entender exatamente o que passou. A gente vai sentir a ferida, vai cuidar dessa ferida e vai aprender com isso. Então este é o momento. Ontem à noite, já no vestiário, hoje, amanhã, hoje, no comportamento do próprio jogo de hoje… Tudo isso tem que ser ponto de virada. Repito: quem não aprender com as porradas, é sinal de que não quer evoluir. E a gente aprende com as porradas.

O presidente do Bahia também afirmou que o clube está em busca de reassumir um posto de protagonista regional, que foi perdido nas últimas décadas, quando o Tricolor perdeu espaço para outras equipes e chegou a disputar a Série C do Campeonato Brasileiro.

– Não é verdade que a gente sempre foi protagonista. Passamos 20 anos sem protagonismo nenhum. Queria discordar disso. A leitura que a gente sempre foi protagonista no Nordeste é uma leitura um pouco soberba na minha avaliação. Do ponto de vista de tradição, você está certíssimo. Sempre fomos uma das maiores torcidas do Nordeste, um dos clubes mais importantes em títulos, história. Mas passamos 15, 20 anos, fora do protagonismo de competições. Importante lembrar que o Bahia passou 10 anos sem ser campeão baiano. Isso há 10 anos. Isso é algo muitíssimo relevante. Esse protagonismo estamos assumindo agora. Nos últimos seis anos fizemos quatro finais de Copa do Nordeste. Esse protagonismo poderia ser ainda maior? Poderia.

Com as derrotas para o Ceará, Guilherme Bellintani completará o mandato sem ter vencido a principal competição da região. Na sua gestão, o Bahia chegou na final duas vezes: em 2018 foi batido por Sampaio Corrrêa. O presidente espera que o sentimento de indignação da torcida, assim como de funcionários e jogadores, possa levar o Bahia mais longe.

– De fato, eu não quero aqui criticar, como se os jogadores não tivessem lutado pelo resultado em campo. Mas é preciso acreditar que a gente pode mais. Para mim, essa é a mensagem muito clara. A mensagem de que a gente pode dar um passo além, a gente precisa dar um passo além. E a gente precisa, principalmente, se incomodar quando os resultados não vêm. Porque o resultado não vir faz parte do contexto do futebol. O resultado não aparecer, isso compõe a lógica do futebol. Digo sempre: num campeonato de 20 equipes, só uma ganha o título. Na Copa do Nordeste, são 16 equipes e só uma ganha o título. A gente ficou em segundo. Esse, para mim, não é o problema central. O problema central, para mim, é entender que nós poderíamos ter ido além e não fomos. E a gente precisa se sentir incomodado com isso tudo. A cultura do incômodo, de não aceitar a derrota no Bahia, precisa ser muito melhorada. E, para mim, essa é a principal autocrítica que a gente faz num momento como esse – concluiu. Globoesporte