Em um discurso na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro, direcionado a coronéis e generais da reserva em 20 de agosto de 1993, o então deputado federal Jair Bolsonaro, à época no Partido Progressista Reformador (PPR), defendia a urna eletrônica como alternativa contra fraudes nas votações impressas daquele período, de acordo com a BBC Brasil.

“Esse Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos, e só serão computados 3.000”, gritava Bolsonaro.

À época, os militares discutiam formas de voltar ao poder, sendo que alguns, incluindo Bolsonaro, acreditavam que a democracia era um “sistema viciado”. Como medidas a serem adotadas para assegurar a lisura do processo eleitoral, os homens de farda citavam a proibição do voto a analfabetos, exigência do segundo grau (hoje ensino médio) e a informatização das eleições. “Só com essas medidas conseguiríamos evitar os votos comprados”, afirmou Euclydes Figueiredo, irmão do ex-ditador João Figueiredo, no fim de 1993.

Mesmo tendo sido entusiasta do voto eletrônico, com o tempo, convenientemente Bolsonaro mudou seu discurso. Em 2018, na campanha presidencial, chegou a afirmar que “lamentavelmente, o sistema derrotou o voto impresso. Se tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente da República decidido no dia de hoje.”

Hoje, após ter sido eleito diversas vezes para diferentes cargos com o sistema das urnas eletrônicas, o atual chefe do Executivo e seu ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, propõem uma votação paralela em cédulas de papel por não confiarem no processo eleitoral atual. Tal narrativa golpista também abre margem para se contestar, sem provas, o resultado das votações em caso de derrota e gerar instabilidades na democracia brasileira.