Após a divulgação de pesquisa Datafolha que apontou o mais alto patamar de rejeição ao presidente Jair Bolsonaro , o presidente do DEM, ACM Neto, avaliou que o cenário de desidratação gera incertezas sobre a polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Neto, que articulou no último mês, em Brasília, um almoço com presidentes de partidos de centro para discutir a chamada “terceira via” presidencial, afirma que ainda é cedo, contudo, para apresentar uma candidatura competitiva que rivalize com Lula e com Bolsonaro .

No raciocínio do presidente do DEM, até o ano passado acreditava-se que Bolsonaro tinha uma base fiel correspondente a cerca de 33% do eleitorado, mas os números mais recentes apontam uma queda deste apoio. Segundo o Datafolha , no cenário estimulado, Bolsonaro aparece com 25% das intenções de voto, contra 46% de Lula, que lidera a pesquisa. Espontaneamente, isto é, sem a leitura prévia de opções, 26% mencionaram voto no petista, contra 19% para Bolsonaro.

— As pesquisas mostram que o governo cai a cada avaliação. Hoje não se pode mais prever qual é o piso do Bolsonaro – avaliou Neto.

Com a desidratação de Bolsonaro, partidos de centro têm intensificado as articulações para construir uma terceira via , na expectativa de travar um segundo turno contra Lula. O presidente do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), afirmou que a pesquisa do Datafolha mostra “claramente” espaço para que um candidato alternativo chegue ao segundo turno, e lembrou que os presidentes dos nove partidos que dialogam neste campo assinaram, nesta semana, seu primeiro documento conjunto.

O texto, endossado pelos representantes de PSL, MDB, PSDB, DEM, Solidariedade, Podemos, Novo, Cidadania e PV, trouxe críticas à proposta de reforma tributária apresentada pelo governo.

— A pesquisa mostra claramente que há espaço para um candidato alternativo aos extremos. Nos cenários de segundo turno, isso ainda fica ainda mais evidente – disse Baleia.

Nos bastidores, dirigentes reconhecem que um impeachment de Bolsonaro , pauta que vem sendo levantada por manifestações nas ruas, seria favorável para quebrar a polarização entre o atual e o ex-presidente, mas avaliam que o assunto ainda não mobiliza o Congresso .

Em entrevista ao GLOBO na última semana, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, avaliou que Bolsonaro não dá sinais de que pode recuperar a popularidade e que há “cada dia mais munição” para um processo de impeachment, por conta de denúncias trazidas pela CPI da Covid. Para Kassab, no entanto, a terceira via não pode “manipular” o assunto em proveito próprio.

— A terceira via precisa ter muita credibilidade. Por conta disso, não poderá fazer nenhuma jogadinha para privilegiar sua posição. Apesar de termos suposições graves, o processo não pode ser banalizado – disse Kassab.

Reservadamente, dirigentes também avaliam que a abertura do impeachment esbarra no presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) , aliado do governo, e no relacionamento frio entre o vice-presidente Hamilton Mourão e o Congresso.