EC Bahia

Kanu não é o jogador mais experiente no elenco do Bahia. Também não é o mais antigo, nem carrega o status de craque do time. Mas o zagueiro de 26 anos só precisou de quatro meses na Cidade Tricolor para assumir um papel de liderança no grupo comandado por Renato Paiva.

A boa relação com o treinador não é segredo para quem acompanha o Bahia. O zagueiro é constantemente citado pelo papel de líder nas entrevistas de Renato Paiva. Durante os jogos, o camisa 4 costuma ser chamado para receber recados na beira do campo. E fora das quatro linhas, já foram fotografados juntos durante um jantar.

“A nossa relação se identifica pela maneira que a gente pensa. A gente pensa muito parecido”, contou o zagueiro, ao ge.

– A gente troca ideia e vê muitas conexões. O principal objetivo dele é o mesmo que o meu, e acredito que de todo o grupo, que é fazer o Bahia cada vez maior e ter um grande ano. Quanto mais a gente trabalha, e mais fica unido, melhor para todo o conjunto – completou Kanu.

E se, por um lado, Kanu assumiu o papel de homem de confiança para Renato Paiva, o mesmo acontece no sentido contrário. O jogador também encontrou no treinador alguém para se inspirar.

– Sim, eu tenho respeito muito grande por ele, pelo ser humano que ele é. É difícil no futebol você encontrar pessoas humanas, elas são mais frias, acho que existe muito receio. Ele está de peito aberto aqui para ajudar todo grupo, não só a mim – afirmou o camisa 4 do Bahia.

– Desde que eu cheguei todos falavam muito bem dele. Quando eu cheguei comprovei que o cara é diferente. Muito se fala, besteiras, tentam criar coisas. Mas a gente está totalmente fechado. Sempre estivemos com ele. A gente acredita no profissional e no humano que ele é. Nós passamos a dificuldade juntos e nos manteremos juntos porque a gente acredita muito nele – completa.

Apesar do papel de destaque assumido pelo zagueiro, a faixa de capitão segue no braço de Daniel quando o camisa dez está em campo, como na segunda partida da final do Campeonato Baiano. Na primeira, sem Daniel, Kanu ficou com a braçadeira.

Questionado sobre o assunto, o zagueiro preferiu dar menos importância para a faixa de capitão, e valorizar mais a postura dos “diversos capitães” do elenco. Além do próprio Daniel, ele citou também Danilo Fernandes, Matheus Bahia e Mateus Claus como lideranças.

– Já falei e repito aqui: a faixa de capitão tem que ter no jogo, mas não é isso que define a pessoa. A gente tem diversos capitães lá em atitude. O Danilo Fernandes, que é um baita exemplo para a gente. A gente tem o Daniel, o Matheus Bahia, o Claus. Jogadores que estavam aqui ano passado. O Danilo inclusive sofreu um grave acidente ano passado. Quando eu cheguei aqui foi para continuar esse processo que estava sendo muito bom. Estamos conseguindo melhorar com muito trabalho. Espero aqui poder ajudar, independente de faixa ou não.

Virada de chave

O papel de líder é uma característica que acompanha Kanu, mas nem sempre foi assim. Quando atuava no Botafogo, o zagueiro passou por um empréstimo ao Cabofriense em que sequer entrou em campo. Ainda no Glorioso, chegou a ser afastado do elenco e treinar em horário separado dos companheiros.

– Foi um momento difícil. Logo na base eu conquistei bastante título, e quando subi para o profissional achei que ia ser tudo como eu esperava, mas não é assim que funciona. É muito difícil. Alguns ficam pelo caminho. Eu fui emprestado para o Cabofriense e lá nem joguei – lembra Kanu.

Para dar a volta por cima, ele decidiu fazer mudanças na carreira e passou a ser exemplo.

– Foi quando minha filha estava com meses, foi quando eu decidi abrir mão de tudo que me fazia estar longe do meu grande sonho, que era ser um jogador de futebol de grande nível. Então eu larguei bebida, eu acordava no horário, fazia todas as refeições, chegava cedo, trabalhava muito. E aí graças a Deus papai do céu me recompensou e eu só tenho a agradecer por tudo que ele fez em minha vida – completa o zagueiro.

A mudança de rotina deu certo. Depois de fazer apenas quatro jogos nas três primeiras temporadas com o elenco profissional, Kanu disputou 49 partidas pelo Botafogo em 2020. Nos dois anos seguintes ele entrou em campo mais 85 vezes. O suficiente para chamar atenção do Grupo City e desembarcar em Salvador.

Pelo Bahia, são onze jogos até agora. O número poderia ser maior, mas uma lesão tirou o zagueiro de boa parte da temporada. Por conta disso, ficou outras onze partidas longe dos gramados, entre o início de fevereiro e o meio de março.

Recuperado, o camisa 4 voltou em um momento decisivo para o Bahia ao entrar em campo no mata-mata do Campeonato Baiano e ajudar o time a conquistar o 50º título estadual. Agora o foco está em competições maiores: Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.

O próximo compromisso do Tricolor é pela Copa do Brasil. Nesta terça-feira, o Bahia vai até o Rio de Janeiro enfrentar o Volta Redonda pelo jogo de ida da terceira fase. A partida está marcada para as 16h30 (de Brasília). G1