“Gente que tira alegria da dor, do batecum do batente, todas as cores de gente, contas de todos os guias, uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente só se vê, só se vê na Bahia”. Composição de Jorge Portugal e do parceiro e amigo Roberto Mendes, o refrão está na mente e no coração de muitos baianos.

Homem simples e de legado imensurável na educação e na música baiana, Jorge Portugal, que morreu na noite de segunda (3), em Salvador, faria 64 anos nesta quarta-feira (5). O dia que era marcado para os amigos e familiares por cantos de parabéns e risadas, neste ano será de lágrimas e boas recordações. É da cidade do recôncavo baiano, Santo Amaro, que vem as primeiras memórias de Raimundo Sodré, parceiro de Portugal na composição “A massa”.

Jorge Portugal tinha 63 anos — Foto: Reprodução / Redes Sociais

“Em Santo Amaro, por exemplo, tinha um cenário, aquela escadaria da igreja matriz, ficava lá todo mundo, João Rodrigues, Zé Raimundo, os intelectuais de lá, Jorge Portugal, Luiz Augusto, Roberto Mendes, a gente conversava sobre o mundo inteiro, inclusive das fofocas da cidade. Era interessante isso”, lembrou. Todo dia 5 de agosto, segundo Sodré, era dia de cantar parabéns para Jorge Portugal. Ritual em que ele não abria mão e que vai sentir saudades.

“Todo dia 5 de agosto eu tinha um compromisso em cantar parabéns para você, e, esse ano, ficou difícil. Ele e Roberto Mendes, que faz [aniversário] dia 22 de novembro, pessoas que eu amo e sempre canto parabéns no dia do aniversário e esse ano infelizmente não vou poder cantar parabéns para ele”, contou.
Formado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, Jorge Portugal foi um educador, poeta, letrista e compositor que marcou gerações. Nascido e criado em Santo Amaro da Purificação, além do talento e competência, que eram de conhecimento público, ele é definido como um homem alegre e de bom coração.

“Portugal era uma pessoa super legal, um camarada que demonstrava alegria. Era uma pessoa densa, muito ligada à música e à cultura, era um antenado”, lembrou Raimundo Sodré. Os legados de Portugal também foram lembrados por Jota Veloso, um dos grandes amigos dele. “Falar desse acontecimento de Jorge Portugal é muito doloroso, é o aniversário dele e como ele é muito querido por muitas pessoas, muitas pessoas estão tristes nesse dia”.

View this post on Instagram

Cultura na quarentena.

A post shared by Jorge Portugal (@jorgeportugal09) on

“O que a gente pode fazer é agradecer a sorte de ter tido um parente, um amigo, um parceiro, um cidadão, uma santo-amarense, um baiano, um brasileiro, que deu norte para muitas pessoas dentro da educação, da redação, da composição, sempre sinalizando para um mundo melhor, de vida, para todos nós”, disse Jota Veloso.

O educador ficou conhecido por obras voltadas para estudos universitários, como o livro “Redação é assim”, adotado por cursos pré-vestibulares de Salvador. Sempre sorridente, Portugal se consolidou como apresentador de televisão ao liderar por nove anos o “Aprovado”, programa educativo voltado para estudantes universitários na TV Bahia.

‘A Bahia perde um grande homem, de alma nobre’, diz esposa em despedida
Entre as letras de sucesso compostas por Jorge Portugal está “Só se vê na Bahia”, escrita em parceria com Roberto Mendes e outras composições, que ficaram marcadas nas vozes de Gal Costa, Maria Bethânia e Elba Ramalho, como “Vida vã”, “Filosofia pura” e “A massa”.

Em 2015, Portugal foi nomeado secretário de Cultura da Bahia, onde ficou até 2017. Jorge Portugal deixa esposa, Rita Vieira, e três filhos, o sociólogo Caetano Ignácio, a atriz Bárbara Bela e o jornalista Thiago Dantas.

A cultura baiana perdeu Jorge Portugal na segunda-feira, mas os legados ficam sejam em forma de letras musicais ou de poemas. Aprovado! “Graças a Deus eu tive Jorge Portugal como meu parceiro. Parabéns, meu nobre. Um beijo”, disse Raimundo Sodré.
“O que ele merece é os parabéns sempre, sempre! Parabéns para Jorge Portugal”, desejou Jota Veloso. G1