Pela primeira vez na história, a Igreja do Senhor do Bonfim abrirá as portas durante o Carnaval. Além dela, outros templos católicos decidiram funcionar normalmente para receber baianos e turistas.

No período de festas, o horário de funcionamento da basílica será de segunda a quinta-feira das 6h30 às 19h30; sexta das 5h30 às 19h30; sábado das 6h30 às 19h30 e domingo das 5h30 às 19h30. As missas ocorrerão em diversos horários ao longo do dia.

“A nossa intenção é sempre manter a igreja aberta e também atender a demanda do povo e dos nossos seguidores. Fomos percebendo com os passar dos anos que, mesmo com o local fechado, muitos turistas iam lá. Muitos fiéis também desejavam rezar e encontravam ela fechada. Por isso decidimos abri-la neste Carnaval”, explica o Padre Edson Menezes, reitor da Basílica.

Abrir as portas da igreja durante a folia não é a única ação que a administração da Igreja do Senhor do Bonfim tem feito para atrair mais turistas no Verão. Desde outubro, o horário de funcionamento da basílica aumentou em uma hora, fechando às 19h30, ao invés do tradicional horário de 18h30.

“É a chamada alta estação. O comércio, tudo funciona de modo que possa atender à população, de acordo com a demanda, a procura. A igreja também tem que atender e corresponder o seu público da mesma maneira”, conta o padre Edson.

E quem disse que Carnaval e igreja são inimigos? No período de festas, o padre promete: as missas serão temáticas. “Vamos rezar para que o Carnaval de todos seja ótimo”, conta.

Outras igrejas
As únicas igrejas católicas que estarão fechadas no período de festa são as que ficam nos circuitos do Carnaval (Dodô, Osmar e Batatinha). Entre as que estarão fechadas, está a Catedral Basílica de Salvador, que foi reformada no fim do ano passado, numa obra que custou cerca de R$ 17 milhões.

O local só será reaberto na quarta-feira de cinzas (6), para a realização da missa que celebra o início da quaresma, com a presença do arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.

O Carnaval é celebrado sempre 40 dias antes da Páscoa, desde o século XI. Este período é chamado pela igreja católica de “quaresma” e exige que os fiéis façam um sacrifício e fiquem 40 dias sem comer carne vermelha.

A abertura das igrejas anima a alguns católicos, como o empresário Jackson Palma, 28. No ano passado, ele conta que foi a todos os dias da folia momesca e, logo após, procurou o padre da sua paróquia para se confessar e pedir perdão pelos pecados cometidos.

“Eu vou para o Carnaval buscando diversão. E, assim como em qualquer outra festa, a gente sempre se excede um pouco nos prazeres. No ano passado, eu bebi demais, fiz besteira e depois tive que pedir perdão à Deus. Então é, sim, uma boa notícia as igrejas abrirem durante este período”, opina Jackson.

Do sagrado ao profano
Apesar de nem de longe parecer uma festa religiosa, o Carnaval começou como uma celebração católica. Os cristãos se reuniam nos dias anteriores ao início da quaresma para se divertir e aproveitar os momentos antes do jejum. Entretanto, com o passar dos anos e com o rumo que a celebração levou, nem a igreja considera mais este feriado como religioso.

“Hoje não podemos mais considerar o Carnaval como uma festa religiosa, propriamente dita, mas sim como uma grande celebração popular. Uma festa que traz alegria, mas que também pode trazer prejuízos”, conta o bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Estevam dos Santos Silva Filho.

Para ele, embora os festejos carnavalescos possam desvirtuar o sagrado, é possível curtir a folia sem ferir os princípios católicos.

“Desvirtua quando usa das pessoas para explorar o sexo, a sexualidade precoce, a falta de respeito à dignidade humana, quando as pessoas se vendem. Mas tem muita beleza também no Carnaval, como, por exemplo, a alegria da família”, defende. (Correio da Bahia) Foto: Evandro Veiga