Momentos após a invasão e destruição da Capela de São Roque, do povoado de Tanque da Laje, a oito quilômetros de Itatim, região central da Bahia, moradores do Município se deram conta de que um boato que circulava pela região era real: a Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Ponta Aguda, que foi cenário do filme Central do Brasil, também foi invadida e teve várias imagens quebradas.
Testemunhas afirmaram ao Correio que a invasão demorou a ser percebida porque a Igreja fica em um lugar isolado, precisando subir um longo morro para chegar até suas dependências. O mais normal é que as pessoas se direcionem até lá para fazer fotos na área externa. “Destruíram tudo, até as mesas. Não ficou nada, é uma coisa assustadora para nós”, disse uma moradora.
Mais cedo, os moradores já tinha se deparado com a destruição da Capela de São Roque. Um homem invadiu a Igreja e destruiu São Roque, padroeiro da capela, a de Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição e um crucifixo de madeira e metal fundido. A mais antiga delas era a de São Roque, que estava no local havia mais de 50 anos. As outras, tinham mais de 40 anos. A paróquia ainda não conseguiu estimar o prejuízo material.
Enquanto destruía as peças, o homem usava palavras para reforçar o ato de intolerância religiosa: “Pra que santo?”, “Santo tem boca, mas não fala”, “Deus não mandou fazer imagem”, “Católico fica adorando imagem” e também citou alguns versículos da bíblia. Em nota, a paróquia diz que o homem “insultou a fé católica com palavras agressivas e de agravo à nossa fé”.
Tudo isso chocou a comunidade local. Ministra da eucaristia da capela, Eliete da Silva Mascena Souza, 42 anos, diz que o sentimento é de muita tristeza. “Foi um baque muito grande. Quando eu vi o barulho e a porta da igreja arrombada, com tudo no chão quebrado, deu um aperto no peito. Foi um baque muito grande não só para mim, mas para todo mundo que faz parte da igreja”, conta.
Uma ministra da palavra, que mora um pouco mais distante da capela, foi chamada para ver o estrago e, quando chegou lá, não conteve a emoção. “Ela chegou a passar mal, foi hospitalizada pela emoção que ela ficou. É um sentimento de muita tristeza”, traduz Eliete.
A comunidade suspeita que o ato tenha sido premeditado, já que o jovem, que não teve a identidade divulgada, já teria tentado arrombar a porta da capela no começo da noite de terça-feira (17). Um morador teria conseguido impedir. “Ele teria dito que as imagens levavam os católicos para o inferno, que é culto a ídolos”, contou o padre. A Polícia foi acionada somente para o caso na Capela de São Roque. No caso da Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Ponta Aguda, ainda não foi registrado Boletim de Ocorrência.
Intolerância religiosa
O Ministério Público do Estado da Bahia desenvolveu o aplicativo Mapa do Racismo e da Intolerância Religiosa para receber denúncias. Em nota, o MP-BA explicou que, com essa ferramenta, o usuário pode, com agilidade e segurança, denunciar as infrações penais de racismo, injúria racial e intolerância religiosa cometidas no Estado.
A Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) afirmou que o Centro de Combate Ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela recebeu atendeu a 799 casos de racismo, intolerância religiosa e correlatos em 2021 aqui na Bahia. Foram 270 casos de intolerância religiosa, 460 de racismo e outros 69 correlatos.
A pasta afirmou que não recebeu a denúncia dos casos nas igrejas de Itatim e acompanha o caso por conta da cobertura feita pela imprensa. Procurada, a Diocese de Amargosa não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta reportagem
Segundo o MP-BA, o Mapa do Racismo e da Intolerância Religiosa registrou 21 denúncias do tipo em 2020 e 5 denúncias em 2021. De acordo com o órgão, estes números não correspondem a totalidade das denúncias que chegam no Ministério Público, pois muitas denúncias são reportadas diretamente nas sedes das Promotorias de Justiça de todo o estado. (Correio da Bahia)