Foto : Marcelo Camargo/Agência Brasil

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol, teve a ideia de fazer uma espécie de monumento à operação e às reformas em Curitiba. “Precisamos de estratégias de marketing. Marketing das reformas necessárias”, declarou o procurador, em grupo de conversa com colegas em maio de 2016.

Os diálogos foram obtidos pelo site The Intercept Brasil, analisadas pela Folha, e divulgadas nesta quarta-feira (21). O projeto nunca foi realizado, no entanto, resultou em discussões entre procuradores, com a chefia do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná e até com o então juiz federal e hoje ministro da Justiça Sergio Moro.

Dallagnol tinha o plano de fazer um concurso a fim de construir uma escultura que simbolizasse a operação e as mudanças defendidas pelos procuradores, a exemplo do projeto das Dez Medidas contra Corrupção, que estava tramitava no Congresso, além da reforma política.

O coordenador da força-tarefa demonstrava entusiasmo com o projeto em conversas com colegas no aplicativo Telegram. A peça ficaria na praça em frente à sede da Justiça Federal, que já era palco de atos em apoio à Lava Jato.

“A minha primeira ideia é esta: Algo como dois pilares derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça…”, escreveu.

O plano foi levado pelo procurador a Moro por meio do aplicativo de mensagens. “Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além… Posso contar com seu apoio?”, perguntou ele ao então juiz. Em resposta, Moro demonstrou contrariedade: “Não é melhor esperar acabar?”

O procurador então negou que o objetivo fosse “endeusar” a operação: “Eu apostaria que tão somente a existência do concurso já será matéria de jornal, estimulará o debate sobre reformas, e frisaremos na proposta do concurso das esculturas a necessidade de reformas e que elas simbolizem as reformas necessárias… sabemos que precisamos ir além, como país, e só estou pensando nisso para fazer tudo o que estiver ao meu/nosso alcance”, explicou.

Depois de pedir um prazo para pensar, o então juiz deu uma opinião contrária: “Melhor deixar para depois. Em tempos de crise, o gasto seria questionado e poderia a iniciativa toda soar como soberba”. Moro alertou que iniciativas que soam como homenagens “devem vir de terceiros”.

Procurado pela reportagem, o Ministério Público Federal no Paraná (MPF-PR) afirmou que, em uma força-tarefa, “diversas vezes iniciativas são cogitadas por seus integrantes ou por terceiros, sendo que muitas não se concretizam após reflexão e ponderações, pelas mais variadas razões”.

O MPF disse ainda que os integrantes da equipe “têm reiteradamente defendido que, para além da Lava Jato, haja reformas nas leis para reduzir a corrupção e a impunidade”. Já os procuradores, por meio da assessoria, voltaram a afirmar que não reconhecem “as mensagens que lhe têm sido atribuídas”. “O material é oriundo de crime cibernético e sujeito a distorções, manipulações e descontextualizações.”