Há três semanas, o Brasil perdeu um dos maiores fenômenos da voz feminina da última década: Marília Mendonça, intitulada como a “Rainha da Sofrência”. Em seis anos de estrelato a jovem de 26 anos bateu vários recordes na indústria fonográfica e ganhou milhões de fãs que se identificavam com suas letras românticas e empoderadas.

Entre seus inúmeros feitos, está “Todos os Cantos”: o projeto em que ela cantava gratuitamente para os fãs em cidades por todo o Brasil. Os shows surpresas eram organizados em grandes praças e patrimônios históricos e o anúncio do evento era publicado no Twitter horas antes do início da apresentação. O anúncio em cima da hora, no entanto, não impedia que milhares de fãs fossem apreciar o show da artista. O público variava de 60 mil a 100 mil pessoas.

“Esses shows eram feitos de acordo com os lugares que ela havia passado pela primeira vez. Ela obedecia a ordem das cidades que ela foi contratada no início da carreira. Ela foi fazendo essa trajetória”, revela Alexandre Rossi, programador do Circo Voador e roteirista do projeto, que completa: “Depois da pandemia ela ia voltar com tudo. Ela ia voltar muito maior, porque ela estava no auge”.

Em 2021, em meio à pandemia, ela conseguiu dar continuidade ao projeto documental e pretendia voltar com os shows gratuitos por todo o Brasil em 2022. Rossi conta que Marília já tinha tudo esquematizado: as músicas inéditas e as cidades onde seriam realizadas as apresentações.

Ainda de acordo com Alexandre, a segunda parte de “Todos os Cantos” está pronta, no entanto, depois da tragédia, não é possível afirmar se o projeto vai ao ar. Na segunda temporada a cantora está grávida do pequeno Léo e demonstra vontade de diminuir o ritmo frenético dos shows para poder dar mais atenção à família.

“(Lembro dela) falando: ‘Pow cara, eu estou fazendo cinco shows agora na última semana de gravidez. E eu vou ter que parar de fazer isso porque eu quero curtir meu filho, não quero fazer tantos shows, não preciso de tanta coisa assim. A gente não precisa ter tanto dinheiro, precisamos ter mais tranquilidade’. Eu via que ela estava na ‘pilha’ de resolver coisas e de que as coisas não precisavam ser tão cansativas. Ela falava que ia começar a ter uma vida diferente a partir daquele momento. Aí veio a pandemia…”. Poucos meses antes do período pandêmico, em dezembro de 2019, Marília deu à luz seu primeiro filho.

Com a suspensão dos shows e o isolamento social, a cantora teve redução na agenda de compromissos e pôde aproveitar o primeiro ano de vida do primogênito.

APRENDIZADO

Apesar de ser muito jovem, a musa do sertanejo sempre era elogiada por sua maturidade e humildade. E na entrevista do roteirista para o BN, não foi diferente. Alexandre também destacou as qualidades e os aprendizados que teve ao trabalhar com a artista.

“Ela era muito autêntica e se orgulhava dessa autencidade muito mais do que de uma casa gigante ou um carro… Ela gostava de comer com todo mundo, estava sempre no meio das pessoas. Ela não estava nisso (na música) para enriquecer ou ostentar”.

“O jeito que ela fazia as coisas era de um jeito muito mais acertado comparado a muitos artistas. Ela sabia para quem estava falando e o que deveria falar. Ela era muito responsável”, relembra Rossi.

Marília Mendonça começou a compor aos 12 anos de idade. Na música, antes de cantora, ela fez sucesso como compositora escrevendo sucessos para vários sertanejos como Cristiano Araújo, Jorge e Mateus, Henrique e Juliano e João Neto e Cristiano.

Preocupada com que tipo de mensagem iria passar em suas canções, Marília sempre foi cautelosa nas letras de suas músicas. Alexandre conta que, inicialmente, a cantora não queria lançar a canção “Troca de Calçada” por achar que a letra da música podia ser machista.

“Ela pensava que poderia ser desrespeitosa com as prostitutas. As pessoas ficavam perguntando: ‘Você não vai lançar essa música, ela é muito linda?’. E ela respondia: ‘Essa música é muito machista, não é respeitosa'”. Por fim, a cantora lançou a música, que hoje é um de seus maiores sucessos, e possui mais de 107 milhões de vizualizações no Youtube.

“Marília era a pessoa que estava fazendo a diferença. Ela era responsável pelo fenômeno que estava acontecendo ali, não era a mídia ou não era apadrinhamento de pessoas. Ela era uma pessoa que ia estourar de qualquer jeito. Demorou para as pessoas acreditarem nela, ela ficou muito tempo tentando provar isso para as pessoas…”, afirma Alexandre Rossi. (BN)