Em depoimento à polícia, João de Deus afirmou que não tem responsabilidade pelo que faz nos atendimentos espirituais ao ser questionado sobre cirurgias com corte e distribuição de receitas médicas. O médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Em depoimento no dia 16, João Teixeira de Faria afirmou que “as orientações são repassadas pelo espírito”.

 

Ele negou entregar receitas ao fiéis que vão à Casa de Dom Inácio de Loyola segundo informações do jornal O Globo. Questionado se faz tratamento com cirurgias com corte, o médium João de Deus negou e disse que “Deus que faz”. “No atendimento não é repassada receita, as orientações são repassadas pelo espírito, ou seja, não é de maneira escrita”.

 

“Esclarece que apenas atende e orienta. Informa ainda que alguns frequentadores já adquirem os produtos, mesmo sem o encaminhamento do espírito, pois são frequentadores do local há muitos anos e acreditam na eficiência do produto”, dizem as notas do depoimento, de acordo com a reportagem do jornal O Globo. Por 42 anos, o médium realizou cirurgias espirituais sem alvará sanitário, documento emitido pela Vigilância Sanitária.

 

A Vigilância atesta as condições e é obrigatório em locais que mantenham atividades relacionadas à saúde. Apesar de negar ter usado instrumentos de corte nos procedimentos, a reportagem do Globo esteve em Abadiânia em julho e presenciou a atuação do médium. Segundo o jornal, ele entregou um papel com sua rubrica à repórter e voluntários do centro de atendimento explicaram que o papel deveria ser entregue na farmácia para comprar remédios.

 

João de Deus também negou ter chamado “qualquer pessoa para se submeter a um atendimento individualizado”. “São as pessoas que o procuram em busca de um atendimento individualizado, vez que são os frequentadores quem solicitam tal atendimento e não o interrogado”, disse no depoimento. De acordo com relatos das vítimas, o próprio médium, em sessão coletiva, deu a orientação para que encontrassem com ele isoladamente, após o atendimento geral, momento em que teriam sido violentadas.

 

João de Deus teve a prisão decretada na sexta-feira (14) a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO). Dois dias depois, ele se entregou aos policiais. O Ministério Público recebeu 506 relatos de abusos sexuais e investiga as denúncias junto com a Polícia Civil de Goiás. Na última terça-feira (18), policiais apreenderam, recibos de faculdades, uma caixa com mais de R$ 400 mil e seis armas na casa de João de Deus.