Agência Brasil

O presidente estadual do PTB, Gean Prates, acredita que o ministro João Roma (Cidadania) é o político que melhor reúne condições para ser o candidato ao governo estadual representando a direita conservadora baiana e o bolsonarismo. O passado de Roma, que emergiu na política baiana pelas mãos do ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, não descredencia o republicano. “Todos evoluem”, diz o presidente do PTB na Bahia, nesta entrevista concedida ao Política Livre na última sexta-feira (2).

Ele afirma lealdade incondicional ao presidente Jair Bolsonaro, seguindo a mesma linha defendida pelo ex-deputado Roberto Jefferson, que preside nacionalmente o PTB e se converteu num dos maiores defensores do bolsonarismo. Prates diz ainda o ACM Neto não reuniria condições para representar a direita conservadora e considera que o governador Rui Costa (PT) como um “déspota”. Para o petebista, democratas e petistas somente fingem ser antagônicos, mas se unem quando uma terceira via ameaça surgir. Esta via, na Bahia, seria o bolsonarismo.

Prates ainda responsabiliza o ex-presidente do PTB baiano, Benito Gama, pelo não recebimento de recursos pela sigla no Estado: o impedimento seria motivado pela não prestação de contas de recursos recebidos durante a gestão dele. Questionado sobre a atuação do presidente da República frente à pandemia, ele desconversa, atribuindo os ataques a Jair Bolsonaro a conceitos subjetivos como o fato, em sua opinião, ele ser “integro e honesto” e de “não roubar e não deixar roubar”.

O dirigente avaliou ainda o nome do vereador de Salvador, Alexandre Aleluia (DEM), especulado recentemente pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, como um provável candidato para disputar o Palácio de Ondina no próximo ano. Para ele, a “distância é abissal entre João Roma e Aleluia”.

À reportagem, Prates também previu que “a onda que levou Bolsonaro ao poder chegará à Bahia em 2022”. E aproveitou para deixar uma mensagem ao eleitorado bolsonarista: “Esse povo pensa que ser conservador é deixar a barba crescer? É muito além”. Neste momento, Prates aponta para o governador Rui Costa (PT) e pede que seja explicada a compra de respiradores até hoje não entregues em uma “lojinha de maconha”.

Confira principais trechos da entrevista:

O PTB nas últimas eleições municipais teve aquele confronto entre o Roberto Jefferson e o ex-deputado Benito Gama sobre a questão do apoio a Bruno Reis. Após esse episódio, como fica o PTB na Bahia para 2022?

Gean Prates – O que aconteceu ano passado não chegou a ser um confronto. O PTB tinha instituído desde o começo de setembro uma resolução em que se proibia coligação do PTB com partidos que compõem o Foro de São Paulo, notadamente os partidos de esquerda, com viés comunista e socialista, e também com o DEM e o PSDB. No caso do DEM e do PSDB, para que se operacionalizasse uma união dessa, teria que ter anuência do diretório nacional do partido, e o PTB apoia inalienavelmente o governo Bolsonaro. E aqui na Bahia as coisas funcionam com todos fazendo política contra o governo federal, então teria que ter imperiosamente, em virtude da resolução baixada pelo partido, uma autorização, e Benito disse que essa autorização foi dada quando ele sequer havia comunicado ao presidente Roberto Jefferson que ele iria fazer essa união com o DEM na Bahia; essa união, de forma alguma, atenderia aos interesses superiores do partido.

E a situação do Benito dentro do PTB? Como fica?

Ele pediu para sair do partido. Houve uma intervenção no PTB da Bahia, com consequente afastamento do diretório que Benito Gama comandava e, com a dissolução, eu fui alçado à condição de presidente da legenda no Estado. Benito se insurgiu contra isso e conseguiu, por meio de liminar na justiça, permanecer à frente do partido. Com isso, a administração superior do PTB antecipou uma convenção nacional que só seria realizada em meados de 2022, que foi antecipada para 18 de novembro de 2020, e foram dissolvidos todos os diretórios nacionais e municipais do país. O PTB, a partir de então, começou uma nova história com os mesmos valores que sempre cultuou e cultivou, mas com o consequente expurgo daqueles que pensam de maneira diferente.

Recentemente publicamos aqui no Política Livre que o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, responsabilizava Benito pelo bloqueio de recursos ao PTB na Bahia. Essa situação foi resolvida?

O PTB estadual tem sofrido suspensão de repasses por conta, justamente, de contas que não foram aprovadas da gestão anterior. Isso acarreta uma série de implicações, mas as medidas devidas serão tomadas com a responsabilização de quem tenha cometido qualquer ato que fuja à normalidade. Estamos arcando com as consequências dessa irresponsabilidade.

E essas irregularidades foram graves nessas contas?

Nós estamos analisando ainda porque essas contas estavam no TSE, que as mandou vir para cá. Foram devolvidas dizendo que deixou-se de prestar contas de recursos que foram destinados ao partido no estado, uma série de questões de ordem técnica que, se inobservadas, geram esse tipo de consequência.

Falando da Bahia, em 2022, há essa provável polarização entre o candidato do DEM, o ex-prefeito ACM Neto, e provavelmente Jaques Wagner, do PT. Vocês pretendem ter um candidato ao governo do Estado?

Pretendemos, sim, lançar candidatos, vamos estar presentes na majoritária, mas o que primeiro tem que se deixar bem claro é que a Bahia tem grupos políticos que fingem ser antagônicos, mas que, na realidade, não se constrangem em se irmanar para se perpetuar no poder, para continuar a se amamentar da vaca leiteira que é o Estado. Nós fomos condicionados a acreditar que tinha aqui o PT da esquerda, o DEM da direita, mas a história não é bem assim. Quando há a possibilidade do surgimento de uma terceira via, como agora, os que antes se digladiavam, se irmanam. Eu não vejo, por exemplo, que o ACM Neto seja uma liderança legítima capaz de capitanear com viés conservador de direita a política baiana; é forçar a barra supor uma condição dessa. A Bahia tem sido sistematicamente vilipendiada há muitas décadas e somente agora existe a possibilidade de surgimento real de uma terceira via que contrapõe ao que nos é oferecido. O PTB certamente fará parte dessa história; nós somos incontestavelmente o partido que mais a apoia o governo Bolsonaro e não é um apoio  baseado no fisiologismo, no toma lá, dá cá, o PTB não dispõe de nenhum cargo no governo federal. Esse apoio é dado por conta das convicções políticas, da ideologia, de acharmos que existe a necessidade imperiosa da reeleição de Bolsonaro para que as mudanças que estão sendo implementadas continuem a avançar, a trazer o progresso para o país, pois mesmo mergulhados nessa crise que estamos por conta da pandemia que assola o mundo, o Brasil tem condições de austeridade econômica. Iremos lançar candidatos da direita conservadora na Bahia.

Esse nome mais provável seria o do ministro João Roma? Recentemente o filho do presidente, o Eduardo Bolsonaro, disse que Roma é o candidato dele e que via o vereador Alexandre Aleluia como candidato se João Roma não aceitar. Vê Roma como esse candidato?

De Bahia entendemos nós, baianos. Hoje eu, como presidente do PTB da Bahia, vejo no ministro João Roma as condições essenciais e ideais para capitanear uma campanha política para trazer um novo rumo ao Estado. A política não é uma ciência exata, as pessoas evoluem: João Roma, pelo que conheço dele, é uma pessoa extremamente ponderada e educada, um homem culto, não é dado a bravatas, é equilibrado e nós precisamos de pessoas desse naipe, dessa estirpe para que possa conduzir o Estado. Ah, mas ele foi assessor do ACM Neto …

Era isso que eu iria perguntar ao senhor. O que acha disso?

Isso não é demérito para ele. As pessoas evoluem; o grande erro é você só enxergar defeitos nas pessoas. O que pode ter sido um aprendizado para João Roma não pode ser visto como um ponto negativo pelos seus detratores. Eu vejo hoje, no cenário político baiano, João Roma gabaritado a empreender essa batalha. Aí eu vi o filho do presidente, o Eduardo, falando que “o meu candidato é o João Roma, mas, se não for ele, tem [o vereador de Salvador pelo DEM, Alexandre] Aleluia”. Eu vejo que a distância é abissal entre João Roma e Aleluia.

O que fundamenta essa avaliação do senhor?

A experiência, o trato, a urbanidade. Basta ver o que as pessoas dizem de cada um. Não conheço Aleluia, [falo] pelo que já vi escrito sobre ele. Mas João Roma tem o que provar, está fazendo. É um bom ministro, homem de confiança do presidente Bolsonaro e consequentemente conta com a simpatia do PTB nacional. É muito temerário nós entrarmos nesse modismo: todo mundo agora quer ser direita conservador, com uma visão estereotipada do que seja conservadorismo, de direita, que é uma coisa louca. Essa visão deturpada enfraquece todo um grupo – a minha escolha no que está aí, como presidente do PTB, vejo João Roma como alguém que reúne todas as credenciais para levar adiante uma campanha que pode ser vitoriosa contra os desmandos praticados pelo PT, que nos assalta há 16 anos.

O presidente Bolsonaro vem sendo atacado devido à postura dele na gestão da pandemia do coronavírus. Isso deve ser utilizado pelos opositores tanto ao presidente quanto ao candidato dele aqui na Bahia nas próximas eleições. Como o senhor vê essas acusações ao presidente que também devem recair sobre o candidato que o representar aqui na disputa pelo governo?

Os ataques covardes sofridos pelo presidente Bolsonaro não nos surpreendem na medida que os que o atacam são os mesmo que dilapidam o patrimônio público. Lá atrás, Roberto Jefferson, meu presidente do PTB nacional, cantou a pedra e cunhou a palavra “Covidão”, de que o dinheiro enviado pelo governo federal aos estados e municípios seria roubado, desviado para garantir caixa de campanha – para os que iam correr atrás da reeleição, para garantir a reeleição, e, para os que estavam saindo, para roubar mesmo pura e simplesmente. E são esses que atacam o presidente Bolsonaro, que não rouba nem deixa roubar. E isso provoca uma crise de abstinência nos que estão acostumados a meter a mão no dinheiro público. Por que a imprensa não cobra do governo Rui Costa, do Consórcio Nordeste aqueles respiradores comprados e pagos adiantadamente de uma lojinha que vendia produtos derivados de maconha? Deixasse que o governo Bolsonaro fizesse qualquer coisa minimamente parecido com isso e seria execrado, [mas] ninguém fala nada, mas há um silêncio sepulcral e conivente. Os que acham que vão nos enfraquecer, preparem-se para uma guerra terrível, pois não vamos recuar, não temos medo. Na hora que o PTB estiver apoiando um candidato da direita que será o mesmo apoiado pelo presidente Bolsonaro, iremos  ganhar a eleição no Estado da Bahia e mostrar como se governa: para o povo, pelo povo. A onda que levou Bolsonaro ao poder chegará à Bahia em 2022.

Mas a PGR pediu abertura de inquérito para apurar suposta prevaricação do presidente no caso da compra da vacina Covaxin.

As coisas funcionam dessa maneira: se existe uma denúncia, há que, necessariamente, se instaurar um procedimento. E vai se provar que Bolsonaro não tem nada a ver com o que está aí posto. Agora não dá para entender por que crucificaram quando não adquiriu a vacina da Pfizer no ano passado, quando nem se tinha vacina (a vacina já existia, sim – observação do site), e agora querem crucificá-lo porque o governo tentou comprar antecipadamente vacinas que ainda não haviam sido autorizadas pela Anvisa.

Então você vê que é um discurso que muda conforme a ocasião?

É, conforme a conveniência. O que o governo Bolsonaro tem sofrido desde o começo por ser um governo íntegro e honesto, e não encontra apoio necessário na sociedade, porque não se pode largar um governo no meio de uma barbárie dessa. Nós apoiadores do governo sabemos que o governo Bolsonaro não rouba e não deixa roubar. Agora temos que mostrar que estamos fortes e ao lado do presidente, pois não adianta dizer que é da direita conservadora e não fazer o dever de casa e não defender um governo que é íntegro e honesto.

Hoje (sexta-feira) está organizada aqui para Salvador uma motocarreata. Aí houve declarações do governador dizendo que não iria permitir aglomerações. Mas, ao mesmo tempo, como o Política Livre publicou nesse 2 de Julho, internautas confrontaram o governador pelo mesmo motivo: causar aglomerações. Como o senhor avalia?

O governo Rui Costa é déspota. Ele acha que é dono da Bahia e que todo mundo tem que se curvar à sua vontade. Nao, seus pés são de barro. Não adianta engrossar o cangote para dizer que faz e acontece quando está chafurdado em um mar de lama. O bom para Rui Costa seria ele explicar onde enfiou o dinheiro dos respiradores que ele, capitaneando do Consórcio Nordeste, comprou lá da lojinha de maconha. Toda a Bahia quer saber disso: não é de bravata contra o governo Bolsonaro. É aqui que está sendo gestado o ovo da serpente, por Jaques Wagner e seus asseclas. A Bahia é motivo de chacota e nós temos pessoas valorosas. O que precisamos é que esses valorosos despertem e livrem a Bahia dessa caos de 16 anos. Por isso precisamos de uma terceira via.

Qual a estratégia do PTB para criar uma bancada bolsonarista em 2022?

Nós temos bons nomes e faremos uma boa nominata. Tenho observado na imprensa ataques à minha pessoa e de membros da minha equipe do PTB Bahia descontentes com o rumo do partido, de que o PTB não está atendendo aos interesses da direita conservadora. Nós somos a direita conservadora, nós pegamos um partido que foi reduzido a quase nada, mas que tem uma representatividade no país gigantesca e colocamos no lugar onde deveria estar sempre: comandando as articulações. Nós iremos montar uma nominata e entregar à Bahia bons candidatos a deputado estadual, a federal, a senador, a governador. Nós teremos representante na majoritária. Mas não basta dizer que é da direita conservadora para fazer parte do partido. Quando você vê alguém candidato pelo PTB é porque é bom – a vida [do pré-candidato] vai ser escrutinada. Não vai entrar porque é bonito ou porque é indicação não. Se queremos mudar os rumos da Bahia, tem que começar desse comportamento sério. Esse povo pensa que ser conservador é deixar crescer a barba? É muito além. Há esse tipo de posicionamento por desconhecimento da história. (Davi Lemos/Política Livre)