O marqueteiro João Santana, que trabalhou na campanha inexitosa de Ciro Gomes à Presidência da República em 2022 – mas obteve sucessos em trabalhos junto a Lula e a Dilma Rousseff na corrida ao Planalto -, mandou um recado a esquerda brasileira ao pedir atenção com o bolsonarismo acerca das críticas que são feitas ao atual chefe do Executivo nacional.
Identificado justamente com esse campo ideológico, Santana afirmou, em entrevista à Folha, que o melhor que a esquerda pode fazer é criticar o presidente e que é um erro deixar os apoiadores do ex-chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro (PL), monopolizando essa discussão.
Condenado e preso pela Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro de caixa dois, o marqueteiro baiano fechou, em 2017, um acordo de delação premiada. Ele e a esposa, Mônica Moura, que também foi condenada na mesma operação, cumpriram penas nos regimes fechado e semiaberto, usaram tornozeleira e ainda prestam serviços comunitários.
“‘Olha, minha gente, não vamos criticar o Lula porque isso é fortalecer o Bolsonaro, é correr um risco’. Isso é um absurdo e um mal sem tamanho para o Lula e para a democracia. Vincular a sobrevivência do sistema democrático ao bom desempenho de um indivíduo é já de antemão apregoar sua fragilidade. Para quem quer ajudar o Lula a fazer um bom governo — e estou entre eles, jamais quero que o Lula fracasse e que ocorra um retrocesso —, a coisa melhor a fazer é criticá-lo. Deixar o monopólio da crítica com Bolsonaro é um erro por causa de uma lógica mecânica: se um elemento [Bolsonaro] tem esse poder, e o outro [Lula] fracassa, isso vai levar o movimento em direção ao primeiro. Não se pode deixar o Lula livre, leve e solto para cometer os erros sem advertência, sem críticas”, analisou João Santana.
Na ocasião, ele fez uma avaliação da comunicação do governo petista, que vem sendo objeto de críticas constantes. Para o marqueteiro, no entanto, a questão é outra: a comunicação é quem sofre com os problemas de governo. Ainda segundo João Santana, raramente um com um projeto de nação concreto e um plano de ação claro tem problema de comunicação.
“O protagonismo excessivo de um líder quase narcísico e a repetição retórica monótona não são suficientes, como também não é suficiente vender doses de empatia e de institucionalidade. O Lula precisa tomar cuidado para que o discurso da miséria não vire a miséria do discurso. Só que as dificuldades de governo são grandes também. Não se pode culpar a comunicação por tudo (…) Precisa ter uma comunicação mais mobilizadora e linhas definidas para algumas áreas sensíveis, como: economia, Amazônia, evangélicos, questão militar, agro. Hoje, no mundo ambientado nas redes, boa parte da comunicação tem que ser segmentada, com núcleos digitais. Não é essa história de gabinete do ódio, para passar campanha negativa, mas para disseminar conteúdos”, afirmou. BNews