Com 52 anos de experiência no Legislativo, o ex-presidente José Sarney, de 88 anos, abriu sua entrevista ao jornal Correio Braziliense dizendo que não faria comentários sobre seus sucessores, mas a resistência durou pouco. O inquilino do Palácio do Planalto da transição democrática afirmou que o presidente Jair Bolsonaro “está colocando todas as cartas na ameaça do caos”, destruindo as utopias.

“O que se vê é que todo dia se dá uma solução, uma visão escatológica do fim do mundo, em face da reforma da Previdência, sem se oferecer outras perspectivas de esperança. Quando se mata as utopias, é difícil que se sustentem as expectativas do país somente com uma reforma”, declarou.

Em alerta contra o niilismo diante da “fratura” dos Três Poderes, ele sugere “buscarmos e tirarmos uma medida mágica para resolver isso”. Para ele, defensor do parlamentarismo, para não ser deposto, presidente “tem que se legitimar das 6h até as 6h do dia seguinte”. Sua receita de adoção do parlamentarismo é acompanhada de mais uma crítica ao atual ocupante da Presidência. Segundo ele, Bolsonaro “errou” ao acreditar que o presidente Donald Trump será um aliado.

“Eu acho que o Bolsonaro está sendo vítima de uma leitura errada que ele fez. Ele achou que, quando ganhasse a eleição, superando essa visão internacional de que o Brasil era um país de esquerdista, porque estava alinhado com a Venezuela, Cuba e outros países socialistas, iria receber dos americanos e da economia internacional um apoio muito grande, que imediatamente atrairia para o Brasil investimentos e nós iríamos crescer. Na realidade, de certo modo, acho que não tem ninguém mais decepcionado com isso do que ele, porque foi logo visitar o Trump mostrando essa visão. E, na realidade,o Trump não deu nada. A visão do Trump é nacionalista, América acima de tudo”, disse.