Nos dias que antecederam a decisão de virar ministro, o juiz Sergio Moro despachou normalmente na 13ª Vara Federal, ouviu o ex-deputado Eduardo Cunha, um dos presos da Lava Jato, e rejeitou pedido de réus em um processo que tem o ex-presidente Lula como principal acusado. O interrogatório de Cunha ocorreu em ação penal em que o ex-presidente da Câmara é acusado de receber propina em contratos da Petrobras.

 

O ex-deputado do MDB está preso há dois anos. Na audiência, o juiz chegou a bater boca com um advogado de defesa que pedia o adiamento do interrogatório. “Em um processo que tem mais de dois anos, quase três anos de trâmite, a defesa argumentar que não teve tempo de conversar com o cliente é um total disparate”, disse Moro, na audiência.

 

Na última terça (30), Moro havia dito que estava honrado com convite feito por Bolsonaro para o Ministério da Justiça e manifestou conversar com o presidente eleito. Um dia antes, na última segunda (29), ele deu sua decisão mais recente em um processo envolvendo o ex-presidente Lula. Na ação sobre o sítio de Atibaia frequentado por Lula, Sergio Moro rejeitou pedido do pecuarista José Carlos Bumlai para ser interrogado por videoconferência.

 

O interrogatório acontece no próximo dia 14, e autorizou viagem ao exterior de Roberto Teixeira, réu e compadre do petista. Lula tem interrogatório marcado para o próximo dia 14 nessa ação penal. Além desse processo, ele é réu em ação em estágio muito mais avançado, sobre suposta propina da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula.

 

Coincidentemente, o prazo para a entrega das alegações finais das defesas nesse caso se encerrou na quarta. Ainda assim, os advogados de Lula conseguiram incluir entre os argumentos para a absolvição a aproximação entre o juiz e o presidente eleito. A entrega das alegações finais é o último passo do processo antes da sentença.

 

A última manifestação de Moro nesse caso havia sido no dia 1º de outubro, seis dias antes do primeiro turno da eleição, quando o juiz tornou públicos trechos da delação do ex-ministro Antonio Palocci. A iniciativa do magistrado à época despertou muitas críticas do PT pela proximidade com a votação e seu eventual impacto eleitoral.

 

Moro, na ocasião, argumentou que a publicidade era necessária para garantir a ampla defesa de todos os acusados. Como o depoimento poderia ser usado para embasar a sentença, seria preciso informar seu conteúdo a todas as defesas. A sondagem a Moro foi feita pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda na campanha, segundo o vice eleito Hamilton Mourão.

 

O juiz afirmou à Folha que, quando decidiu liberar o sigilo da delação de Palocci, ainda não havia recebido o convite para integrar o ministério de Bolsonaro. “Não tem uma semana [que recebi o convite]”, declarou. Ao longo do mês de outubro, o trabalho seguiu normalmente na Vara Federal responsável pela Lava Jato. Moro, por exemplo, mandou soltar no último dia 22 o engenheiro Sérgio Boccaletti, suspeito de ser operador financeiro e que estava preso desde maio.

 

Também pediu ao ministro do Supremo Dias Toffoli, na última segunda-feira (29), que fosse devolvido ao seu comando uma ação em que é réu o ex-ministro Guido Mantega. Na fila de julgamentos da Lava Jato no Paraná, Mantega é o principal alvo que ainda não tem condenação nem está preso. Toffoli, porém, havia interrompido a tramitação desse caso em setembro.

 

Ainda em outubro, Moro pediu à defesa do ex-deputado e réu Candido Vaccarezza (do partido Avante) mais informações para a convocação da ex-presidente Dilma Rousseff como testemunha defesa em um processo. Há cerca de 30 ações penais relacionadas à Operação Lava Jato em andamento no Paraná, além de outras relacionadas que foram desmembradas ou que estão com trâmite suspenso.