Foto : Fernando Frazão/ Agência Brasil

Os procuradores da Lava Jato usaram o aplicativo Telegram para obter dados sigilosos da Receita Federal sem nenhum controle da Justiça, segundo mensagens divulgadas neste último domingo (18), pelo site The Intercept Brasil em parceria com a Folha de S.Paulo.

O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, e seus colegas em Curitiba recorreram em diversas ocasiões ao auditor fiscal Roberto Leonel, que chefiava a área de inteligência da Receita em Curitiba, para levantar o sigilo fiscal de cidadãos sem que a Justiça tivesse autorizado a quebra. Hoje, Leonel é o presidente do Coaf e foi levado ao governo do presidente Jair Bolsonaro por Sergio Moro.

A maioria dos diálogos envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Quero pedir via Leonel para não dar muito na cara, tipo pescador de pesque e pague rsrsrs”, disse o procurador Roberson Pozzobon numa mensagem a Dallagnol em agosto de 2015, diante das notícias de que um sobrinho de Lula fizera negócios em Angola com ajuda do político e da Odebrecht.

No ano seguinte, entre janeiro e março, a força-tarefa pediu a Leonel que levantasse informações sobre uma nora de Lula e sobre o caseiro do sítio de Atibaia. Em 15 de fevereiro daquele 2016, Dallagnol sugeriu aos colegas que pesquisassem as declarações anuais de imposto de renda do caseiro Elcio Pereira Vieira. Uma semana depois, Moro autorizou a quebra do sigilo fiscal do caseiro.

Em 6 de setembro de 2016, o procurador Athayde Ribeiro Costa informou aos colegas no grupo 3Plex que pediu a Leonel para averiguar se os seguranças de Lula tinham adquirido uma geladeira e um fogão, dois anos antes, para equipar o triplex que a empreiteira OAS diz ter reformado para o petista no Guarujá.

As mensagens não permitem saber se Leonel atendeu a todos os pedidos clandestinos dos procuradores, mas há ao menos um caso em que fica claro que o auditor repassou informações sobre pessoas que sequer eram investigadas em Curitiba.