Correio da Bahia

A chegada da segunda quinta-feira após o Dia de Reis é esperada com ansiedade todos os anos por devotos e, principalmente, por políticos de Salvador. Mas a Lavagem do Bonfim 2020, ano de eleições municipais, vai funcionar mais ainda como um “termômetro” para aferir a popularidade dos pré-candidatos e a repercussão de polêmicas.

Na avaliação do professor e cientista político Carlos Zacarias, a festa é a “largada” para as tentativas dos políticos de colocar em prática a avaliação e ampliação da popularidade com o povo nas ruas. 

“O Bonfim, que antecede o 2 de Julho [Independência da Bahia], o momento mais expressivo, porque tá mais próximo da eleição e é uma data cívica, ‘cívico-política’, as candidaturas experimentam seu grau de penetração, mas o Bonfim é o primeiro momento”, disse, em entrevista ao BNews.

Para o professor, a proposta de Reforma da Previdência para os servidores estaduais enviada à Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) pode ser um desconforto para o governador Rui Costa. Contudo, não deve ser sentido pelos aliados que desfilarão durante o percurso.  

“O governador Rui Costa vai experimentar esse dissabor. Sim, apesar do grosso da população não vincular os deputados ao governador Rui Costa. […] Não quer dizer que os candidatos de Rui Costa vão experimentar o dissabor. Mas, nacionalmente, o PT votou contra a reforma da Previdência, como que agora deputados se silenciam quanto a isso?”, analisou.

“Falem mal, mas falem de mim”

Já para o professor Israel de Oliveira, que atuou no Departamento de Ciência Política da Ufba por 32 anos, apesar de estarmos distante do momento da eleição municipal, a Lavagem do Bonfim tem um peso político ainda mais forte em relação à comemoração do 2 de Julho.

“Os políticos precisam muito de exposição, precisam estar em lugares, ser vistos, aplaudidos ou xingados, mas precisam dessa relação com o eleitorado. O Bonfim é um dia muito privilegiado, porque é muita gente num espaço muito grande. Você vai caminhando 8 quilômetros e tá sempre passando por pessoas, encontrando pessoas. O 2 de Julho, imagino, não chega nem a metade [de público] e também o trajeto é muito menor”, avaliou, em entrevista ao BNews.

Os dois especialistas concordam que o fato da base do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), já ter um pré-candidato lançado – vice-prefeito Bruno Reis -, enquanto na base de Rui há uma pulverização de pré-candidaturas, beneficia o chefe do executivo municipal.

“Bruno Reis larga com uma leve vantagem. Nesse momento, a figura de ACM Neto larga na frente em função desse elemento. O PT tem todas as condições de apresentar candidatura que pudesse fazer o que outrora o PT fez em Salvador, não fez nas duas últimas eleições, que ACM Neto ganhou. Mas o PT sempre emparelhou”, analisou Zacarias.

“Acho que é um prejuízo para o governador, para o candidato dele. Agora, esse prejuízo é anterior ao Bonfim. O ACM Neto tá com um ‘Ibope’ muito lá em cima, isso é complicado, complica muito a vida do candidato, do governador. Toda essa dificuldade de aparecer um candidato é exatamente porque eles sabem que tem que levar em conta esse assunto [popularidade de Neto]”, explicou Israel.

Segundo Zacarias, a participação de Bruno Reis na Lavagem do Bonfim vai ser mais um desafio no esforço de Neto para popularizar o nome do vice-prefeito. “Uma continuidade da gestão dele, o que ele entende como sucesso na prefeitura. Circulo em alguns lugares e vejo imagem de Bruno Reis e ACM Neto em festas. Estão articulando pesadamente para dar uma cara de continuidade a ACM Neto, o que não é simples, porque é o neto de Antônio Carlos Magalhães [senador]”, disse.

Apesar da ausência de Rui, o senador e ex-governador do estado Jaques Wagner (PT) confirmou presença na Lavagem do Bonfim. Do lado de Neto, há a dúvida se o secretário de Saúde, Léo Prates – que está de saída do DEM para o PDT – irá participar da festa e em qual grupo. Ele, que também é pré-candidato, atualmente integra o grupo do prefeito, mas a discussão foi levantada após sua provável ida ao partido de Ciro Gomes. Bocão News