O presidente Jair Bolsonaro recebeu na quinta-feira (4), em reuniões no Palácio do Planalto, presidentes de seis partidos: Marcos Pereira (PRB), Gilberto Kassab (PSD), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Nogueira (PP), Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) e Romero Jucá (MDB).

O objetivo dos encontros foi discutir a formação de uma base aliada do governo no Congresso e buscar apoio para a reforma da Previdência, tida pela equipe econômica como uma medida essencial para reequilibrar as contas públicas do país. Juntas, as bancadas dos seis partidos na Câmara somam 196 deputados.

Ciro Nogueira e Marcos Pereira não deram entrevistas no Planalto após o encontro com o presidente. Os demais disseram que concordam que a Previdência deve ter novas regras, mas relataram que, por ora, seus partidos não vão fechar questão (determinar que a bancada vote a favor do tema).

Após a audiência no Planalto, o presidente do PRB, deputado Marcos Pereira, disse ao blog do Valdo Cruz que Bolsonaro pretende criar conselhos políticos para dialogar com os partidos.

‘Caneladas’

Após a série de reuniões, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, avaliou como positivo o dia de encontros de Bolsonaro e afirmou que o presidente se desculpou por “caneladas”.

“Todos concordam que é o momento de a gente passar por cima das nossas diferenças, passar por cima do que aconteceu no período eleitoral”, afirmou o ministro.

“O presidente, com a sua humildade, se desculpou de uma canelada aqui e uma canelada acolá, e a gente vai construir sim uma coisa que é muito importante: unir todos que são verde e amarelo a favor do Brasil.” (Onyx Lorenzoni)

PSD

Após reunião com Bolsonaro, Kassab disse que o presidente pediu apoio e “renovou” a disposição de “trabalhar pela aprovação das reformas” no Congresso Nacional.

Kassab afirmou ainda que relatou a Bolsonaro que as reformas, como a da Previdência e a tributária, são “compatíveis” com o programa do PSD. No entanto, disse que o partido não vai fechar questão (determinar que a bancada vote de determinada maneira).

“Em relação às bancadas, o partido não fechará questão, mas haverá um esforço bastante intenso no sentido de mostrar aos parlamentares a importância delas (reformas) para o Brasil”, disse.

Kassab elogiou o gesto de Bolsonaro de chamar os partidos para dialogar em busca de apoio para as reformas.

“É um gesto do presidente, é uma sinalização importante, é uma conduta emblemática mostrando que ele está disposto, sim, a se envolver [na aprovação das reformas]”, declarou.

PSDB

Alckmin afirmou, durante entrevista após a reunião, que o PSDB não recebeu convite para participar da base do governo. Segundo ele, a postura do partido é de “total independência” em relação Planalto.

“PSDB tem uma postura de independência em relação ao governo, não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargo no governo e votamos com o Brasil”, afirmou.

O presidente do PSDB relatou que disse “claramente” a Bolsonaro que o partido sempre apontou a necessidade da reforma da Previdência. Alckmin ponderou que a bancada do partido preza por justiça social, sem privilégios e com proteção aos mais pobres, e também pela responsabilidade fiscal.

O tucano relatou ainda que, na reunião, disse que o PSDB defende mudanças na proposta da reforma da Previdência enviada pelo governo ao Congresso. De acordo com Alckmin, o partido não concorda com os pontos sobre o benefício de prestação continuada (BPC) e sobre a aposentadoria rural.

“O que é importante na reforma é idade mínima e tempo de transição”, disse. “BPC somos contra, como também a questão rural. Se há uma diferença de idade na área urbana, por que não há na área rural?”, acrescentou.

DEM

Após, a reunião, ACM Neto afirmou que as “preocupações imediatas” do DEM não passam por ser ou não da base do governo de forma oficial.

Segundo o prefeito de Salvador, o partido poderá avançar, no futuro, para integrar a base, mas ele não definiu um prazo.

“Ser base formalmente ou não, é algo que pode acontecer com absoluta naturalidade, que vai acontecer no momento em que houver deliberação da executiva do partido, mas entendo que a preocupação maior, tanto do Democratas quanto do presidente Jair Bolsonaro, não está na formalidade em dizer ‘é base ou não é base’ “, afirmou ACM Neto.

Sobre fechar questão na Câmara e no Senado para aprovar a reforma da Previdência, o presidente do DEM destacou que o posicionamento tem “relação direta” com o texto que chegará ao plenário da Câmara.

O DEM defende algumas mudanças no texto, mas ACM Neto não especificou quais.

“O fechamento de questão sobre a reforma, acho que tem relação direta com o texto que será votado no plenário da Câmara dos Deputados”, disse.

“É claro que, se o texto que for votado no plenário tiver o apoiamento majoritário do partido, nós podemos, sim, avançar para propor o fechamento de questão em torno da reforma da Previdência”, acrescentou.

MDB

Presidente do MDB, o ex-senador Romero Jucá declarou que não se discutiu na reunião um eventual fechamento de questão do partido para aprovar a reforma da Previdência. O assunto poderá ser tratado no futuro pelo partido.

O ex-senador disse que o MDB não concorda com a proposta do governo no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural. Jucá deseja discutir a situação dos professores na reforma e considera que o modelo de capitalização proposto pelo ministro Paulo Guedes (Economia) precisa ser melhor explicado.

Jucá elogiou a disposição de Bolsonaro para dialogar, porém registrou que o partido não quer integrar a base de apoio do governo no Congresso.

“O MDB não quer ser base. O MDB quer ter uma agenda, nós queremos mais, nós queremos ter o resultado do trabalho conjunto entre o MDB e o governo”, disse.

Jucá relatou que defendeu diante do presidente a criação de uma “agenda econômica e social”, com a qual o MDB poderá votar projetos de interesse do governo.

“O MDB não quer cargo, não quer ministério, não vai pedir nada. O que nós queremos é construir uma agenda que faça com que o partido possa votar, o governo sabendo da nossa posição, da nossa contribuição, e o povo sabendo das posições do MDB”, disse.

‘Jogar pesado’

As audiências com presidentes de partidos são os primeiros compromissos oficiais de Bolsonaro depois de ter voltado, na quarta-feira, de uma visita de quatro dias a Israel. Ainda no exterior, o presidente prometeu foco na reforma da Previdência.

“Vamos jogar pesado na [reforma da] Previdência, porque é um marco. Se der certo, tem tudo para fazer o Brasil decolar”, disse.

Após três meses de governo, o Planalto ainda não dispõe de uma base parlamentar organizada e, na semana passada, Bolsonaro teve uma troca de farpas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Um dos motivos foi o que Maia chamou de falta de articulação do governo no Congresso.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro repete que não deseja praticar a “velha política”, com oferta de cargos na administração pública em troca de apoio dos partidos.

Ao blog do jornalista Valdo Cruz, o ministro Onyx Lorenzoni afirmou que a intenção do presidente não barra eventuais indicações políticas para cargos de segundo escalão nos estados, desde que obedecendo a critérios técnicos.

Relator

Relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) esteve no Planalto nesta quinta para uma reunião com o ministro Onyx Lorenzoni.

Segundo o relator, o encontro tratou de “articulação”, que está “sob controle”. Freitas declarou que apresentará o relatório na próxima terça-feira (9) e disse que o texto será aprovado “com certeza”. Ele não adiantou o parecer, mas a expectativa é de que seja favorável a reforma enviada pelo governo.

Freitas afirmou o parecer está “bem finalizado”. O texto receberá acréscimos nos próximos dias e terá de 20 a 25 páginas, segundo o relator. Informações do G1