No centro da polêmica desfiliação de Jair Bolsonaro do PSL, o líder do partido, Luciano Bivar, falou do sua relação com o presidente da República, em entrevista à Revista Época. O deputado federal confessou que ainda fica desconcertado em comentar o caso, já que há pouco tempo eram aliados.

“Se eu falava tanto (de uma pessoa), como eu vou dizer que agora é diferente, depois que passei dois anos desse jeito? Isso me deixa encabulado” […] Se eu falar o tempo todo que uma pessoa é minha melhor amiga, que ela é formidável, e depois tenho um problema e alguém me perguntar: cadê ela? Eu não vou dizer nunca o que aconteceu. Vou dizer: faz tempo que não a vejo. Vou falar mal dela? Se eu vivia falando bem, como vou falar mal?”, diz Bivar

As desavenças entre os dois, porém, já existem desde antes das eleições, quando Bolsonaro condicionou a sua filiação à uma mudança geral no diretório nacional do PSL. Bivar, contudo, recusou. “Ele não podia estuprar todas as minhas pessoas, que já estão comigo há 20 anos”, defende.

O líder do partido explica que a posição de Bolsonaro tinha raiz no “medo” de sofrer um “golpe” dentro da própria sigla, como a não indicação como candidato à presidência.

“A grande preocupação dele era não ser indicado candidato. Existem milhões de fantasias, de que o PT daria R$ 200 milhões para (o PSL) não dar a candidatura para ele, e a única coisa que ele poderia fazer para ter certeza era fazer terra arrasada, trocar 100 membros e começar do zero”, afirma.

Impulsionados pela popularidade de Bolsonaro, 53 deputados do PSL conseguiram se eleger, garantindo à legenda um fundo partidário de R$ 8 milhões. Com os recentes suspeitas de Caixa 2 e a divisão entre os aliados do presidente do partido, que são favoráveis ao fundo, em oposição a outros, que preferem apostar no poder das redes sociais, surgiu o ambiente ideal para rachar o partido.

Entre os advogados do presidente da República, Karina Kufa e Admar Gonzaga, o fundo partidário não é uma boa ideia, já que representa uma receita milionária que nem o próprio Bolsonaro tem controle dos gastos. Eles deram o motivo e incentivaram a decisão do capitão, que aguardava um motivo para deixar a legenda.

Bivar, Bolsonaro e Karina Kufa, que na época defendia o próprio partido, se reuniram em agosto deste ano. Ela teria apresentado uma empresa que prestaria o serviço pelo preço de R$ 2 milhões. Na ocasião, segundo Bivar, o capitão teria dito para esquecer a ideia. “O próprio presidente falou: esquece esse negócio de compliance, o mais importante é ter uma pessoa séria”, relata.

Apenas um mês depois, Bivar viu Bolsonaro dizer a um apoiador no Palácio da Alvorada que o líder do PSL estava “queimado para caramba”. Apesar de tudo, o deputado garante que não se sente traído: “Não. Só fico triste”.

“Só posso ficar entristecido. Não tenho raiva, mágoa, sentimento indiferente. Ingratidão é quando você dá alguma coisa pensando no que vai receber. Mas eu não. O que eu fiz, foi por mim. Por ideologia e pelo meu sentimento. Não sei se cabe esse sentimento de ingratidão, porque eu não fiz por mim, mas pelo meu país. Decepção? Eu não conheço o Bolsonaro”, resume.