Foto: Ricardo Stuckert

Lula e Alckmin fizeram uma convergência no discurso no encontro em que o PSB oficializou o nome do ex-governador paulista como sugestão à vice na chapa com Lula. Tentaram colocar a bola no campo em que o PT vai e quer jogar daqui até as eleições: a vida real dos brasileiros.

Ficou claro o objetivo de não dar munição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) por evitar pautas de costume. Nos últimos dias, Lula defendeu a visão do aborto como uma política de saúde pública, o que foi comemorado por integrantes da campanha bolsonarista e alertou petistas. Depois, o petista disse que é pessoalmente contra.

Ao não entrar na esfera dos costumes dessa vez, Lula acaba agradando Alckmin. Até porque existem divergências entre a visão de Alckmin, mais conservador, e Lula, que é menos. Os dois ajustaram o discurso nessa aparição em conjunto, com foco em questões ligadas à economia, inflação, renda e na manutenção da democracia.

Democracia é justamente o argumento que Alckmin usou junto a seus pares para defender sua entrada na disputa com Lula. Centraliza na questão maior, a defesa da democracia, de que diferentes forças precisam se unir contra o atual governo.

A formalização da chapa Lula/Alckmin tem uma simbologia importante. Desde a redemocratização do Brasil, PT e PSDB eram os dois protagonistas das disputas presidenciais. Na esteira do fim da ditadura militar, a direita estava enfraquecida e a social-democracia, via PSDB, era vista como a direita no Brasil. Isso mudou em 2018, também reflexo do fortalecimento da direita no mundo como um todo.

Alckmin protagonizou esse embate com o PT via social-democracia algumas vezes, entre as quais 2006 contra o próprio Lula na disputa presidencial, e em 2002, 2010 e 2014 nas disputas pelo governo do estado de São Paulo. Por Julia Duailibi