O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) investiga se mais mulheres foram vítimas de estupro, após responderem a anúncios de empregos na internet. Na terça-feira (26), José Raimundo de Jesus foi preso na Operação Armadilha, ação desenvolvida pelo órgão em parceria com a Polícia Militar. Ele foi preso após ser identificado como suspeito de estuprar e manter uma mulher em cárcere privado.

No entanto, como o Correio mostrou este mês, a suspeita é de que ele tenha estuprado pelo menos oito mulheres. Os promotores se depararam com o caso durante uma visita técnica realizada no período do Carnaval no Hospital da Mulher, onde uma das vítimas foi acolhida para exames e procedimento de profilaxia de DSTs e Aids.

De acordo com a promotora Lívia Vaz, coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT (Gedem), outras mulheres têm sido vítimas de situações como essa – inclusive por outros agressores. Ela não entrou em detalhes, contudo, sobre a quantidade de casos que estão sendo investigados pelo grupo.

“Tem sido um procedimento comum se utilizar de plataformas digitais para oferecer emprego falso, estágio falso para atrair mulheres. Então, é importante que essas mulheres estejam atentas. Tem sido algo mais comum do que se pensa”, alerta a promotora.

Por isso, a orientação do MP é de que, ao se deparar com esse tipo de anúncio, as mulheres tomem alguns cuidados antes de encontrar o suposto empregador. “É importante que as mulheres verifiquem a procedência, quem é essa pessoa. É bom procurar em outras redes sociais se a pessoa tem perfil, se não tem, se usa o perfil, se não usa”, enumera Lívia.

Além disso, é importante observar se a foto compartilhada pela pessoa é a mesma do Whatsapp ou de outras redes sociais, bem como procurar o endereço do local da entrevista ou do trabalho previamente. Se, de fato, marcar um encontro, é recomendável que a mulher vá acompanhada – pelo menos, na primeira vez.

Ameaça e cárcere
José Raimundo de Jesus está preso temporariamente. O Ministério Público está finalizando as investigações para oferecer a denúncia à Justiça por estupro e cárcere privado. Como o órgão tem poder de investigação e se deparou com o caso durante uma visita técnica, a denúncia não precisa envolver a Polícia Civil.

“Há relatos de que ele levava várias mulheres para o mesmo lugar. Ao chegar lá, a vítima era ameaçada para manter relações sexuais com ele”, explica a promotora Lívia, referindo-se ao imóvel na Vila Canária, para onde José Raimundo atraía as vítimas.

O local exato não foi divulgado, nem o lugar e as circunstâncias em que ele foi preso para preservar as investigações.

Ele já foi ouvido pelo MP, mas o órgão também não informou o que foi dito por José Raimundo. A princípio, porém, não há indícios de que ele teria cúmplices – portanto, agia sozinho.

Além de Salvador, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em outros dois municípios: Vera Cruz, na Região Metropolitana de Salvador, e Maragojipe, no Recôncavo baiano. Nesses dois locais, foram apreendidos aparelhos celulares, armas brancas, documentos e outros vestígios ligados aos crimes.

O material foi encaminhado para perícia pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). “Os mandatos têm a ver com as relações do próprio investigado”, disse a promotora Lívia. Por enquanto, não há indícios de que ele teria cometido outros estupros no interior do estado.

O período em que os crimes foram cometidos ainda está sob investigação. Quando o caso veio à tona, durante o Carnaval, foi divulgado que, entre as vítimas, havia uma adolescente. De acordo com a promotora Lívia Vaz, contudo, a vítima cuja denúncia levou à prisão de José Raimundo não tem menos de 18 anos.

Ao Correio, a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (Seap) informou que José Raimundo está custodiano no Centro de Observação Penal (COP).  Logo após a divulgação das seis primeiras vítimas, a assessoria da OLX informou que deletou todos os anúncios e bloqueou a conta do usuário.

A empresa informou que está à disposição das autoridades para colaborar com a apuração. Segundo a OLX, esse tipo de conduta viola os Termos e Condições de Uso do site. A plataforma disponibiliza um botão de denúncia em todos os seus anúncios, para que qualquer pessoa denuncie práticas irregulares, ilegais e conteúdos indevidos. Nestes casos, a empresa consegue deletar o anúncio e banir o usuário da plataforma.

O Gedem está disponível para acolher outras possíveis vítimas de estupro após falsa entrevista de emprego – assim como outros casos de violência contra a mulher. É possível entrar em contato com o órgão através dos números (71) 3321- 1949/ 3328-0417 / 3266-4526. (Correio da Bahia)