O educador ambiental Mathias Ferreira recolheu 208 embalagens de lixo internacional na praia paradisíaca de Imbassaí, na cidade de Mata de São João, que fica na Região Metropolitana de Salvador, durante limpezas que realizou neste mês de junho. Segundo Mathias Ferreira, destes 208, 138 são garrafas de plástico com embalagens de água mineral com fabricação chinesa. Confira abaixo a relação dos lixos encontrados.
13/06
- 20 garrafas chinesas, uma garrafa de vidro e uma garrafa de sabonete de mão;
- 6 águas Malásia;
- 1 garrada de vinagre italiano;
- 2 fones da Espanha com fabricação de 2002.
14/06
- 16 garrafas chinesas e uma garrafa de vidro;
- Uma lata da Polônia;
- 1produto de limpeza do Texas;
- 1 garrafa de água dos Estados Unidos;
- 10 garrafas sem procedência.
15/06
- 68 garrafas chinesas de água, quatro de produtos de limpeza e uma garrafa de vidro;
- 1 garrafa de leite da Índia e 1 garrafa de água;
- 5 garrafas de água da Malásia;
- 1 água da África do Sul;
- 1 shampoo de Filipinas;
- 1 garrafa de água da Turquia;
16/06
- 54 garrafas plásticas chinesas, três garrafas de vidro e um envoltório chinês;
- 5 garrafas da Malásia;
- 1 garrafa de vidro da Grécia;
- 6 artículos PEAD2;
- 1 sacos de ração de caranguejo chinês;
- 1 rede de pesca;
- 10 garrafas plásticas sem procedência.
Entres os meses de abril e junho, o número de embalagens catalogadas pelo projeto “Imbassaí natural” é de 794. A atuação de Mathias Ferreira não é de agora. Ele já recolheu lixos no litoral de vários estados brasileiros.
O educador ambiental procurou o apoio da Organização Não Governamental (ONG) Ecomov, que atua em São Paulo, para solucionar a questão do lixo internacional. O objetivo de Mathias Ferreira e do grupo ambiental é abrir uma petição no Ministério Público da Bahia (MP-BA) e solucionar o caso.
Mathias Ferreira, além de fazer a limpeza das praias, olha as passagens dos navios de longe. As embarcações costumam passar por Imbassaí nas primeiras horas do dia e nos finais da tarde.O material recolhido por Mathias será levado para análise na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Já as tampinhas das garrafas são retiradas e usadas para criação de pranchas pequenas de handsurf.
Falta de fiscalização e regulamento nos protocolos
O coordenador da ONG Ecologia em Movimento (Ecomov) Rodrigo Brandão Azambuja, explicou que o grupo tem um trabalho em São Paulo, sobre a questão do lixo internacional, com parceria com o Ministério Público (MP-SP) e a Fundação Florestal.
“Estamos começando abrir algumas petições com grupos locais em Santa Catarina, Paraná, Paraíba e estamos unificando laços com esses movimentos em outros estados”, contou. A ideia é que ao longos dos anos, uma petição seja aberta, em nível nacional, no Ministério Público Federal. “Esse problema envolve a falta de fiscalização e de regulamento nos protocolos de limpeza na gestão dos navios”, explicou Rodrigo Brandão Azambuja.
Segundo Rodrigo Brandão Azambuja, a situação no litoral baiano é um pouco diferente da encontrada em São Paulo, que também registra alto índice de lixo nacional. “Em Imbassaí, aquela área de área deserta, paradisíaca, o Mathias só encontra lixo internacional. Não tem nenhuma fonte de comércio local, de poluição de moradias, palafitas, então o cenário dessa praia próxima da região portuária está totalmente poluído por resíduos internacionais”.
Situação alarmante
O coordenador da Ecomov classificou a situação de Imbassaí como alarmante, já que em apenas um mês, 500 materiais foram catalogados no local. A quantidade representa o que a ONG registrou no Porto de São Sebastião, em São Paulo, entre os meados de 2022 e 2023.
“Em um mês, o Mathias conseguiu bater o que a gente conseguiu registrar em um ano no litoral norte de São Paulo. Ele catalogou 500 materiais o que a nossa equipe da Ecomove registrou em um ano no Porto de São Sebastião”. Alguns materiais encontrados, conforme o ambientalista, são produtos corrosivos, altamente tóxicos e danosos a vida de animais marinhos e de quem manipula os objetos.
“Um produto para fazer limpeza de um navio não é o mesmo que se usa em casa. Existe toda uma química específica para isso”, explicou. O coordenador da Ecomov afirmou ainda que a diversidade dos materiais encontrados na Bahia está associada ao que se consome dentro de um navio, que é alimentação, material de informática, produtos de beleza e higiene pessoal, fora produtos que têm alto índice de contaminação.
“Essas identificações são iguais as mesmas marcas e materiais em todo o Brasil. Estou falando do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte. A gente está trazendo universidades desses estados para darem sequencia a esses estudos”.
A pesquisadora do Núcleo de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Suzana Suzana Más Rosa, afirmou que o projeto será objeto de estudo para o desenvolvimento de pesquisa científica sobre os resíduos retirados das praias.
“Assim podemos comprovar cientificamente e divulgar o que está sendo encontrado na região”, explicou a pesquisadora, que também atua como coordenadora da Câmara de Resíduos do Painel Salvador Mudança do Clima.
De acordo com Suzana Rosa, o projeto também vai ajudar o grupo a encontrar parceiros na luta pela limpeza da praia e solução dos problemas. “Vamos ajudar a conectá-lo com outros pesquisadores, startups que desenvolvem projetos e ações com transformação e aproveitamento de resíduos, poder público, patrocinadores e outros apoiadores”, afirmou.
Cenário nacional e soluções
No Pará, de acordo com Rodrigo Brandão Azambuja, a Ecomov registrou ocorrências de resíduos que chegam aos mangues e param nas dunas. “É um problema bem complicado, porque não se tem uma fiscalização direta”, desabafou.
O ambientalista explicou que existe um “abismo” entre a lei federal, que são três legislações que tratam da água de lastro, resíduos poluentes e orgânicos, e a lei internacional que a convenção Marpol 73 e 78, que é instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“O que aponta o resíduo internacional é a falta de fiscalização e de obrigatoriedade de contratações de serviços de limpeza nos portos dos países. O que a gente têm nos portos de São Paulo são os mesmos problemas que acontecem na Bahia”.
O coordenador da Ecomov afirma que não se tem uma fiscalização mais rígida, um protocolo e estudo do porto de origem e desembarque da embarcação no Brasil. “Não sabemos, por exemplo, quanto tempo o navio ficou em alto mar até entrar no Porto para embarcar e desembarcar as mercadorias”, disse.
Segundo Azambuja, os órgãos não tem recurso para ir ao alto mar diariamente fazer a fiscalização. “A melhor medida que foi entendida pelo MP-SP e está servindo de modelo para a gente entrar no MP-BA é a obrigatoriedade do fiscal ou autoridade portuária de contratar um serviço para retirar 100% dos resíduos quando o navio chega do porto de fora”, apontou o ambientalista. “Isso é feito na Holanda, nos Estados Unidos, em vários lugares do mundo, mas não aqui”, enfatizou. G1