(Leonado Rattes/Sesab)

A vacinação contra a covid-19 poderia estar melhor na Bahia. Um dos motivos é que há pessoas que não completaram o esquema de imunização, que prevê a aplicação das duas doses na maioria das vacinas disponíveis. Ao todo, 84.942 baianos estão com a segunda dose em atraso, de acordo com dados fornecidos pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Dessas mais de 84 mil pessoas, 73.449 estão com a chinesa CoronaVac atrasada. O intervalo para aplicação da mesma, segundo a fabricante, é de 28 dias.

Outros 11.493 baianos estão com a inglesa Oxford/AstraZeneca fora do prazo estipulado, que é de três meses. Em Salvador, são quase 22 mil pessoas nesta situação. De acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), são 9.467 soteropolitanos com a vacina da Oxford/AstraZeneca em atraso e 12.486 da CoronaVac. A epidemiologista Glória Teixeira explica que a vacina só tem a eficácia garantida se as datas de aplicação previstas forem cumpridas. “A primeira dose até dá uma certa proteção, mas é menor. A proteção completa mesmo é só com as duas doses”, alerta.

Ela afirma que não se sabe ainda quantos dias em atraso é possível existir para que não afete a imunização. “Se o atraso for de um, três dias ou uma semana, não é tão grave. Mas, se a pessoa esquecer de tomar a segunda dose, temos um problema, porque as vacinas são novas e não temos estudos para medir os anticorpos depois de x dias de atraso. O que a fabricante garante é a eficácia naquele intervalo, que precisa ser cumprido”, reforça.

Já a imunologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Bahia), Claudia Brodskyn, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), tranquiliza: o atraso não é motivo de preocupação, contanto que o indivíduo tome as duas doses. “São necessárias as duas vacinas, porque, quando a gente faz o estudo, tentamos ver qual o melhor efeito do imunizante e quanto tempo de intervalo entre as doses. Não é uma coisa crítica se houver atraso de quinze dias, um mês, ou dois meses. O que não pode é atrasar mais de um ano e o importante é que a pessoa receba as duas vacinas”, explica.

Coletivo

Cláudia defende que não é a eficácia individual que deve ser levada em conta, e sim a de toda a população. “A vacina não é uma proteção individual, mas populacional, por isso que é preciso que se tenha o maior número de pessoas vacinadas, para termos mais chances de ficar livre do vírus, com menos pessoas com casos graves e não ter tanta pressão no sistema de saúde. O espaçamento maior entre as doses não traz maiores consequências, o importante é sensibilizar a resposta imune, com a primeira dose, e fazer a dose de reforço, para que tenhamos mais condições de atuar contra ao patógenos”, detalha a pesquisadora.

A epidemiologista Glória Teixeira sugere ainda que seria imprescindível entrar em contato com as pessoas que estão com as doses em atraso. Na capital baiana, por exemplo, de acordo com a subcoordenadora de Doenças Imunopreveníveis, Doiane Lemos, da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), isso já foi feito.

“Fizemos essa busca ativa com os agentes comunitários e os agentes de endemia, mandamos mensagem de texto para as pessoas, como forma de lembrete, para que elas verifiquem no seu cartão de vacinação a data de comparecimento e busquem os pontos de vacinação de segunda dose, seja de CoronaVac ou Oxford, porque essa é a forma que a gente pode assegurar que as pessoas estarão imunizadas, uma vez que completam o esquema de vacinação”, assegura Doiane.

O Ministério da Saúde (MS) também comentou, em nota, a importância de todos os brasileiros completarem o esquema vacinal “para que o caráter pandêmico da doença seja superado”.  No Brasil, são 3,5 milhões de pessoas que não tomaram a segunda dose da vacina. O órgão também recomendou que os estados e municípios façam uma busca ativa da população-alvo.

Vacinados

A Bahia soma 5.416.576 pessoas vacinadas com a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus, enquanto 1.977.031 receberam a segunda dose, ou seja, estão completamente imunizados. Outros 208.374 receberam a Janssen, vacina de dose única. Dessa forma, temos 50,4% da população alvo (acima de 18 anos) com uma dose e 36,5% com as duas doses.

Já Salvador tem 1.630.511 pessoas vacinadas, sendo 1.196.223 da primeira dose e 434.288 com a segunda. Isso equivale a 56,5% e 15% do total da população alvo, respectivamente. As autoridades de saúde indicam que, para haver controle da doença, é preciso que, pelo menos, 60% da população esteja vacinada com as duas doses.

A maioria dos vacinados na capital baiana é do sexo feminino (60%), de cor preta e parda (59%) e com idade entre 50 e 59 anos (19,7%). O dia em que mais foram aplicadas doses da vacina foi em 1º de julho – 37.296 imunizados. Já o pior foi uma semana depois, no dia 8 de julho, quando apenas 758 soteropolitanos foram vacinados.

Até sexta-feira (9), quando a Bahia recebeu a última remessa de vacinas, o total de doses recebidas pelo estado através do Ministério da Saúde ficou em 9.333.930 imunizantes, sendo 3.422.000 da CoronaVac, 4.698.900 da AstraZeneca/Oxford, 958.230 da Pfizer e 254.800 da Janssen. (Correio da Bahia)