Literalmente, todos os dias a internet entra em um novo debate e o mundo virtual se divide em dois. Uma das polêmicas mais recentes é o uso da máscara do ator Fábio Assunção durante o Carnaval. O galã da Globo, que sofre de dependência química, tem sido alvo de memes e piadas.

No mês passado, a banda baiana La Fúria lançou uma música que leva o nome do ator: “Hoje eu vou ficar loucão (…)/ Hoje eu vou virar/ O Fábio Assunção”, diz um trecho. Em acordo com o grupo, o artista decidiu doar todo o valor arrecadado com a música a instituições que cuidam de dependentes químicos.

Na Barra, ambulantes vendem máscaras de Fábio Assunção por dez reais(foto: Roberto Midlej)

De um lado da polêmica, estão os foliões que consideram a máscara apenas uma “brincadeira”; do outro, estão internautas que se opõem à “zoação” e afirmam que não se deve brincar com a saúde alheia, afinal, dependência química é uma doença.

Para a psiquiatra e psicanalista Miriam Gorender, 59 anos, as máscaras de Fábio Assunção refletem o preconceito da sociedade contra dependentes químicos. “Existe uma noção de que a dependência é uma falha moral e, por isso, não é vista como uma doença. Mas, de fato, é, e tem possibilidade de tratamento”, observa Miriam.

A psicanalista observa ainda que, tradicionalmente, a figura do bêbado é ligada à comicidade. “Essa forma como as pessoas lidam com o caso de Fábio Assunção é o que chamamos de psicofobia: preconceito contra a doença e o doente mental”.

O ator em um vídeo em que se compromete a doar o valor arrecadado com a música

Carnaval
Ontem à tarde, na Barra, a reportagem não encontrou foliões usando a máscara, mas havia alguns vendedores que as disponibilizavam. Naiane Souza, ambulante que vendia a máscara por R$ 10, diz que não vê problemas: “Acho legal e acho que é só uma brincadeira mesmo”.

Questionada sobre as consequências que a brincadeira pode trazer para o ator, Daniela Nunes, também ambulante que vende a máscara, reflete: “Se a gente pensar no ponto de vista de Fábio Assunção e no que ele passou, é errado [usar a máscara]”.

O vendedor Gilson Moraes, que veio de Recife para atuar como ambulante no Carnaval de Salvador, lamenta não ter conseguido as máscaras do ator com seu fornecedor de acessórios: “O que tem vendido mais entre as coisas que eu tenho é o cocar colorido. Mas sempre procuram a máscara de Fábio Assunção. Lá em Recife não estavam falando muito disso, mas quando cheguei aqui, vi que muita gente estava interessada. Tem muito homem e mulher procurando. Perdi a chance de ganhar dinheiro”.

Lembrado pelo repórter sobre as críticas ao uso da máscara, Gilson comenta: “Eu sei que é um negócio polêmico. Mas tenho a impressão de que é o problema que procura Fábio Assunção”. Nos últimos anos, o ator foi detido duas vezes: uma em Arcoverde, em Pernambuco, por causa de uma briga, e outra, em São Paulo ao recusar-se a fazer teste de bafômetro após um acidente.

Na avenida, muitos foliões condenavam o uso da máscara. A enfermeira Lisandra Pacheco, 38, era uma delas: “Já recebi memes e vídeos de Fábio Assunção, mas não os repasso. Acho que dependência é um assunto muito sério e não pode ser tratado como brincadeira”, afirma a foliã, que estava fantasiada de Minnie.

Priscila Albuquerque, também enfermeira, 33, concorda com a amiga Lisandra: “Não gosto e não repasso. Não concordo com essa ideia de ‘ligar o modo Fábio Assunção’ e não acho que seja uma forma bacana de dizer que vai extravasar. Dependência é doença”.

Mobilização
Na internet, artistas saíram em defesa de Fábio Assunção. Uma delas foi Tatá Werneck, no Instagram. “Usar máscara de alguém que está sofrendo e precisa de ajuda no Carnaval é nojento. Vamos ter empatia, respeito”.

Na época do lançamento da música, Maria Ribeiro, ex-namorada do ator, saiu em defesa dele: “Nesses tempos tão tristes em que todo mundo tem assessor pra tudo (…), Fábio Assunção vem e quebra tudo ao falar abertamente sobre sua história”, escreveu a atriz.

Informações do Correio da Bahia