Foto: Alan Santos/PR

O MDB retornou das catacumbas para certo protagonismo na cena política nacional. A referência ao ex-presidente Michel Temer é indireta. O partido mais representativo da redemocratização estava longe dos holofotes há algum tempo no plano federal e estadual e, quase que ao mesmo tempo, retomou espaço no noticiário e nas atenções. Em Brasília, Temer foi o “escritor fantasma” da carta de Jair Bolsonaro. Na Bahia, os bastidores trazem a informação de que o MDB é cotado para migrar para o apoio à candidatura de Jaques Wagner, enquanto ainda conversa com a base política de ACM Neto, do lado oposto. É a volta dos que não foram.

Temer reapareceu como o salvador da lavoura, em meio ao caos instalado nas relações políticas federais. Foi necessário até dar entrevistas para garantir que não seria candidato nas eleições em 2022, como se fosse uma possibilidade tangível ver o ex-presidente retornando ao Planalto por meio do voto. Apesar do excelente trânsito com os pares, é de conhecimento público que o emedebista nunca foi bom de voto o suficiente para o Executivo. Porém, com o contexto de que Jair Bolsonaro chegou ao poder, até mesmo Temer parece ser uma boia menos ruim para o país.

Enquanto o MDB nacional surfava na onda otimista de um dos seus principais caciques apresentado como herói, na Bahia o partido acabou expondo uma fratura entre os caciques locais. De um lado, os que defendem o embarque imediato no projeto político do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), parceiro do partido desde 2012. Do outro, quem prefere cozinhar em banho-maria essa relação para barganhar mais espaço em qualquer um dos lados para o qual resolver migrar – o que inclui a possibilidade de refazer a antiga aliança com Jaques Wagner (PT). O MDB se tornou o centro clássico da política brasileira e também um dos mais camaleônicos entre os grandes partidos. Tanto que é governo independente de quem esteja no poder há mais tempo que o “novo centrão”, hoje liderado pelo Progressistas.

Entre os baianos, o morde e assopra segue intenso. O problema é que por essas bandas estão todos bem vacinados e sabem que, apesar da representatividade histórica e nacional, o MDB daqui pode trazer mais ônus do que bônus. É preciso colocar na balança até que ponto vale ter a imagem associada ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso no escândalo do bunker, lá em 2017, e recém libertado por uma progressão de regime. Como tanto ACM Neto quanto Jaques Wagner conhecem a gula e as garras dos emedebistas locais, ambos sabem que não tê-los como inimigos pode ser uma vantagem, ainda que não os queiram como grandes amigos.

Ao que parece, a política brasileira encontrou a cura para o vírus dos partidos mortos-vivos. Foi assim com o DEM, está acontecendo agora com o MDB e o PSDB torce para que o mesmo aconteça. O apocalipse zumbi segue em curso no país e as catacumbas foram abertas. Podemos até não acreditar em vampiros, mas os emedebistas parecem bastante com esses monstros da literatura… Por Fernando Duarte/BN