Dos cerca de R$ 54 bilhões que a indústria baiana produz anualmente, 15% vem de Salvador — cerca de R$ 8 bilhões. A capital baiana é responsável, atualmente, por um resultado que só fica atrás do apresentado pelo município de Camaçari (18%), na região metropolitana da capital, que tem o polo industrial, mas já figura à frente de São Francisco do Conde (13%), onde está instalada a Refinaria Landulpho Alves.

Quando o assunto é economia, a capital é sinônimo de comércio e serviços, cujo setor responde por 85% das riquezas produzidas na cidade. Os outros 15% vêm da indústria. A cidade não concentra estruturas gigantes de plantas industriais, como outros municípios baianos, mas o resultado da produção coloca a cidade na vice-liderança em resultado econômico no estado. Das 1.740 fábricas existentes em Salvador, 53% têm menos de nove funcionários e 34% têm entre 10 e 49 empregados.

Uma dessas empresas fica em um prédio sem nome no bairro do Imbuí, de onde sai um dos produtos preferidos de um estilo de vida mais saudável: o açaí. Com 30 anos no mercado, a fábrica já alcançou resultados que nem os donos imaginavam. O empresário José Vitorino Santos Filho explica que eles começaram vendendo lanches naturais na praia.

“Nós começamos vendendo lanche natural na praia, compramos um trailer, depois eu acabei conhecendo o Açaí, fui ao Rio de Janeiro, busquei fornecedores, e trouxe o produto aqui para a Bahia”, conta o empresário. A empresa tem, atualmente, 30 funcionários, que trabalham da produção à venda nas quatros lojas da fábrica. A produção atual é de 1,5 litros de açaí por semana, volume que, na alta estação, chega a 2,5 mil litros por semana.

O empresário diz que a crise econômica que vem atingindo o país nos últimos anos trouxe desafio, mas que a empresa está otimista e trabalhando na expansão do negócio. “Através de franquias ou distribuição para outros pontos de venda”, destaca.

Mix industrial e associativismo

A produção de riquezas através da indústria em Salvador é resultado do trabalho de diferentes segmentos. No mix industrial da cidade, se destacam as empresas de construção e infraestrutura (426 unidades), as fábricas de alimentos (259), de manutenção e instalação de máquinas (196) e as de confecções (185 unidades).

No bairro do Uruguai, fica localizado a Bahia Têxtil, um condomínio com 20 galpões que foi inaugurado em 2012, por meio de uma parceria público-privada. A área para instalação do complexo foi escolhida pela história: na região, antigas fábricas de confecções e tecidos profissionalizaram muitos moradores.

“No momento em que você está junto, dentro de um mesmo espaço, tudo fica mais fácil. Imagine um condomínio que você bate na porta da pessoa do lado e diz: ‘oh, você tem alguma coisa aí que faltou?’. É o que acontece aqui no Bahia Têxtil”, conta o empresário Loyola Neto.

A fábrica dele produz cerca de 30 mil camisetas promocionais e de uniformes leves por mês e dá emprego para 23 pessoas, a maioria da Cidade Baixa. “Estamos treinando a comunidade através de vários projetos envolvendo o governo e prefeitura, e estamos fazendo a nossa parte”, conta o empresário.

Outro empresário que atua como síndico do condomínio de fábricas, Rosaldo Alves dos Santos é dono de uma fábrica de uniformes pesados. São 20 mil peças por mês feitas com tecidos especiais e de alta segurança. A indústria emprega 57 pessoas. Como síndico, Rosaldo diz que está envolvido em um projeto que pode impulsionar ainda mais o faturamento das indústrias.

“São 16 empresários da área têxtil, onde nós vamos fazer uma central de compras. Vamos juntar as nossas demandas de compras e chamar os fornecedores: ‘oh, nós temos essa demanda aqui, que desconto você pode conceder pra gente? Quais as vantagens que você pode nos conceder pra gente comprar na sua mão’. Então, essa associação nos fortalece muito”, destaca Rosaldo. O trabalho já rendeu à Bahia Têxtil um reconhecimento do Ministério da Indústria e Comércio Exterior.

O condomínio foi considerado um Arranjo Produtivo Local (APL), certificação concedida a conjunto de empresas localizadas em um mesmo território, que atuem na mesma área, que cooperem entre si e mantenham investimento em aprendizagem. É o associativismo que surpreende e traz frutos para a economia de Salvador. “O futuro só inovação, só sustentabilidade, só responsabilidade social. Aí, sim, eu acredito que esse produto, ele vai servir muito mais para a sociedade e para o consumidor”, conclui Loyola Neto. G1