Sabe aquele Messi que nos acostumamos a ver pela TV, com golaços, dribles, arrancadas impressionantes e jogadas geniais? Ele não veio ao Brasil. Apesar de alguns lampejos aqui e ali, como na semifinal no Mineirão, o camisa 10 esteve longe de seu melhor nível. Mas esta Copa América nos apresentou uma nova versão do craque, que aos amantes do futebol vale pouco, mas que importa muito aos argentinos.

Este novo Messi, de 32 anos recém-completos, mostra aquilo que seus compatriotas pediam a ele há tempos: “huevos”. A tradução livre da palavra, ovos, não ajuda a explicá-la. Ter “huevos” é detonar a Conmebol e a arbitragem, é dar carrinho no campo de defesa para recuperar a bola no clássico contra o Brasil, é peitar Medel após disputa de bola no clássico contra o Chile.

Aqui não se discute se Messi tem ou não razão no que disse, se merecia ou não a expulsão, mas a simbologia por trás de suas atitudes. O lado inflamável do craque logo fez os argentinos se lembrarem de outro camisa 10 legendário… Três anos depois do vice nos Estados Unidos, Messi se despede de outra Copa América sem o título. Mas, dessa vez, muito mais conectado à camisa alviceleste.

Se em 2016 ele ficou marcado pelo pênalti perdido na final contra o Chile e a decisão de se aposentar da seleção, agora a imagem que fica é outra. Talvez a cena mais emblemática do atacante nesta Copa não tenha sido com a bola nos pés, mas antes do jogo contra a Venezuela, pelas quartas de final. A plenos pulmões, ele cantou o hino da Argentina, encerrando uma polêmica de longa data em seu país.

Acompanhar Messi por esses 28 dias no Brasil também me permitiu desconstruir preconceitos que tinha em relação ao craque. O principal deles é o da falta de liderança.

Quando o clima era dos piores, após a derrota na estreia para a Colômbia, foi ele quem deu a cara à tapa depois do jogo. Também foi o camisa 10 quem comandou a lavagem de roupa suja do elenco com o técnico Lionel Scaloni antes do jogo contra o Paraguai. E não houve um jogador que não exaltasse a importância do craque no vestiário, animando e orientando os mais jovens.

Além disso, é inegável a sua liderança técnica. O melhor jogo do astro argentino foi justamente aquele em que a seleção mais precisou dele, contra o Brasil.

Não espere de Messi atitudes como as de Cristiano Ronaldo antes de disputa de pênaltis na Euro-2016, quando foi incentivando um a um seus companheiros em campo, acompanhado de perto por uma câmera. Porém, o fato de exercer uma liderança diferente da do português não quer dizer que ele não seja um líder.

Segue o jejum de títulos da Argentina, que já dura 26 anos, mas há motivos para olhar para o futuro da seleção com esperança. Apesar da incerteza sobre a permanência de Lionel Scaloni em 2020, uma renovação foi iniciada, com a saída de medalhões e a chegada de jovens que corresponderam bem.

Messi precisa estar à frente dessa nova geração e parece ter se dado conta disso. Ver o camisa 10 se tornar ainda mais argentino foi a maior conquista da seleção alviceleste nesta Copa América. Goboesporte